Luanda – A história triste deste político que nasceu a 15 de Setembro de 1962 é talvez semelhante ao do caro leitor. Nasceu precisamente no Luau, que no tempo de outra senhora chamava Teixeira de Sousa, hoje Móxico. Ainda na tenra idade, perdeu a sua progenitora. Se calhar é por isso que não lembra muito bem do seu rosto.

Fonte: Club-k.net

Tendo em conta a dramática situação, o seu pai biológico, forçosamente, entregou-o – após um consenso familiar por força de poucos recursos que possuía na altura – a um tio materno de nome Tchufulo Malengue, que era solteiro.

Nesta altura, o menino Sapalo não ficou somente distante dos braços e carícias do pai mas também da sua irmã mais velha que ficara aos cuidados do progenitor.  O seu tio materno, ou melhor, pai, como o mesmo faz questão de frisar que, na altura, vivia na comuna de Cazage, na província de Lunda Sul, levou-o no seu seio familiar.

Lá foi crescendo, crescendo até se tornar um valente pequeno homem que levava mensagens delicadas e perigosas aos guerrilheiros pertencentes aos movimentos de libertação que se encontravam nas matas a combater o colono português. Isto já na veste de coordenador comunal da Organização do Pioneiro de Angola (OPA), em Cazage.

Mas antes de se tornar o mensageiro dos guerrilheiros daquela região, o seu novo pai apresentou-o a sua nova mãe (de nome Joaquina), a quem talvez sente mais saudades que a sua biológica. E esta trouxe consigo um sobrinho de nome Eduardo Kuangana, o actual presidente do Partido Renovador Social.
 
Formação académica e profissionais
 
Na altura sua da transição para outra localidade, ou melhor, quando foi entregue ao seu tio materno no Luau, o seu progenitor esqueceu-se também de entregar a sua certidão de nascimento ao seu novo pai.

Razão pela qual, já na idade escolar, Malengue foi obrigado a regista-lo novamente uma vez que – como o próprio explica – na região onde se encontrava era palco de conflito armado entre o colono português e os guerrilheiros dos movimentos de libertação. Logo, era quase impossível a sair de Dala para o Luau onde havia ficado o seu documento.  Na sua nova identidade, Sapalo António já não era o filho dos seus pais biológicos, mas sim de Tchufulo Malengue e de Joaquina.   

Foi graça a este novo documento que ele fez o ensino primário em Cazage, no município de Dala, e secundário na cidade de Saurimo. Ensino médio (no Centro de Estudos Laborais) e superior na Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto, em Luanda. Mestrado (em Gestão Empresarial) pela Escola Brasileira da Administração Pública e Empresas (EBAPE) da Fundação Getúlio Vargas e doutoramento em Gestão Geral, Estratégia e Desenvolvimento Empresarial, pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresas – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE- IUL), em Portugal.
 
Cargos partidarios 
 
Sapalo não vivia somente de estudos e trabalho, mas também da política que também foi o mundo do seu pai Malengue que servia de logístico dos guerrilheiros angolanos nas matas daquela região. Aos 12 anos, ele era coordenador comunal da OPA (Organização do Pioneiro de Angola) em Cazage, cargo que ocupou logo após 25 de Abril de 1974 até 1976.

Na altura, José Manuel [ex-vice governador do Moxico] ocupava o cargo de coordenador da JMPLA e era seu superior. A quando da saída deste para desempenhar um outro cargo no Moxico, Sapalo passou a coordenar os dois órgãos (OPA/JMLPA).

E nos anos que se seguiu ocupou os seguintes cargos:

- Coordenador da Comissão de Organização e Quadros - Núcleo da JMPLA – Centro de Estudos Laborais (CEL) 1985/87;
- Coordenador do Núcleo da JMPLA e representante da Célula do MPLA na COFA (Encodipa) /1987/89;
- Padrinho dos núcleos da JMPLA, nas empresas estatais Emproci, Condauto, Hotel Trópico e no Ministério da Educação/1987/90;
- Coordenador da Comissão de Justiça Laboral da Comissão Sindical da COFA/ 1987/89;
 
Criação do PRS

Para quem não sabia, Sapalo António é verdadeiramente o homem que idealizou e fundou o Partido de Renovação Social (PRS). Tudo começou em 1985, quando este decidiu fixar-se definitivamente em Luanda.

Com as malas feitas, este cidadão de 23 anos dirigiu-se ao aeroporto do Saurimo, para pegar o voo com destino a cidade capital. Tendo em conta o regime que se vivia na altura (do partido único) na antiga República Popular de Angola, ao passar pela segurança aeroportuária, este jovem foi convidado a entrar na sala do controle para ser minuciosamente revistado.

