Luanda - O tipo de actividades que assistimos, ajudam sim a incrementar a ideia de incapacidade, coitaditos, etc., por isso dependentes eternos de assistencialismos, misericórdias/caridades e afins. Facto que, não raro, leva muito boa gente a associar a Limitação à pobreza, daí quase não se contar com quem seja PCL/MC, nem como clientes. Por exemplo, a maior parte dos restaurantes, lojas, bancos/ATM´s e afins, não têm condições de acessibilidade, para esse estrato da sociedade. É mentira?

Fonte: NgolaJornal

No pretérito ano, 2015, o tema do dia 3 de Dezembro foi “a inclusão importa: acesso e capacitação para pessoas de todas as habilidades”.


No dia-a-dia as Pessoas com Limitação, ou, com Mobilidade Condicionada (doravante PcL/MC), enfrentam muitas barreiras à inclusão, não lhes sendo facilitado o acesso à sociedade em condições de igualdade, daí a necessidade imperiosa de “capacitação”, para se ultrapassarem alguma destas barreiras.

Pensamos que, só quando a sociedade como um todo estiver “habilitada”, aí é que as PcL/MC poderão usufruir as suas oportunidades, tornar-se agentes de mudança e abraçar plenamente as suas responsabilidades cívicas, em sociedades sem barreiras, na comunidade/bairro/cidade, na escola, no emprego, nas áreas de atendimento ao cliente (passeios, edifícios), transporte e informação e comunicações, o que é essencial para o desenvolvimento de democracias verdadeiramente dinâmicas, inclusivas e estáveis, de cidadanias activas e a redução das desigualdades.

Em Angola que – fruto das fragilidades no sistema de saúde, da guerra e outros factores, temos uma grande população de PcL/MC – foram realizadas acções comemorativas alusivas ao 3 de Dezembro, “Dia Internacional das Pessoas com Deficiência”, que, em nada contribuem para consciencializar a sociedade da importância da inclusão das minorias. Os discursos são esquecidos e as efémeras oferendas acabam (a cultura do aproveitamento vergonhoso e imoral é que é eterna), porém a indiferença, a mentalidade geradora das barreiras sociais e dos preconceitos ficam “xinini”, continua tudo como nos séculos passados (exclusão – antiguidade até o início do século 20; segregação – décadas de 20 a 40; integração – décadas de 50 a 80).

Ninguém ouve, nem aprende sobre como a sociedade pode beneficiar do enorme potencial das PcL/MC.

O tipo de actividades que assistimos, ajudam sim a incrementar a ideia de incapacidade, coitaditos, etc., por isso dependentes eternos de assistencialismos, misericórdias/caridades e afins. Facto que, não raro, leva muito boa gente a associar a Limitação à pobreza, daí quase não se contar com quem seja PCL/MC, nem como clientes. Por exemplo, a maior parte dos restaurantes, lojas, bancos/ATM´s e afins, não têm condições de acessibilidade, para esse estrato da sociedade. É mentira?


Ao contrário das ideias torpes que – declaradas ou não, assumidas ou não – existem sobre as PcL/MC, nós podemos ser, e muitos temos sido, participantes activos, ou seja, geradores de bens ou serviços, e não mera(o)s receptora(e)s. Como em artigos futuros ficará demonstrado.


O activista de direitos das PcL/MC, Tom Shakespeare, palestrando sobre “Entendendo a Deficiência”, disse perante a Conferência Internacional “Deficiência com Atitude”, realizada na University of Western Sydney, Austrália, em Fevereiro de 2001: – “Reconhecer a perícia e a autoridade das pessoas com deficiência é muito importante. O movimento das pessoas com deficiência se resume em falar por nós mesmos. Ele trata de como é ser uma pessoa com deficiência. Ele trata de como é ter este ou aquele tipo de deficiência. Ele trata de exigir que sejamos respeitados como os verdadeiros peritos a respeito de deficiências. Ele se resume no lema Nada Sobre Nós, Sem Nós”.

Novamente remetemos o lema mote desta série de artigos, para uma abordagem mais desenvolvida a posterior (parte III), bem como o recente decreto Presidencial e actos do Conselho de Ministros sobre as PcL/MC.