Luanda - A convidada desta edição é a elegante e simpática Juliana Evangelista Ferraz, uma angolana de 40 anos que dedica a sua vida a valores nobres como transmitir conhecimento, gerir pessoas e escrever.

Fonte: Mercado

No seu próprio auto-retrato, define-se como uma pessoa autêntica, persistente, porém muito teimosa e resiliente. “Considero-me uma pessoa corajosa, forte e também boa conselheira”, confessa.

Ao longo da sua vida, destaca a mãe como uma referência, “um modelo a seguir”, e da sua infância guarda boas recordações, momentos inesquecíveis vividos na companhia dos pais e dos irmãos mais velhos. Embora confesse que era muito tímida e fechada naquela altura. “Entretanto, cresci e tornei-me uma jovem comunicativa, e hoje falo de mais”, diz a professora sorrindo. Como tudo aconteceu? Juliana acredita que tenha sido consequência da maturidade que foi adquirindo ao longo do tempo.

O seu primeiro contacto com os livros foi quando começou o ensino primário numa das escolas nos arredores do Prenda, bairro onde nasceu e cresceu. Concluiu o ensino médio no IMIL (Instituto Médio Industrial de Luanda, Makarenco). Entretanto, Juliana emigrou para Portugal, onde ingressou na Universidade Internacional e se formou em Gestão de Empresas. Fez uma pós-graduação em Auditoria na Universidade Autónoma de Lisboa e um mestrado em Planeamento Empresarial na mesma instituição. Não satisfeita, sempre procurando mais na sua formação, a professora universitária apostou no doutoramento em Economia.

Percurso profissional, análises económicas

O seu percurso fez-se sempre entre dois sectores, as telecomunicações e o sector bancário. A sua primeira experiência profissional foi nos finais de 2004 na Unitel, na coordenação da área comercial daquela instituição.

Em 2007, foi trabalhar para o Banco Millennium Angola (BMA) como gestora de clientes. Depois de algum tempo, surgiu uma nova oportunidade, Juliana decidiu abraçar e aceitar o desafio.Entrou para a Angola Telecom como auditora interna, a empresa estava numa fase de reestruturação, e foi chamada para integrar uma taskforce. “Entretanto volto para Portugal e começo a fazer o douramento em Economia”, recorda.

Enquanto esteve em Portugal, a economista não ficou de braços cruzados. “Tive uma passagem pela PT Prol, uma das empresas do grupo Portugal Telecom, em que participei num projecto de recuperação de dívida.”

“Quando regressei a Angola, começo a trabalhar no Banco de Desenvolvimento de Angola, onde estou actualmente”, conta.

Ensino e opinião

Juliana Ferraz também gosta de escrever. É muito solicitada para emitir opiniões, e desde que se iniciou junto do Jornal de Angola que não mais tem parado. Desde revistas de economia à própria agência noticiosa nacional, a Angop, a nossa entrevistada vai partilhando o seu know-how.

E foi assim que Juliana foi coleccionando as várias matérias que havia publicado e surgiu a ideia de lançar um livro. Ideias compiladas e reestruturadas, e eis que surge a sua primeira obra, intitulada Gestão e Inovar para Prosperar. Tomou-lhe o gosto e hoje já está a meio caminho de um livro de bolso intitulado Os Dez Valores de Sobrevivência.

Porquê valores sociais? “Porque nós, como pessoas, se incorporarmos estes valores no nosso dia-a-dia, se os praticarmos, eles terão efeito na família, nas organizações, na sociedade e no mundo”, explicou.

A integridade, a sinceridade, o amor ao próximo e o respeito são valores que devem ser reais e o livro abordará estes valores e muitos outros.

Face à actual conjuntura, refere que há situações que não dependem somente da própria governação mas, sim, de um contexto geral, “é consequência do que se está a passar a nível mundial, ou seja ,com a crise do petróleo (que cada dia que passa está mais baixo), é claro que vamos ter problemas, uma vez que a nossa economia ainda é dependente desta commodity”, disse.

Mas Juliana Ferraz tem uma palavra para os mais jovens, aqueles que diante da conjuntura que o País atravessa sentem medo de arriscar 26
“É difícil começar nesta situação, mas, se o desafio é a diversificação da economia, todos nós temos de contribuir para que isto aconteça, e não irmos para sectores que dependem de matérias–primas importadas”. E diz mais: “Temos de ir para uma direcção em que a matéria-prima é adquirida cá, ir para um sector em que haja oportunidades, que já esteja massificado”, presume.

Perguntámos se se sentia uma mulher realizada, sem medo de errar. Juliana diz que não. “Acho que a realização plena nunca existe na totalidade, porque nós, quando atingimos uma determinada meta, queremos atingir outra e mais outra, mas estou a caminhar para lá”, assume. Juliana Ferraz contou-nos também que neste ano pretende terminar o seu doutoramento em Economia, publicar as obras que tem em carteira e continuar a publicar as suas opiniões económicas nos media nacionais e, quem sabe?, na rádio e na televisão.

Casamento e maternidade

Juliana Ferraz é casada e tem três filhos. Confidencia que tem uma relação muito boa com a família. “Os meus filhos são a minha vida, todo o meu projecto de vida passa por eles.”

Quando está em casa, aprecia ver um filme, ler um livro, gosta de ouvir música e, para se manter em forma, faz ginástica todas as manhãs. Gosta ainda de leitura diversificada, e o seu livro preferido é o Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, uma história que envolve o patriarca de uma família ao longo de várias gerações, repleto de drama, de emoções e muito mais. Um livro marcante. Dos países que conhece, Turquia, especialmente Istambul, marcou-a pela sua diversidade cultural. “É um país oriental mas ocidental simultaneamente, achei fantástico olhar para aquela estrutura, edifícios e torres construídas por pedras.”

Olhando para trás, Juliana afirma: “Não existe nada que eu tenha feito de que me tenha arrependido de ter feito, porque sou uma pessoa muito decidida em fazer as coisas”, realça.

“Tento viver a minha vida de forma a seguir certos valores, e faço questão de ser uma pessoa melhor todos os dias, tanto na vida pessoal como na vida profissional”, remata a nossa convidada, com a promessa de um novo encontro, dessa vez, só sobre o seu novo livro.