Whindhoek - Em Maio de  2005, reunimos num dos hotéis de Pretoria com duas  personalidades da política africana  com quem analisamos  a situação político ou militar da Guine Bissau. Eram os economistas,  Filomeno Vieira Lopes, de Angola e  Helder Vaz, o ex Ministro da Economia Guinense que agora exerce funções de DG da CPLP.

Fonte: Club-k.net 

As analises focaram as conseqüências negativas dos ultimos  Golpes de Estados, o processo democrático  e o papel da política externa angolana em África. Neste dia  algo importante  aconteceu, o Presidente deposto  Kumba Yala acabava de regressar a Bissau vindo  do exílio. A Guine-Bissau atravessava momentos de incertezas. Helder Vaz premeditava, que a influencia que a diplomacia angolana estava a exercer  nos grandes lagos poderia jogar papel importante para o retorno normalidade constitucional no seu país. 
 

Volvidos três anos, são observados registros de iniciativas, por parte de Angola, que vão ao encontro ao  desiderato de Helder Vaz. A 15 de Junho de 2008, segundo o "AM inteligence@, o Presidente João Bernardo “Nino” Vieira viajou a Luanda num avião posto a disposição pelas autoridades angolanas na qual fazia-se acompanhar da esposa Isabel Vieira e de dois conselheiros, Manuel Santos e João Cardoso, o director do seu Gabinete. Dois dias antes chegou discretamente a Luanda via Lisboa, Baptista Tagme Na Wae, o Chefe de Estado Maior das forças armadas da Guine-Bissau. A deslocação das duas personalidades a Luanda enquadrava-se  a uma iniciativa discreta do Presidente José Eduardo dos Santos destinada a promover um compromisso mutuo entre ambas as partes para a  estabilidade da situação político-militar na Guine-Bissau provocadas pelas circunstâncias descritas nas linhas que se seguem.
 
RESERVAS  ENTRE “NINO” E TAGME
 
Em meados de 1998, quando o brigadeiro Ansumane Mané derrubou “Nino” Vieira  do poder em retaliação a sua destituição do cargo de CEMFA, este oficial superior tinha a seu lado, Tagme na Wae, um importante combatente da luta contra o regime colonial. Tagme jurara vingar-se de “Nino”  pelas  torturas que foi submetido durante o seu regime.  Eram reservas  desde a época, em que  Nino  travava uma luta contra a ascensão militar dos balantas, etnia maioritária de que Tagme Na Waie fazia parte. Realizaram-se eleições e em 2002 Ansumane Mané foi abatido pelas forças governamentais  sob acusação de tentar derrubar o governo de Kumba Yala. Em seu  lugar entrou Veríssimo Correa Seabra que seria  assassinato em Outubro de 2004  na seqüência de descontentamento de militares que reivindicavam atraso no pagamento de subsídios resultados de uma participação de paz pelas  Nações Unidas. Tagme Na Waie se tornaria, no novo chefe militar.
 
“Nino” Vieira forçado ao exílio de 6 anos em Portugal  manifestou interesse de voltar ao país. O regresso dependeu  de conversações com o Chefe militar, Tagme Na Waie sob mediação  do Ministro da defesa, Helder Proença que convenceu Tagme a por o passado de parte. Proença promoveu  quatros encontros secretos entre “Nino”  e Tagme ocorridos na Cronacry de que resultara a entrada ao país do ex Presidente, sem que o então poder político tivesse conhecimento. (O helicóptero que o transportou invadiu o espaço aéreo guineense). "Nino" participou nas eleições por arranjos constituiçionais (A lei constitucional guineense não permite, que um ex presidente que renuncia o poder,  volta ao cargo num espaço inferior a 10 anos). Saiu vencedor  e reconduziu Tagme Na Waie como CEM das forças  armadas. 
 
De La para Ca,  Tagme Na Waie vinha exercendo um poder paralelo. Em 2007, deu prazo de duas horas a Nino Vieira para que demitisse Baciro Dabó de conselheiro presidencial para assuntos da segurança ao que teve êxito. Tagme nomeou nesta altura, um Major, Zé Preto como novo comandante do Batalhão Presidencial e  proibiu a entrada de Baciro Dabó nas instalações da Presidência da República. Baciro Dabó que é o actual  Ministro da administração interna é dentro da nomenclatura, o  quadro  da segurança cobiçado por todos que ascendem a presidência. Conhece “os podres” de todos os antecessores chefes de Estado guineense razão pela sobrevive em todos os governos porque todos o querem.

A figura do General Tagme Na Waie passou a ser conotada  ao narcotráfico.  Baciro Dabó, chegou a designar o seu grupo por “barões da droga e lacaios dos colombianos”. As conotações a Tagme  alastraram-se depois de  lhe terem identificado repentina  acumulação de fortunas que iam ao desencontro do seu salário.  “Nino” Vieira, o presidente declarou combate ao narcotráfico estava afectar negativamente a imagem da Guine Bissau em meios internacionais. Verificou-se fricção entre as duas partes traduzidas em falta de confiança mutua.
 
Em Novembro do ano passado, soldados de baixa patente atacaram a casa de “Nino” Vieira, acção condenada pelos populares e pelas chefias militares. No inicio do corrente ano, o General Tagme Na Waie que adotará nova conduta intercalando os locais para passar a noite,  queixou que foi alvo de disparos a rajada pela guarda de “Nino” Vieira  quando passava, de noite, nas mediações da presidência. O incidente  teria sido provocado pelos “agüentas”, milícias recentemente recrutadas e  que serviram “Nino” no passado. Tagme considerava que os “aguentas” estavam a margem da lei.  Desarmou-os  e substituiu a guarda presidencial por militares leais a si.

