Luanda - O vice-governador do Huambo para o sector Político e Social, Guilherme Tuluca, é suspeito de colher dividendos com os descontos ilegais de 2% sobre os salários de base dos trabalhadores da Educação naquela província.

*Ilídio Manuel
Fonte: Club-k.net

As suspeitas remontam a época em que Guilherme Tuluca exercia o cargo de director nacional dos Recursos Humanos (RH) do Ministério da Educação, tendo as mesmas sido agora adensadas, com a forma “ortodoxa” como ele tem defendido as “ilegalidades cometidas pelo Sindicato dos Trabalhadores da Educação, Cultura, Desporto e Comunicação Social do Huambo (S.T.E.C.D.C.S.H.)”.

Fontes familiares ao assunto dizem que durante o seu longevo consulado à frente dos RH da Educação, ele pouco ou nada fez para inverter o quadro, apesar dos inúmeros protestos dos trabalhadores contra os descontos ilegais.

Criado em 2000, alegadamente à sombra do poder, o S.T.E.C.D.C.S.H. tem como presidente o professor reformado Adriano dos Santos. Fazem ainda parte da mesma outros professores todos eles reformados há mais de 5 anos, nomeadamente Bento Wambembe, Eusébio Dumba e Idalina Rosa.

Desde a sua criação, alguns elementos da direcção do S.T.E.C.D.C.S.H e arredores têm sido acusados de viverem “à grande e à francesa” com os descontos compulsivos feitos aos funcionários locais da Educação.

De acordo com denúncias do Sindicato Nacional dos Professores (Sinprof), no “esquema”, que anualmente movimenta largos milhões de kwanzas, estarão igualmente envolvidos “alguns elementos chaves das Direcções provinciais da Educação e Finanças do Huambo”.

Como resultado de tais subtracções ilegais, diz a mesma organização, mensalmente têm sido arrecadados à custa dos milhares de professores e demais trabalhadores da Educação cerca de “50 milhões de Kwanzas”, cujo montante levou ao “enriquecimento ilícito dos responsáveis do S.T.E.C.D.C.S.H. e seus familiares”.

Segundo o secretário provincial do Sinprof no planalto central, Domingos António Kalupeteka- os funcionários da Educação “não têm beneficiado dos altos montantes” que lhes são descontados, à excepção «do caixão quando morrem” ..

“ Há vários anos que prometeram construir uma clínica para os funcionários da Educação, mas até à data nada foi concretizado”, adiciona Domingos Kalupeteca.

Diz que os responsáveis do referido sindicato construíram sumptuosas casas, compraram “grandes” carros para si e seus familiares directos, bem como “subornaram directores de escolas”, com o objectivo de incentivá-los a efectuar os descontos aos trabalhadores.

A fazer ainda fé na denúncia, a organização encabeçada por Adriano dos Santos estará a acumular anualmente “mais de 5,5 milhões de dólares norte-americanos”. Do dinheiro arrecadado, uma parte terá sido usada para a “compra de consciências” dos responsáveis dessa organização nos municípios, a quem o S.T.E.C.D.C.S.H. terá oferecido em 2009 “mais de 12 viaturas Toyota Rav-4 para os seus representantes municipais e, mais recentemente, outras tantas viaturas da mesma marca, com dupla cabine”.  

No dossier que fez chegar em Maio e Junho deste ano ao governador do Huambo - ao qual o Club-K teve acesso - o Sinprof sustenta as suas acusações com fotos de algumas viaturas adquiridas supostamente com o dinheiro dos lesados.

Apesar dos elementos fornecidos que indiciam uma gestão danosa dos dinheiros dos trabalhadores da Educação, o “vice” Guilherme Tuluca não só desvalorizou as “provas do crime” apresentadas pelo Sinprof, como, pior ainda, «politizou este assunto de natureza meramente sindical”, queixa-se o sindicalista.

Apesar de Kundi Paihama ter pedido, num despacho datado de 13 de Julho deste ano, que Tuluca o informasse sobre a «realidade dos factos e a devida solução, em conformidade a legalidade”, este acabaria por desancar toda a sua fúria contra o Sinprof, chegando mesmo a conectar os responsáveis dessa organização ao partido do Galo Negro e a interesses de “países estrangeiros nórdicos e do Ocidente”.

Adriano dos Santos manda a lei às urtigas

Contrariando o Decreto Executivo n.º 72/91, de 15 de Novembro, que diz que “nenhum trabalhador pode ser obrigado a pagar quotas para o sindicato em que não esteja inscrito”, o presidente do S.T.E.C.D.C.S.H. parece apostado a fazer tábua rasa a legislação em causa.

Adriano dos Santos, que é igualmente o responsável máximo da UNTA-CS naquela província, é também acusado de usar as suas influências para “manter à força” os funcionários no sindicado em que ele é presidente.

Consta que ele e pares terão igualmente impedido o Sinprof de desenvolver as suas actividades junto às escolas, tendo inclusive industriado as direcções das mesmas a boicotar quaisquer iniciativas dessa organização sindical.  

João Baeta Malila Sense, professor do II ciclo do 6.º escalão, contactado a propósito, diz que nunca se inscreveu no S.T.E.C.D.C.S.H., mas que tem sido sofrido todos os meses de descontos de 2% (mais de 4 mil Kz) sobre o seu salário. E questiona-se sobre o destino aos montantes arrecadados.

Por sua vez, Moisés Chiyocola Capeleco, professor do 6.º escalão, com formação superior, afirma não ter aderido ao S.T.E.C.D.C.S.H., embora esteja a “sofrer descontos” contra a sua vontade. “ Não me inscrevi nessa organização, por não defender os meus interesses», insurgiu-se.

Os dois professores são de opinião que a organização dirigida por Adriano dos Santos “tem estado a beneficiar de um certo proteccionismo por parte de alguns responsáveis da governação local, pois “só assim justifica a impunidade com tem estado a agir”.

Confrontado com as acusações, Adriano dos Santos não se quis pronunciar sobre o assunto, “por orientações”, segundo ele, do seu “advogado”.