Lisboa - De acordo com uma competente diligencia, os vídeos ilegais que o Tribunal Provincial de Luanda (TPL) tem estado a  exibir inconstitucionalmente contra os famosos 17 presos políticos acusados de Golpe de Estado, foram filmados por dois jovens recrutados que dentro do aparelho de segurança do regime são geralmente tratados pelo acrônimo “PC”.

Fonte: Club-k.net

Pronuncia do Juiz  cita-o  com o falso nome de José Piedade

Durante as sessões de palestras, o “agente A” , sentava-se geralmente na segunda fila do lado esquerdo. No dia das gravações do dia 23,  ele sentou-se na terceira carteira (da segunda fila) ao lado de Hitler Tchikondi, e de   Sedrick de Carvalho (segundo da fila) permitindo-lhe, assim,  estar a frente de Luaty Beirão e Domingos da Cruz. Já o “agente B”, sentava-se na última carteira detrás, da segunda fila do lado esquerdo (ler detalhe mais a frente)

 

Do grupo dos activistas que assistiram as sessões de palestras, os dois agentes infiltrados destacavam-se por nunca se fazerem ausente, mas também pouco opinavam  nas discussões. Apenas um deles que se apresentou com o nome adulterado de “Valdmiro da Piedade” (na foto), fez um “comentário”, no dia 23 de Maio, levando com que as autoridades editassem o vídeo por si gravado procedendo os devidos cortes antes de apresentarem as gravações em Tribunal, para que ele  não fosse reconhecido. 

 

No dia em que foram detidos “Valdmiro da Piedade”, teria acertado chegar a livraria Kiazeke, na Vila-Alice (onde realizavam os debates) com Nito Alves mas "falhou"  invocando contratempo.  Antes de chegar a livraria onde se reuniam, aos sábados, Valdmiro, a partir do seu local impreciso,  telefonou consecutivamente para Albano   Bingo, Nilto Alves e Arante Kivuvu querendo saber se já se encontravam no espaço dos debates.  

 

Por outro lado, quando (Nito, Bingo e Kivuvu) chegaram ao local acharam estranho quando se aperceberam que “Valdmiro da Piedade” que os havia telefonado para saber se estavam ou não a caminho da palestra,   nem sequer tinha chegado ao local. Eles acabaram por chegar primeiro do que ele.

 

Quando “Valdmiro Piedade” chegou a livraria disse aos amigos que se atrasou porque teve um acidente, nos lados da FTU, sem, no entanto, se ter feito  explicar as circunstâncias do suposto   acidente, uma vez que a sua viatura (Toyota azul, vulgo rabo de pato), não trazia sinais de que fora acidentada.

 

Neste dia,  ele terá parqueado o seu carro, em frente ao cinema atlântico, numa zona,  um pouco distante da livraria. Quando entrou para a sala e apôs ter certificado que todos os amigos estavam presentes, “Valdmiro Piedade” alegou que iria a casa de banho fazer xixi. Passado 2 ou 5 minutos da sua ausência, os jovens viram-se cercados  por elementos do aparelho de segurança (SINSE, SIC, PIR e etc) que os comunicaram que estavam cercados e detidos.

 

Os futuros presos políticos seriam transportados por uma enorme escolta de viaturas do aparelho de segurança. Ao mesmo tempo, a viatura de “Valdmiro Piedade”, que disse aos amigos que iria fazer xixi, foi vista, na última fila da escolta policial, como se estivesse a seguir ou a fazer parte dela.

 

Tão logo que se popularizou a informação das detenções, outros membros do movimento revolucionário (que não foram presos) procuraram saber  o  que estava acontecer com os seus correligionários. Telefonaram para “Valdmiro” e este foi dizendo que nada sabia justificando que neste dia não chegou a ir ao livraria onde se realizavam as palestras.   Foi dizendo que neste dia, ficou a espera  de Nito Alves, na zona da Shoprite, na estrada de Viana, mas por causa de um suposto  desencontro entre os dois acabou por não ir mais para a palestra. Uma terceira versão que ele apresentou a outros amigos foi de que chegou até a zona do Primeiro de Maio, mas assim que se apercebeu que ocorreram detenções teve de fugir.

 

A entrada de Valdmiro no Movimento Revolucionário

 

Segundo um levantamento, “Valdmiro Piedade” entrou no Movimento Revolucionário logo após a saída de Benilson Pereira Bravo da Silva, um agente do SINSE que se encontrava igualmente infiltrado no seio destes jovens.

 

A “admissão” de “Valdmiro” aconteceu depois de ele ter criado, em 2013, uma conta fantasma na rede social facebook. Através desta conta interagiu com o grupo dizendo que era desempregado, descontente com o regime e que se  simpatizava  com a luta destes.

 

Começou por interagir com um activista que atente pela  alcunha de  “Alemão Monstro Imortal” e através deste aproximou-se a Nito Alves de quem se tornou  num suposto “grande amigo”. Como dispunha de viatura própria, apoiou sempre Nito Alves, nas suas deslocações e (a semelhança do ex- agente Benilson da Silva ), o seu nome estava sempre nas cartas que endereçavam ao Governo Provincial de Luanda (GPL), comunicando a realização de manifestação pacifica ou   vigílias na capital do país.

 

Por outro lado, ao longo destes dois anos de convivência com o grupo, alguns jovens do Movimento manifestavam reservas em torno da pessoa de “Valdmiro” pelas razões seguintes:

 

-- Sempre que realizavam manifestações, ele nunca foi preso nem tão pouco agredido pela Polícia Nacional. No momento das manifestações ficava num local ou canto distante do grupo.

