Luanda - Além da alegada exclusão da equipa de defesa, as circunstâncias e área do Monte Sumi em que os 13 civis (número oficialmente reconhecido pelo governo) perderam a vida não mereceram a atenção dos autores da inspecção judicial, pelo que consta da acta.

Fonte: Opais

O advogado David Mendes, o defensor do líder da seita “Igreja Cristã no 7º Dia A Luz do Mundo” e seus fiéis seguidores, revelou, ontem, a OPAÍS que não foi notificado pelo juiz presidente, Afonso Pinto, sobre a realização da inspecção judicial ao Monte Sumi. Além dos juízes, estiveram presentes representantes do Ministério Público, que considerou terem sido notificados atempadamente, os arguidos e alguns dos declarantes. A sessão de Sexta feira, data da realização da aludida visita, estava reservada à realização da acareação entre os arguidos e declarantes e à execução de algumas diligências que se achavam necessárias, nas instalações da 1ª Secção de Crimes Comuns do Tribunal Provincial do Huambo, e não no Monte Sumi, pelo que a defesa ter-se-á oposto. O causídico aclarou que, no seu ponto de vista, o juiz-presidente da 1ª Secção de Crimes Comuns do Tribunal Provincial do Huambo só realizou esta operação ao então “santuário” dos fiéis da referida seita, em resposta ao recurso interposto pela defesa, no qual se debruça aos indeferimentos ao pedido de realização da reconstituição.

“Como o indeferimento do pedido da defesa já fora objecto de recurso, o juiz encontrou uma forma de se justificar e não tinha outro caminho que não consistisse em nomear uma pessoa da sua confiança e não da confiança dos réus para cumprir tal formalidade”, explicou. Recordou que desde a instrução preparatória que solicitaram à Polícia e à Procuradoria para ter acesso ao Monte Sumi e não lhes ter sido permitido. Na instrução contraditória, requereram ao juiz a reconstituição e o pedido foi indeferido. Não obstante isso, segundo David Mendes, a sua equipa não cruzou os braços e no primeiro dia do julgamento (tal como noticiou OPAÍS na edição de 19 de Janeiro) retomou a solicitação e o juiz declinou o pedido. “Como sempre, até já se tornou cúmplice, o juiz combinou com o procurador e sem notificarem a diligência à defesa, decidiram ir ao Monte Sumi”, declarou.

A inspecção judicial

O juiz-presidente Afonso Pinto, em concordância com os juízes assessores Ângelo Vilinga e Osvaldo Malanga, nomeou o funcionário do tribunal Marcelino Sepanda como defensor oficioso, em substituição dos três integrantes da equipa encabeçada por David Mendes. O oficial da Polícia Hélder Pinto, um dos sobreviventes do confronto, descreveu que chegara ao local do sucedido passando por detrás da casa do Kalupeteka e permanecera entre a sua casa e a dos Nazareus, virado para o pátio da casa do alegado profeta.

Instantes depois, ouvira um disparo do lado do cimo da montanha, que estava atrás de si, tendo de seguida os membros da seita partido para agressão contra os efectivos da Polícia Nacional. Chamado à pronunciar-se sobre o que acabava de ouvir, José Kalupeteka confirmou que os jovens estavam sentados num banco de madeira, defronte a casa dos chamados Nazareus (categoria esta que era atribuída aos membros da seita que tinham a incumbência de transmitir a sua doutrina aos novos membros). Disse ainda que viu os agentes da Polícia Nacional ao longe, no momento em que saía do interior da sua residência.

Posteriormente, fora abordado pelo investigador Filipe João, o agente Abel do Carmo (vítima) e, a escassos metros deles, estava outro agente identificado apenas por Castro. Contou que depois disso ouvira um disparo, no pátio da sua casa, que o levou a fugir inicialmente por detrás da mesma e posteriormente esconder-se na montanha oposta à montanha do areal, cujo cimo dista cerca de 700 metros da zona do acampamento, em que permaneceu até cerca das 19h30 e de onde ouvira os cânticos das senhoras.

De seguida foi chamado o coréu Filipe Quintas que confirmou a sua versão inicial, segundo a qual apanhara o tiro num dos membros inferiores ao sair da sua casa adjacente ao pátio em que desenrolaram os factos, tendo assim indicado o local. Os juízes sentiram necessidade de inquirir o arguido Hossi Uacuti Vilinga sobre a zona em que se apercebera do confronto havido entre os polícias e os seus “irmãos em Cristo”, ao que respondeu ter sido a 500 metros do acampamento.

Hossi reconfirmou ter abandonado a viatura em que seguia e fugido para uma mata que fica entre a localidade do Sumi e o Quilómetro 25, onde pernoitara. No dia seguinte, dirigiu-se à Estrada Nacional que liga o município da Caála à província da Huila, em direcção a comuna do Kuima (fica ao Sul do Quilómetro 25 e do Sumi), onde veio a ser detido por efectivos da Polícia, às 14horas do dia 17 de Abril. Além de confrontar as declarações dos arguidos acima mencionados e a do oficial da Polícia que chefiou a brigada motorizada que se deslocou ao Monte na data dos factos, foram ouvidos o coréu Gabriel Esperança e o declarante Marcelino Canhanga (comandante do posto da Polícia do sector Quilómetros 25), cujos depoimentos não foram consignados em acta. No que concerne ao auto de “inspecção judicial”, ficou registado que se constou que o intendente Luengui e o agente Afonso António “foram mortos a 350 metros de distância do acampamento”.

A geografia do santuário de Kalupeteka

biografiaDe acordo com dados em posse do Tribunal, recolhidos na “inspecção judicial”, o santuário dos fiéis da seita de Kalupeteka dista cinco quilómetros e meio do Quilometro 25. E do campo em que os efectivos da Polícia Nacional encostaram as suas viaturas à área residencial, a distância é de 300 metros. No que concerne a configuração da área residencial da seita “Igreja Cristã no 7º Dia A Luz do Mundo” no Sumi, as lavras situadas a leste do acampamento e no cimo da montanha, constatou-se que a distância é de dois quilómetros e meio do primeiro local. Ao passo que a distância do local em que encontra-se a máquina escavadora da área residencial é de 40 a 50 metros.

Em termos geográficos o Sumi fica entre uma cordilheira que compreende três montanhas. Há o acampamento dos fiéis na encosta da terceira montanha, abaixo o qual (o acampamento) há um vale com cerca de três represas e do outro lado do vale existe a encosta de uma outra cordilheira cultivada de limoeiros. Esta outra cordilheira compreende também três montanhas. A comunidade dos fiéis da referida seita está configurada da seguinte maneira: à entrada principal está a residência do líder e fundador da seita, José Julino Kalupeteka, ao lado de quem está uma casa de chapa, à distância de um metro, cujo quarto mais próximo era do co-réu João Zacarias.