Luanda - Integra do Discurso Pronunciado por Sua Excelência José Eduardo dos Santos, durante a visita de Estado à República Portuguesa .


Sua excelência Aníbal Cavaco Silva,
Presidente da República portuguesa,
Altos Dignitários do Governo português,
Ilustres convidados,
Minhas senhoras e meus senhores,

Sr. Presidente,

Aceitei com satisfação o convite para efectuar esta visita de Estado a Portugal.

 Não pude estar na Cimeira da CPLP, que teve lugar em Lisboa em meados do ano passado e, por isso, pedi ao chefe da nossa Delegação que informasse o Sr. Presidente que viria no primeiro trimestre do presente ano apresentar-lhe pessoalmente os meus cumprimentos.

 Foi assim com agrado que esta manhã o fiz, felicitando-o pelas suas novas e elevadas funções de Chefe do Estado português.

 Coma sabe, os Angolanos nutrem um sentimento de amizade sincera pelos Portugueses.

 Esse sentimento de amizade e abertura já havia sido expresso pelo Rei do Congo à primeira comitiva portuguesa que chegou às suas terras.

 A mensagem do Povo angolano, de que somos portadores hoje, não é diferente e apraz-nos transmiti-la ao Senhor Presidente e a todos os portugueses na língua comum que herdámos do passado.

 A História ligou profundamente os Angolanos e os Portugueses, seja pela língua, valores morais e princípios éticos comuns, seja por diversas afinidades e manifestações de afecto.

 A língua portuguesa é naturalmente o maior factor de aproximação, porque facilita os contactos, a compreensão e o diálogo.

 Mas a nossa amizade e cooperação, para além da língua, assenta também na visão comum que partilhamos sobre o Futuro.

 Queremos sociedades democráticas, nações prósperas e um mundo seguro regido por uma ordem política, económica e financeira, democrática e justa.

 Foi com este sentido que entendemos a sua mediação na negociação e aplicação dos Acordos de Paz de Bicesse, que agradecemos mais uma vez.

 Assim entendemos também a contribuição decisiva que Vossa Excelência deu para a criação da CPLP, não só como espaço de concertação, cooperação, promoção e defesa dos interesses legítimos dos Países de Língua Portuguesa no mundo, mas também como um instrumento de solidariedade recíproca e de entreajuda, cujo prestígio tem vindo a aumentar no plano internacional.

 E é neste quadro que Angola manifesta-se disponível para conjugar esforços com Portugal afim de apoiar a República da Guiné-Bissau e considera urgente que sejam encontrados e levados a justiça os autores dos hediondos crimes que causaram
a morte do Presidente Nino Vieira e do Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, por forma a reestabelecer a confiança e a segurança nesse país irmão.

 Sr. Presidente,

Portugal é, de entre os membros da CPLP, o país mais antigo, com uma democracia consolidada, com elite e instituições académicas e de investigação científica que se equiparam às dos países desenvolvidos.

 Angola quer continuar a beneficiar da experiência portuguesa em vários domínios e aproveitar todas as potencialidades que a cooperação com o vosso país nos oferece.

 Estou certo de que esta minha visita constituirá mais um marco importante na identificação e exploração de novas áreas de interesse comum, em que possamos estabelecer parcerias criativas com resultados garantidos.

 Estamos abertos e disponíveis para ampliarmos a relação privilegiada que mantemos, tanto no domínio político como no económico.

 Angola é hoje um dos mais importantes parceiros económicos de Portugal e o quarto destino de todas as exportações portuguesas.

 Mesmo assim, pretendemos alargar ainda mais a cooperação nas áreas da educação, saúde, investigação científica, novas tecnologias, energia, produção alimentar, etc.

 De facto, Senhor Presidente, nestes tempos de profunda crise económica e financeira, em que se prevê a pior recessão global desde os anos 30 do século passado, e em que a inter-dependência entre os diferentes países é acentuada, temos de contar em primeiro lugar com as nossas forças e com os amigos mais seguros.

 Este é um momento difícil em que os povos vão enfrentar vários constrangimentos.

 Será ilusório pensar que cada um pode encontrar uma solução de forma isolada para debelar a crise.

 De facto, só num quadro global e com a participação de todas as Nações é que pudemos, de forma coordenada, encontrar uma solução apropriada, realista e exequível.

 Penso que devemos encarar com seriedade este mau momento, que aliás também cria diversas oportunidades, e perspectivar com optimismo um futuro de esperança.

 Angola, que esta em paz e reconstrução concebeu programas que visam alcançar a expansão da sua economia assegurando deste modo inúmeras oportunidades de investimento.

 Portugal também tem sido o destino de algum investimento de empresários angolanos. Homens de negócios portugueses e angolanos podem assim apostar, também, em investimentos cruzados em Angola e Portugal e contribuir para a saída da crise.

 Senhor Presidente,

Quero exprimir, a terminar, os meus profundos agradecimentos pela calorosa recepção que me foi reservada a mim e a delegação que me acompanha.

 Gostaria de reiterar o convite à sua Excelência Cavaco Silva a visitar Angola numa data a definir oportunamente.

 Viva a amizade entre os nossos dois povos     


Fonte: Angop