 

-- O grupo impõem como principio, de que todos ou um grupo restrito deve conhecer a casa de cada um. “Valdmiro” foi o único que se recusava ou dava rodeios para mostrar a sua casa. A última vez que foi abordado sobre este assunto alegou “falta de condições” e que a casa estava ainda em obras. Contudo dizia que morava no Cazenga e que o chamado “Núcleo dos activistas do Cazenga”, conhecia  a sua morada no bairro.

 

-- Dizia que era desempregado mas também há versões de que se apresentou, ao grupo como electricista.

 

-- Sempre “rejeitou” ser fotografado. Em todas as imagens disponíveis com o grupo de activistas, ele aparece a esconder ou a virar o rosto das maquinas fotográficas. Noutras vezes usa um chapéu preto de marca adidas, que nunca tira. Certo dia foram a praia e no momento de fazerem as  fotografias ele não aceitou  tirar o chapéu da cabeça, até mesmo para entrar na água.

 

Sinais verificados no mesmo depois da detenção dos activistas: 

 

-- Logo após a detenção dos presos políticos retirou todas as suas fotografias da sua pagina  fantasma do facebook e acionou mecanismos de restrição.

 

-- Na primeira semana da detenção dos presos políticos, visitou os amigos na cadeia de Calomboloca. Um dos detidos Arante Kivuvu confrontou-lhe dizendo que tinha informações de que ele teria traído o grupo. Vladmiro  não reagiu as acusações e desde então nunca mais foi visto a visitar os amigos na cadeia.

 

-- Distanciou-se totalmente dos “revús” que estão soltos e desde então deixou de atender as chamadas telefônicas destes  supostos amigos. Há poucos dias recebeu um telefonema para uma mediação destinada a identificar o “traidor” no grupo mas recusou-se a comparecer ou fazer parte do encontro por se realizar.

 

Geralmente, Vladmiro Piedade sentava-se  no último assento  da penúltima fila do lado direito da sala, tendo ao seu lado o activista Graciano Brinco. A frente de Brinco sentava  o activista Rolim e por sua vez a frente deste ficava o actual preso político  Albano Bingo. No dia 23 de Maio, data em que foram feitas as gravações exibidas em tribunal, Graciano Brinco e Rolim não foram a palestra por falta de dinheiro para taxi. Porém, através do vídeo exibido, pelo Tribunal de Luanda,  os presos políticos puderam  também reconhecer que as gravações feitas de trás,  vinham  do lugar de Vladmiro. Na mesma gravação foi filmado Albano Bingo com a sua camisola cor vermelha. 

 

Quem é de facto “Valdmiro Piedade”?

 

De acordo com um apurado  levantamento,  trata-se de  um jovem oriundo da Polícia Nacional, na casa dos 35 anos de idade, nascido em Luanda, num dia 25 de Janeiro. Ao contrario do que transmitiu aos amigos de que vivia no Cazenga, o sujeito da historia mora, num quarto andar (Casa 401), na centralidade do Sequele (Cacuaco).

 

De entre todos os que participaram nas palestras de Domingo da Cruz, ele é o único que  o apresentam com um nome propositadamente incorrecto, na lista dos “presentes às palestras” que consta na pronuncia do Juiz Januário Domingos. Apresentam-lhe com o falso nome de “José da Piedade”, mas conservaram o seu sobrenome verdadeiro para não causar desconfiança entre os outros. Seu verdadeiro nome é: Valdemiro Gama da Piedade, portador do BI: 000230237LA016.

 

Nos documentos e comunicados do grupo tal como na sua conta fantasma no facebook, ele escreve erradamente o seu primeiro nome sem a letra “e” depois do “d”, ficando “Valdmiro.” (o nome correcto e verdadeiro  é  Valdemiro)

 

Há informações de que terá sido ele a indicar a casa de  Osvaldo Caholo. Ambos são vizinhos, na centralidade de Sequele. Valdemiro conheceu a casa de Oslvado, quando um certo   dia, foi levado para um almoço/aniversario nos aposentos daquele.

 

Osvaldo Caholo é o tenente da Força Aérea Angolana que foi preso dois dias depois da detenção do grupo. Tanto Caholo como uma outra ré  Rosa Conde,  apenas fizeram-se presente num único dia,  que foi o primeiro dia da palestra.

 

De modo a desviar as atenções, a Procuradoria da República alegou desde os primeiros momentos que a denuncia contra os jovens teria partido de um cidadão que atende pelo nome de Agatão Arante Kamati e que o iriam apresentar em Tribunal para depor.

 

De acordo com uma habilitada investigação, o referido nome é falso. Ou seja não existe, em território nacional nenhum cidadão  vivo com este nome.

 

Segundo constatação, as autoridades judiciais do regime  já previam que iriam apresentar, em  Tribunal, os trechos dos vídeos gravados ilegalmente no dia 23 de Maio  e que tem sido vazados para a TPA e TV Zimbo. No  documento de pronuncia do Juiz Januário Domingos, a sessão deste dia 23, é a única que não expõem a lista dos activistas que participaram no debate desta data.

Apenas escrevem o seguinte "a segunda sessão formativa teve lugar no dia 23 de Maio de 2015 entre as 13 e 17 horas. Entre outros, contou com a presença dos senhores: Inocêncio António de Brito; Afonso Matias t.c.p Mbanza Hamza, e Henriques Luaty Beirão".

 

Pelo que se pode verificar nos vídeos, neste dia participaram mais pessoas, incluindo o professor Domingos da Cruz que aparece ao lado de Luaty, razão pela qual julga-se que a ocultação dos restantes  nomes destinou-se a proteger os infiltrados, de forma a não serem reconhecidos.     

 

Continuação...