Leituras pertinentes apontam que Tagme Na Waie vinha emitindo  sinais de ir para reforma (mas de forma condigna) razão pela qual  deslocou-se, em Junho, a Luanda cujo tema focou o assunto. O Presidente “Nino”, conforme se diz em círculos políticos em Bissau pretendia  indicar, como seu substituto, o contra- almirante Bubo Na Tchute, ex- CEM da Marinha mas  Tagme mostrava resistência. Na noite de 6 de Agosto de 2008, Tagme Na Wai manteve  Bubo Na Tchute sob residência vigiada na seqüência de uma acusação de pretensão de golpe de Estado.
 
INICIATIVAS DE ANGOLA PARA PAZ, INVESTIMENTO E INTELIGENCIA
 
Os problemas da Guine-Bissau  encorajou as autoridades angolanas a prestarem maior dedicação aquele país. Em finais de 2006 foi colocado em  Bissau um  embaixador plenipotenciário, António Brito Sozinho, muito próximo ao Presidente José Eduardo Dos Santos. Em pouco tempo tornou-se, o diplomata em Bissau que mais intervém nos assuntos delicados. Há embaixada angolana em Bissau  fica  localizada nas proximidades da residência  presidencial. Nas horas que procederam aos tiroteios contra a residência do Presidente “Nino” em Novembro passado, Brito Sozinho  instruiu os funcionários da missão diplomática para que acolhessem qualquer dirigente guineense que procurar-se Asilo.
 
No sentido de contribuir no reajustamento da economia ou do orçamento guineense, as autoridades angolanas criaram uma comissão bilateral Angola/Guine Bissau, co-presidida pelo General Higino Carneiro que tem a missão de acompanhar aplicação de investimentos angolanos naquele país. Há a previsão de se  investir cerca de 321 milhões de dólares norte-americanos na exploração das reservas de jazidas de  bauxite na região de Boé (sudeste), próxima da fronteira com a Guiné-Conacri. O investimento será efectuado através de uma empresa de direito angolano “Bauxite Angola”. Há também um acordo geral na qual Angola propõe-se na cooperação econômica, cientifica, cultural e técnica.
 
O exercito guineense  também é alvo das preocupações das autoridades angolanas. Prontificaram-se ajudar com um plano de reestruturação das forças armadas da Guine. Parte dos chefes militares na Guine são provenientes da luta de libertação e recusam aposentadoria  alegando razões  de subsistência na reforma.  Há também, por se resolver,  o factor étnico voltado aos balantas, a tribo conotada ao General Tagme.
 
A atenção especial  que Angola presta a Guine, estende-se para campos mais discretos. A Embaixada em Bissau,  acolhe uma “extensão” dos Serviços de Inteligência externa, dirigida pelo Coronel Carlos Costa cuja missão é a de manter informado o Presidente José Eduardo dos Santos sobre a situação daquele país.  
 
A Embaixada de Angola também ganhou interesse da “mass media”  nos dias que seguiram as  tragédias em Bissau, nos dias 1 e 2 de Março. Nas horas que se seguiram a explosão da  bomba que causou a morte do General Tagme, o Presidente Nino Vieira reuniu em emergência na  sua residência  com os chefes militares do exercito e o Ministro da Defesa, Artur Silva. O primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, convocado ao encontro recusara comparecer suspeitando trata-se de um complô destinado a sua neutralização. Por volta das 3-4h, uma brigada de para comandos dirigida por um major, Tchamo, dirigiu-se a Rua de Angola onde morava o presidente guineense. Cercaram a  residência  fazendo tiros contra a mesma, em retaliação ao sucedido a Tagme Na Waie de que eram fieis. Os cerca de 4 ou 5 seguranças da presidência  fugiram. Invadiram  a residência e assassinaram  o  Presidente “Nino”. A esposa,  Isabel Romano Vieira, sobreviveu aos ataques e mais tarde acolhida nas instalações da embaixada angolana.
 
LIGAÇÕES AO NARCOTRAFICO

O General Tagme repetia  que o seu destino e de “Nino” estavam ligados e que se ele morresse, “Nino” também morreria. Uma versão de meios de “inteligência” guineense, apresenta ambos como principais impulsionadores do narcotráfico nas chefias militares. A relação de "Nino" com o trafico da droga mereceu percepção alargada em Abril de 2007, quando intercedeu a favor da  libertação do filho mais velho do falecido Presidente  Lansana Conté, seu aliado que foi detido na Guiné-Bissau, quando viajava numa avioneta com 840 quilos de cocaína.

De acordo com esta  versão, de “fontes fechadas”,  a crispação que apoquentava os dois homens fortes da Guine-Bissau estava  ligada ao destino “desconhecido” que foi dado a uma mercadoria que estava dentro de um Fokker, com matrícula venezuelana, aprendido em Julho do ano passado no aeroporto de Bissau, suspeito de transportar 500 quilogramas de cocaína.
 Na altura a  carga do avião foi retirada por militares, que garantiram tratar-se de medicamentos. Houve um processo judicial para apurar quem estava por detrás da mercadoria mas por motivos desconhecidos, a  Procuradoria-Geral da República acabou por arquivar o processo alegando  falta de provas.

Segundo a analises/conclusões  de inteligência, a bomba que explodiu no Gabinete do General Tagme serviria para afastá-lo do “circulo” e por sua vez, a retaliação ao Presidente “Nino” serviria  para um terceiro “grupo” (aliado a Tagme) apoderar-se da mercadoria.

Baciro Dabó, o ministro da Administração Territorial, uma das figuras do circulo presidencial  que se encontra em parte incerta desde o ataque ao Presidente tem a sua fuga associada a receios de que seja vitima de “outros” que queiram dominar o mercado ou se apoderar da disputada mercadoria.
 

*José Gama