Luanda – O actual cenário político, social e económico do país ainda inspira cuidados. Não apenas pela situação económica e social resultante da baixa do preço do barril do petróleo no mercado internacional, tampouco a situação da falta de divisas no mercado financeiro nacional, embora sejam de todo, situações propiciadores de riscos sociais mas fundamentalmente porque a própria democracia liberal hoje se encontra numa profunda crise de legitimidade.

Fonte: Club-k.net
A democracia tem o mérito de ser aquele sistema político apesar de longos anos de história continua permitir estudo e debate, abrindo-se a novas propostas de adaptação e democratização mas também é o sistema mais vulnerável por facto de ser sensível a infiltrações epidémicas a outros regimes antidemocráticos.

A falta de confiança nas instituições do poder mormente nas entidades democraticamente instituídas pela eleição procedimental do voto e restritamente resumida pela periocidade participativa no que tange aos direitos dos cidadãos tem incitado cada vez mais no contexto geral um eleitorado cada vez mais passivo.

Daí que, as situações de instabilidades sociais, casos particulares das manifestações das primaveras Árabes, as mega manifestações do Brasil, Espanha e para Angola as revindicações iniciadas a 7.3.11 pelos Revu’s, que culminaram na detenção dos famigerados 15+2, é resultado da falta de uma visão antropológica da acção política.

Nem sempre com medidas coercivas se resolvem estas questões, o mundo hoje se reveste de outras ferramentas para contrapor a estas crises. Em abono da verdade, quando fordes a discutir sobre a consolidação democrática em Angola, deve se abrir ao espaço a qualidade do regime democrático que se pretende para o País.      

O mau-estar difuso que se verifica na democracia angolana tem muito a ver com a corrupção, o descrédito dos partidos político ea onda das contestações, visto que os cidadãos já não se sentem devidamente representados, ou seja existe dupla patologia na democracia Angolana; parafraseando o conceito do professor Boaventura de Sousa Santos sobre a “dupla patologia das democracias liberais” que é a patologia da representação e a patologia da participação.

Quer dizer um binómio na desconfiança entre os representantes e representados ou seja, os cidadãos não se sentem representados tampouco os confia nos cidadãos, acresce-se também a patologia da participação em que os entes institucionais não dão espaço de participação aos cidadãos tão pouco os cidadãos desejam mais participar por considerar que as suas contribuições não terão efeito desejado.

Importa ainda neste sentido tecer que, a fase de solidificação da democracia angolana, só poderá ser possível se, se considerar a mudança paradigmática a luz do contraste existente entre o prometido e o efectivamente realizável, considerando as “transformações” da democracia, a que Norberto Bobbio (1986) chamou de “promessas não-cumpridas” ou de contraste entre a democracia ideal (tal como concebida por seus pais fundadores)  e a democracia real.

Considera-se principais “promessas não-cumpridas” da democracia a (antes institucionais sobrevivência do poder invisível, a permanência das oligarquias, a participação interrompida dos cidadãos, a "revanche" da representação dos interesses e o cidadão não-educado ou mal-educado. Esta visão tipifica o caso da democracia Angolana, é por esta razão, que hoje torna-se necessária a “democracia participativa”.

A participação de todos na tomada de decisão para reconstrução eficiente e desenvolvimento do país, principalmente na protecção das assimetrias regionais e a luta para erradicação da pobreza requer uma justiça redistributiva, sobretudo nesta fase da crise generalizada que o País vive encarando isto sim, como um exercício de cidadania para conquista da poliarquia defendido por Robert Dahl, que permite a participação activa do povo na tomada de decisões, respeitando os direitos de todos e garantindo a liberdade individual.

Isto pode ser feito através do instrumento do “Orçamento Participativo” que possibilita a participação cidadã transversalmente na forma democrática da população escolher o que é melhor para a sua comunidade, promovendo deste modo mudanças sociais, culturais e político-institucionais.