Luanda - O rendimento médio pedido pelos investidores à compra da dívida pública em moeda estrangeira dos países da África subsaariana, incluindo Angola, ultrapassou os 9,4%, tornando inviável a emissão de dívida, precisamente quando estes mais precisam.

Fonte: Lusa

Segundo números compilados pela Bloomberg e referentes ao mês de janeiro, os mercados emergentes enfrentam um dos piores arranques de ano, com um rendimento (yield) médio a pagar aos investidores de 5,5%.

“Mas nenhum lugar dói mais [subida da yield] do que na África subsaariana”, escreve aquela agência financeira.

Acrescenta que o “continente mais pobre do mundo” representa metade dos 20 países com o pior desempenho em 2016 na emissão de obrigações em moeda estrangeira (diferente do país emitente, em dólares).

“É também a única região do mundo onde a dívida de qualquer país produziu um retorno positivo”, reconhece a Bloomberg, classificando as duas primeiras semanas de 2016 como “as piores” desde que iniciou a monitorização destas emissões, em 2010.

Na prática, este agravamento significa que vai ser mais caro aos governos dos países da África subsaariana para emitir dívida, precisamente “quando mais precisam de financiamento para cobrir os défices orçamentais”, devido às quebras nas cotações de produtos (commodities) como o petróleo ou o cobre.

Os yields médios pedidos pela dívida dos países da África subsaariana já estão acima dos 9,4%, o que compara com os 5,8% que a Bloomberg contabilizava em abril de 2015.

As yields da Zâmbia e do Gana já estão acima dos 15%, apenas ultrapassadas pela Venezuela e pelo Equador, entre os países dos mercados emergentes.

“Com estes valores os mercados estão fechados” para o Gana, Zâmbia e Angola, refere a especialista do grupo M&G Investements, Claudia Calich, citada pela Bloomberg.

Embora a subida dos rendimentos até possa tornar estas dívidas “mais atraentes” para os investidores, a Bloomberg nota, citando fonte o Standard Bank Group – o maior credor do continente africano – a “aversão ao risco” decorrente da queda nas matérias-primas, a maior garantia de pagamento destes países mas há vários meses em forte quebra, em termos de cotação.

Pelo menos sete moedas de países da África subsaariana, incluindo o kwanza angolano, perderam mais de 20% do seu valor face ao dólar norte-americano no último ano.

Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África subsaariana, com mais de 1,7 milhões de barris de crude por dia.