Lisboa - Em meios do regime próximos do círculo presidencial conjectura-se ultimamente que João Lourenço, actual ministro da Defesa, é a figura que o Presidente, José Eduardo dos Santos (JES) prefere para vir a substituir Manuel Vicente como Vice Presidente.

Fonte: Africa Monitor

De acordo com as referidas conjecturas, JES está determinado a apresentar-se como candidato presidencial do MPLA às eleições de 2017. A inclinação que tem por João Lourenço, como candidato a Vice Presidente, é associada à intenção de criar um ambiente mais favorável à aprovação interna da lista de candidatos e sua posterior aceitação pelo eleitorado.

A análise em que esta conclusão se baseia é a seguinte:



- João Lourenço goza de boa aceitação geral no partido – camada dirigente, quadros e bases; idem no regime, incluindo Forças Armadas; foi SG do MPLA e tem passado militar como comissário político das antigas FAPLA; cultiva um estilo de vida discreto e não aparece ligado à corrupção ou a difusos negócios privados; a sua família é considerada conceituada e estável (sua esposa é Ana Dias Lourenço, actualmente membro do board do Banco Mundial).



- Manuel Vicente não se afirmou no cargo de Vice Presidente; a escassa aceitação de que goza no partido e no regime e a nítida falta de vocação ou apetência que revela pela vida política em geral e o cargo de Vice Presidente em particular, são as causas da sua não afirmação política; é-lhe atribuída a aspiração de exercer em relação a Angola um papel semelhante ao do seu amigo Sam Pa na promoção de interesses económicos da China; a sua probidade tem sido abalada pela revelação de envolvimentos considerados menos transparentes no mundo dos negócios.

 

A pessoas da sua intimidade e confiança Manuel Vicente revela vontade considerada firme de se afastar do cargo de Vice Presidente no termo da presente legislatura. É certo que já pretendeu retirar-se, alegando razões de saúde, mas JES persuadiu-o a protelar o intento com o argumento de que seria do interesse do regime a sua continuação até ao final da legislatura.

 

Na promoção interna da figura de Manuel Vicente como apto para o cargo de Vice Presidente foi especialmente usado o argumento da sua competência como gestor – considerada patente na sua passagem pela Sonangol. De forma considerada orquestrada surgiu em 2014 uma linha (AM 872/886) que prejudicou a sua imagem como gestor.

 

Presentemente, considera-se que a sua reputação como gestor de mérito foi criada artificialmente com a finalidade de compensar/colmatar a lacuna da falta de experiência política e governativa que comumente lhe era reconhecida no momento do seu ingresso na vida política, então como ministro de Estado para os Assuntos Económicos.

 

2 . João Lourenço foi nomeado ministro da Defesa em condições que no seu conjunto significaram a sua reabilitação política plena face à relativa marginalização a que foi sujeito no seguimento de afirmações públicas em relação questão da sucessão presidencial, que JES considerou inapropriadas.

 

Em razão da sua reaproximação a JES, inerente à própria reabilitação política, mas igualmente devido ao seu prestígio social e à sua estatura política, que no passado abrangeu a condição de “delfim”, João Lourenço voltou a ser apontado (AM 840) como putativo candidato presidencial.

 

O modo como tem exercido o cargo de ministro da Defesa conferiu consistência à expectativa. Nenhum outro ministro da Defesa dispôs de tanta autonomia e protagonismo – em especial no plano internacional, algumas vezes em representação de JES. É com JES que despacha directamente e não com o chefe da Casa Militar.