Luanda - Dizer que Portugal nada tem a ver com o ensino em Angola, é imprudência demais da nossa parte como cidadãos e vítimas da sua âmpla estratégia sistemática que vem aplicando desde os primeiros tempos que estes se estabeleceram em Angola.

Fonte: Club-k.net

Vou cingir-me à educação, pois é o ponto que hoje quero debruçar, apesar de haver um oceano de assuntos interessantíssimos sobre o papel de Portugal no quotidiano de cada Angolano e que merecerão os seus debates no momento oportuno.

Tenho estado a assistir a uma degradação do ensino em Angola, com maior ênfase desde que começou a aplicação da tão famigerada reforma educativa. Pessoalmente, lembro-me ter manifestado o meu espanto e desagrado logo que a Sra. Professora de Metodologia do Ensino de Matemática anunciara que, a partir do ano seguinte, a nova reforma entraria em vigor e teria como uma das condições a redução considerável do número de discentes numa sala de aulas, i.e. 25 – 30 alunos numa sala.

Como futuro docente, numa das minhas aulas práticas notara que na aula de Física que tive que dar na 8a classe, uma das salas continha 78 alunos onde muitos destes mal poderiam enxergar ao quadro, com carteiras sendo ocupadas por 4 alunos, uns tantos sentados no chão. Pedagogicamente isto é negativo, mas mesmo num ambiente deste percebi que os meus concidadãos tinham realmente muita vontade de aprender e para a minha surpresa, a maior parte destes falaram que a aula tinha sido muito boa, tendo recebido cumprimentos calorosos como confirmação do próprio professor desta cadeira naquela referida escola e da minha própria Professora que também era a Directora desta mesma escola.

Tudo isto se desenrolava no ano de 2003, um ano após a morte do Dr. Savimbi e a região centro-sul do país ainda vivia e apresentava sequelas frescas da devastação da guerra.

O elevado número de estudantes naquela sala era nada menos, nada mais do que um sinal, prova de vontade e determinação que o povo tem em aprender assim como uma demonstração de democracia de que, as armas calaram-se e era tempo de arregaçar as mangas e voltar aos estudos para se munir de conhecimentos científicos para reconstruirmos o país.

Esta reforma educativa, foi o instrumento mais efectivo que Portugal mais uma vez se serviu para manter Angola no seu quase imutável status quo, partindo por infestar a formação e educação do Angolano pelo que a sua activação não foi mera coincidência no momento em que o povo ja tinha tempo para se dedicar aos estudos.

Corrijam-me se eu estiver errado, mas digo sem sombras de dúvida que o ensino em Angola tinha mais qualidade no tempo da guerra do que depois dela. O ensino em Angola tinha mais qualidade no tempo do colono do que nos dias de hoje, mesmo quando o colonialista permitia os nossos avós/pais que estudassem apenas até ao quarto ano. Por isso, vem a pergunta interessante: O porque desta degradação no tempo de paz?

Na minha modéstia óptica, uma Angola com Angolanos altamente qualificados seria um pesadelo para Portugal, pois seria obrigada a lidar com homens bem munidos de capacidade analógica, científica e que estariam a gozar uma verdadeira independência assim como estaremos capacitados em questionar e avaliarmos o que realmente ganhamos ou perdemos em manter as relações com Portugal no nível que estão.

Portugal beneficia-se muito com a mediocridade do ensino em Angola, pois assim mantém um grande pretexto para exportar as suas dificuldades para Angola e dela receber elevadíssimos fundos em valores monetários reais.

Ora vejamos uma das provas que não remonta de um passado distante. Quando há menos de uma década Portugal viu-se obrigado a juntar-se a cúpula dos PIIGS (Portugal, Ireland, Italy, Greece and Spain), Angola foi usada como a bioa de salvação, tendo mais uma vez de forma sistemática aplicada a sua estratégia, exportando para Angola e em massa não só cozinheiros, pedreiros, pintores, motoristas electricistas assim como uns poucos Engenheiros com o pretexto de que, Angola não tem homens qualificados, Angolanos não sabemos nada por isso devemos aceitar que os qualifados façam o que nós não conseguimos e pagamo- los na classe dos 5 dígitos, em EUROS a serem pagos nas contas deles em Portugal através dos seus bancos representados em Angola que são a maioria.

Portugal como grande estreia da cúpula dos PIIGS, foi o país que menos dívida tinha contraído ao Banco Central Europeu e foi o primeiro do grupo a saldar as suas contas e ainda deu-se ao luxo de comprar dois submarinos de guerra de classe Trident o que resultou num processo crime que ainda está sendo investigado envolvendo altos digintes do Governo Português e o célebre Banco Espirito Santo (de Angola?), o que resultou deste Banco só é informação para quem não é Angolano.

Portugal nunca esteve, não está, nem creio que amanhã estará interessado numa verdade educação dos Angolanos em Angola. Irrefutáveis factos que provam esta minha declaração não me carecem e com certeza, os mais velhos e muitos dirigentes que têm sido os cúmplices desta estratégia maquiavélica também estão bem cientes disso.

Portugal tem falhado de forma propositada em criar um sistema de ensino sério, consistente e de carácter científico-tecnológico. Sabemos que os actuais manuais do ensino geral da última refoma educativa, foram editados, censurados e aprovados por especialitas-conselheiros portugueses, mas a realidade é que os conteúdos nestes manuais deixam muito a desejar.

Fazem de tudo para que Angola seja uma duplicação de Portugal em quase tudo, mas pecam impetuosamente e de forma muito bem premeditada em copiar a aplicação do sistema pelo menos na área de educação para que funcione tal como lá em Portugal. A nova divisão de classes (1o, 2o, 3o Ciclos) também é usada em Portugal, mas o curriculum académico que se aplica em cada classe correspondente à cada um destes ciclos lá em Portugal está muito além do que se aplica cá em Angola, resultando na disparidade gigantesca que se verifica nas crianças Angolas versus Portuguesas em cultura escolar, insucessos no domínio de matérias básicas como as de Ciências da natureza (matemática, físico- químicas, biologia, etc.), tecnolgias de informação, línguas estrangeiras, incluíndo o próprio Português que é tido como língua oficial no nosso país.

Numa linguagem terra-terra digo que, Portugal tem se servido do paupérimo ensino de Angola e não quer que algo melhore nem mude!