Luanda - A sessão que terminou com um momento “menos bom” entre Januário Domingos e Luís Nascimento, foi marcada pela assunção do réu de que Angola não é um Estado democrático.

*Waldney Oliveira
Fonte: Rede Angola

A última sessão no Tribunal Provincial de Luanda, no Benfica, que ouviu o réu Luaty Beirão, um dos 15+2 activistas, terminou com um momento menos bom entre a defesa e o juiz da causa. A contenda surgiu por conta da alegada afirmação de que após o derrube do governo ‘ditatorial’ se iria ‘sufocar’ e ‘executar’ pessoas próximas ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

Indignado, o advogado David Mendes solicitou ao Ministério Público que indicasse os documentos que alegavam tal afirmação, sob pena de a defesa processar aquele organismo. “Se não existirem esses documentos quero certidões para processar o Ministério Público”, disse.

O advogado de Luaty Beirão, Luís Nascimento, que fez das suas as intenções de David Mendes, e acrescentou que faria uma queixa crime junto ao DNIAC, viu a sua contestação indeferida pelo juiz, Januário Domingos José que alegou que o advogado do réu devia arguir na contestação da instrução, pelo facto de ter acompanhado o interrogatório.

Luís Nascimento contestou argumentação do meritíssimo juiz supondo que Januário Domingos tivesse “feito perder a contestação”, intenção mal encarada pelo Juiz considerando as palavras da defesa de “difamatórias e pouco urbana”.

Os minutos que se seguiram na sala da 14.º secção de crimes comuns do TPL, no Benfica, foram de alguma crispação entre Luís Nascimento e Januário Domingos tendo este último, de imediato, suspendido a sessão.

David Mendes, que voltou a pedir a palavra após a suspensão, solicitou ao juiz da causa que não relevasse o comportamento do seu colega, uma vez que fê-lo envolto a alguma comoção. Pedido aceite por Januário Domingos.

“Este é um processo que ainda não terminou, nós fizemos as anotações e, querendo ou não, vamos continuam com o processo. Não pode um procurador vir à público perguntar a alguém como é que iria matar o Presidente da República, se o iam enforcar ou executar”, explicou ao Rede Angola David Mendes, acrescentando que “se devia abrir um inquérito sobre isso. O que eles queriam é passar essa mensagem ao Presidente da República, confirmando que os jovens queriam matá-lo. Não cabe a um procurador, representante do Estado, vir a um processo com esse tipo de comportamento”.

David Mendes, que a cada dia que passa reafirma a sua convicção de “que tudo foi manipulado”, considera a questão colocado pelo Ministério Público uma forma de “alimentar um cenário que eles criaram para que se desse credibilidade ao que eles queriam que os réus respondessem”.

Por seu turno, Luís Nascimento afirmou ao Rede Angola que a defesa vai utilizar também a sua instância. “Isso que se levantou de maneira nenhuma figura na pronúncia. Em todo o caso, nós vamos levantar a questão novamente”.

A sessão de amanhã continua com o depoimento de Luaty Beirão à procuradora do Ministério Público, e foi ainda convocado o arguido Arante Kivuvu Lopes.