Durante o acto, lhe foi introduzido dedos no ânus com intuito de garantir que o mesmo não traficava diamantes para comercializar em Luanda. Esta acção deixou-lhe bastante revoltado e terá balbuciado: “Angola não pode continuar assim”. Nesta altura, ninguém ainda imaginava a brusca queda da poderosa União Soviética.  

Com os visíveis sinais da fragilização desta potência em 1988, Sapalo António procurou o seu primo (por afinidade) Eduardo Kuangana, um membro activo da segurança do Estado, para manifestar a sua ideia. Kuangana – conhecendo bem o perigo que corriam por manter esta conversa – hesitou e pediu mais tempo para reflectir sobre o assunto.  

Em 1989, com a queda da URSS, o actual presidente do PRS mobilizou António João Maxicungo. Enquanto que Sapalo António procurou uma segunda pessoa: Pedrito Cuchiri, que era director comercial da empresa “Grossista-Uee” do Bengo. Pedrito por sua vez mobilizou João Baptista Ngandajina (ex-secretário-geral do PRS) que estudava na escola nacional do MPLA. Este último também procurou mobilizar outras entidades para o projecto, dentre os quais o malogrado Luís Mainjala.

Nesta altura, Sapalo António contactou ainda o general Tchizainga, em sua casa. Este o aconselhou a falar com o José Carlos Ilenga. E este último terá sensibilizado  um grupo na comuna de Hoje-ya-Henda, no município do Cazenga, em Luanda, destacando-se o malogrado  Wassamba, que também fez a sua parte.

Porém, quando os ventos da democracia começaram a soprar para Angola, Sapalo António, coordenador do Núcleo da JMPLA e representante da Célula do MPLA na COFA (Encodipa), decidiu pôr em prática a sua ideia de mudança.

Foi assim que a 18 de Novembro de 1990, no bairro da burguesia [Alvalade], nasceu o terceiro maior partido da oposição angolana PRS, na residência de José Carlos Ilenga, o único ancião do grupo. E todos que estiveram nesta reunião se tornaram membros fundadores.

Quando já tudo estava em pratos limpos, alguns membros fundadores propuseram ao idealizador [Sapalo António] a liderar o partido, tendo declinado a favor do actual presidente. Preferindo apenas ficar com o simples cargo de secretário nacional para Organização e Quadros do PRS (pasta que ocupou até em 1995) e membro do Conselho Politico e do Comité Nacional do PRS [até então].

De 95 até aqui, este antigo vice-ministro da Indústria do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), ficou apenas a dirigir o Departamento de Economia e Finanças do PRS.

Aliança com o MPLA
 
Com a entrada do eterno maior partido da oposição em Luanda, após o conhecido Acordo de Bicesse, o PRS – já dirigido por Kuangana – viu-se obrigado a formalizar uma aliança estratégica com o partido no poder (MPLA), isso é nas vésperas das primeiras eleições gerais em 1992, por causa dos discursos musculados do líder guerrilheiro da UNITA, Jonas Savimbi, que chamava outros partidos da oposição de “partidecos”.

Foi daí que a direcção do MPLA incumbiu Lopo de Nascimento, na altura secretário-geral, a formalizar uma aliança com os mais recentes partidos da oposição, dentre os quais o PRS, que declararam publicamente o apoio a candidatura de José Eduardo dos Santos, ao invés da UNITA.

“O apoio à candidatura de José Eduardo dos Santos, deveu-se as ameaças da UNITA e do seu líder que tratava-nos de partidecos e ameaçava excluir-nos forçosamente caso ganhasse”, revelou.

Na altura, a maior parte dos membros de direcção do PRS tinham menos de 35 anos de idade. Logo não podiam se candidatar a presidência da República, restando-lhes apenas a oportunidade de fazer parte da nova Assembleia Nacional. “Valeu apenas”, disse recentemente em conversa com o Club K.

Nestas eleições, o PRS conseguiu seis assentos na Assembleia que foram ocupados pelos deputados independentes que não eram militantes do PRS, a saber:
Circulo nacional – Paiva (em substituição de Eduardo Kuangana), António Jaime Chinguimbo e António Muachicungo;
Círculos provinciais: Lindo Bernado Tito e António Wanguiva (Lunda Sul); Domingos Tunga (Lunda Norte);

O sujeito em acção terá optado em ficar quase no último da lista dos deputados, tal como os outros seus companheiros da direcção do partido, por ingenuidade do próprio PRS que optara por adoptar uma estratégia de priorizar indivíduos que não eram militantes como forma a tornar mais credível as suas políticas de inclusão.      

Após estas eleições, o país voltou a mergulhar numa guerra sem fim. Tudo porque o MPLA recusou-se a partir para a segunda volta, sob alegação de que o seu arqui-rival político recusou os resultados divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral. E o PRS viu-se a prolongar o seu sonho de estar na Assembleia da primeira República de Angola. Durante este período, a direcção do PRS apelou, insistentemente, o diálogo entre as partes desavindos. Mas não foi tido nem achado.   
 
