Lisboa - O angolano e professor de Política Comparada na Universidade de Oxford Ricardo Soares de Oliveira considerou hoje que Angola vive "numa atmosfera volátil" e que "basta apenas uma pequena fricção para começar um fogo".

Fonte: Lusa

Num artigo publicado na edição electrónica da conceituada revista de Relações Internacionais 'Foreign Affairs', Soares de Oliveira traça um retrato negro dos últimos anos de Angola e diz que a descida dos preços do petróleo evidenciou as fragilidades do regime liderado por José Eduardo dos Santos há décadas, visivelmente afectado pelos protestos.


"Apesar das muitas analogias com a 'Primavera Árabe', seria uma tolice desvalorizar o poder do regime de Dos Santos", diz o autor, explicando que "o MPLA é uma máquina formidável que ainda está relativa coesa" e lembrando que "o orçamento do sector da segurança em Angola é maior do que o da Nigéria e África do Sul combinados, e as forças armadas, serviços de inteligência e a polícia continuam leais ao Presidente".

 

Só que, escreve, "o exagero nas reacções do regime às aparentemente inócuas e pacíficas formas de protesto sugere que está mesmo com receio de perder o controlo", não tanto do ponto de vista político, mas sim do apoio popular, celebrizado pelos 15 activistas que foram presos em Junho e que ainda aguardam julgamento.

 

No artigo que passa em revista a dependência de Angola das receitas do petróleo e que critica a "oportunidade perdida de proporções monumentais" para se usar esses fundos para desenvolver o país, Soares de Oliveira afirma que desde 2002, "os fundos estatais foram esbanjados em projectos sem sentido ou açambarcados por poucos, ao passo que a maioria dos angolanos ficou sem nada".

 

Por isso, conclui, "à medida que esses cidadãos acordam dos seus sonhos de petro-prosperidade para tempos mais duros, a questão essencial é saber para onde irá a sua insatisfação, especialmente agora que os recursos do Estado para 'subornar' os descontentes estão a esvair-se".