A estreia a Assembleia Nacional e a aprovação da Constituição República de Angola
 
Após a morte (estranha) de Jonas Savimbi em Fevereiro de 2002, supostamente em combate, Angola realizou em 2008 as eleições legislativas. A UNITA, já fragilizado e marginalizado pelos órgãos de comunicação social do Estado, viu a reduzir surpreendentemente a sua bancada parlamentar para 16 deputados (contra 70 que tinha).

Quanto que o PRS viu a subir para oito o seu número de deputados, tornando-se assim o segundo maior partido da oposição e a histórica FNLA ficou para o terceiro. Foi nesta altura que Sapalo António (o número quatro da lista) pisou pela primeira vez nesta casa das leis e a direcção do seu partido o indigitou para cargo de presidente da Bancada Parlamentar.

Uma Assembleia totalmente desequilibrada, típico dos países dirigidos por ditadores, o PRS teve um papel relevante – que ficara registado para sempre na história política angolana – na comissão constituinte que elaborou e actual Constituição da República. Razão pela qual consta o seu nome na lista dos legisladores constituintes.   

Foi graça a este partido que hoje os membros da Sociedade Civil angolana convocam manifestações (vide art. 47º da CRA) com o intuito de protestar contra as más políticas – associada a corrupção doentia – do regime de Eduardo dos Santos.

Vale ressalvar que foi também graça a visão da bancada parlamentar do PRS que se introduziu na CRA o 217º (Autarquias locais), entre outros. Por este e outro, a bancada parlamentar do PRS se votou a favor.

“Não fomos compreendidos na altura, talvez seja por isso é que fomos penalizados nas eleições gerais de 2012. Mas hoje o povo reconhece que tínhamos razão”, disse Sapalo, realçando que “podíamos ter introduzidos mais artigos, mas a falta de visão de outros partidos por sermos minoria e mal compreendidos”.  
 
Foi também em 2012 que Sapalo António conheceu, infelizmente, outros dissabores da vida. Perdeu o seu segundo filho. O jovem foi raptado e morto, em Luanda, na última semana de Março de 2012.

Ao volante de uma viatura de marca «Toyota Fortuner», foram interceptados por meliantes armados, algures durante o trajecto de regresso. Durante dois dias a família não sabia nada sobre o paradeiro dos jovens, até que os corpos foram encontrados por trás dos muros do Cemitério da Camama. Entretanto, os meliantes foram detidos pela Polícia Nacional, com a viatura, em Malanje, e condenados com uma pena superior.

Apesar de tudo, este antigo vice-ministro da Indústria aceitou ser o director de campanha do seu partido (nas eleições de 2012) e os resultados alcançados foram desastrosas. Embora se diga que os referidos resultados foram fraudulentos.

PRS perdeu cinco deputados. Mesmo assim, na altura, quando os militantes deste partido pediam exigiam a demissão de Eduardo Kuangana, Sapalo apoiou a permanência frente deste partido.
 
Candidato a presidência do PRS
 
Os resultados alcançados nas eleições gerais de 2012 provocaram rupturas dentro da direcção do PRS. Vários membros de direcção que viram frustrados os seus sonhos de entrar na Assembleia Nacional abandonaram este partido, sob o pretexto de não compactuarem com a permanência de Eduardo Kuangana frente da organização que dirige há 25 anos.

Na altura, os desertores propuseram a Sapalo António a resgatar o partido. Mas este manteve-se neutro. Foi assim que dentre vários membros de direcção (incluindo os dois pesos pesados Joaquim Nafoia e David Já) e simples militantes preferiram se entregar ao MPLA e a UNITA.

A fim de salvaguardar os ideias que lhe levaram a arquitectar o Partido Renovador Social, este defensor acérrimo de federalismo – que retirou dos holofotes da política para se dedicar à docência, através do Instituto Superior de Ciências e Administração Humanas, de que é fundador – e tendo em conta o momento que se avizinha, decidiu arregaçar as mangas para salvar o partido de uma possível extinção a vista caso participar – de jeito que se encontra e com o Kuangana na liderança – as próximas eleições gerais a ter lugar no terceiro trimestre de 2017.

A ida de Sapalo à luta pela liderança terá sido também fruto de algumas solicitações de membros desta força política que não se conformam com o actual estado do partido. Eduardo Kuangana, até ao momento, ainda não se manifestou se concorre ou não à sua própria sucessão.

Vale salvaguardar que um dos objectivos da sua candidatura é reconciliar o partido com os militantes, torna-lo mais coeso e actuante de modo a resgatar a confiança e credibilidade popular.