Luanda - Há décadas, que a febre – amarela já não troara no firmamento Angolano, o seu sussurro parecia – nos quimérico, senão mesmo, extinto; todavia, podíamos na altura, com línguas adelgaçadas de firmeza afirmar erradicada entre nós tão fatídica enfermidade, que no âmbito histórico revelou um impacto árido no âmago da humanidade outrora.

 

Fonte: Club-k.net
 
 
Por outro lado, os resíduos sólidos e fluidos urbanos, bem como a vulnerabilidade deixadas pelo escape no saneamento básico do meio, são o verdadeiro combustível para pôr em pé qualquer epidemia, ainda que a mesma esteja dormente ou sucumbida, em estado de putrefação ou mumificação.
 
 
As feridas deixadas pelo lixo, e as degradantes condições de saúde ambiental, não perdoam, e têm sempre como motivo fundamental para enaltecer a sua ira, chamar em socorro o ressurgir de doenças que nem a história dá – se por esquecida.
 
 
A respeito do ressurgimento da febre – amarela no nosso meio, várias inquietudes vêm açulando o nosso ego, expressando – se no encontro das reais razões em torno das quais se acusou o ressurgimento desta moléstia letal. Como ela ressurgiu se há anos encontra – se erradicada?

 
O factor fundamental para erradicação de qualquer enfermidade, constitui o combate que se faz contra os vectores ou o reservatório natural das doenças, em virtude de serem esses os vilões fidedignos na vanguarda e na expressão mais alta das enfermidades, o mosquito Aedes Aegypti, é uma espécie típica Africana e Americana, que faz das praças de lixo, das águas paradas, das latas e recipientes, bem como da falta de uma cultura sã no que concerne a higiene domiciliar e do meio ambiente em si, a razão da sua existência, mediante esses elementos se encontra o sustentáculo cimeiro da multiplicação desta espécie de artrópodes, até ao não mais poder ser.
 
 
A febre – amarela, vem de longe, e como tal, constitui uma arbovirose, tendo como seu vector o mosquito, descrito como causa importante de morbilidade que põe em termo a vida de quem enferma, com uma expansão que abrange vastas regiões tropicais da África e das Américas. [1]
 
O impacto deste vilão contra a pessoa do homem conhece um percurso histórico, desde épocas remotas, reza a história que no século XVII, essa epidemia colocara o homem no vale da morte, causando praças de cadáveres, fechavam – se os bancos de urgências e abriam – se os portões dos cemitérios, sem perder pistas, nenhum dos continentes quer seja Africano ou Americano foi poupado por este tigre mortal na época. A descoberta de vacinas eficazes e a erradicação do vector Aedes aegypt, viriam dar ao mundo um novo rosto, no que concerne essa patologia. No entanto, apesar dos trabalhos realizados durante várias décadas, continuaram sendo registados casos acidentais em populações rurais não imunes, em decorrência do ciclo silvestre de transmissão da febre-amarela. [1]

 
Hoje, Luanda trilha uma vereda estreita sitiada pelo rugir deste leão devorador, que nada teme, e somente anseia lamber mais vidas. Mas as razões de uma natureza ainda pouco cuidada estão na base do porquê doenças sepultadas no silêncio vão - se ressurgindo a cada década que o mundo dá para frente.
Nas duas formas deste tipo de patologia, o agente causador é o arbovírus (vírus transmitido por artrópodes) do grupo B. O vírus da febre-amarela pertence ao gênero Flavivirus, da família Flaviviridae. Este vírus é esférico e envelopado, de 60 nanômetros, possuidor de uma fita simples de RNA infectante de 10.500 bases, contendo 10 genes. [2], [3]
 

O vírus causa enfermidades em humanos e primatas, nesta índole, os macacos, têm papel fundamental como reservatórios naturais da patologia em florestas, no caso dos humanos, são o único reservatória que assume a função de propagação da doença através dos vectores em cidades, as fêmeas de mosquitos culicídeos pertencentes aos gêneros Aedes e Haemagogus são os principais vectores da doença. . [2], [3], [4]

 
A OMS, declarou que a expansão geográfica da febre – amarela no mundo engloba cerca de 33 países pertencentes ao contente africano, e 23 países considerados de alto risco de epidemia.

 
Apesar da ciência hipocrática (medicina convencional), ter dado ao mundo mediante a luz do seu saber, uma resposta positiva a este mostro letal, que assolava a humanidade há décadas, com o suscitar de uma vacina altamente eficaz, dados epidemiológicos, tomam o peso da evidência contrária, apontando para o ressurgir de áreas de circulação do vírus na África Ocidental e nas Américas, nos últimos 20 anos. [5]

 
A infecção por vírus amarílico determina no homem, desde quadros inaparentes e oligossintomáticos até formas fulminantes. O quadro típico da doença se caracteriza por apresentar evolução bifásica, com um período inicial prodrómico (período de infecção) e um período de localização. [9]

 
Período de Infecção: dura cerca de três dias, com início súbito e sintomas gerais como febre, calafrios, cefalalgia, lombalgia, mialgias generalizadas, prostração, náuseas e vômitos. [9]

 
Período de remissão: caracteriza-se pelo declínio da temperatura e diminuição dos sintomas, provocando uma sensação de melhora no paciente. [9]

 
Dura poucas horas, no máximo um a dois dias. [9]
 
Período de Intoxicação: caracteriza-se pela predominância dos sintomas de insuficiência hepato-renal, representados por icterícia, hematêmese, melena e outras manifestações hemorrágicas (epistaxes, otorragias e gengivorragias), colúria, oligúria e anúria, acompanhados de albuminúria e prostração intensa. Com bradicardia, apesar da temperatura elevada (sinal de Faget). [9]

 
O concretizar de sonhos que clamam por um mundo sem doença, somente será efectivo, se as teorias de transição epidemiológica forem evidentes, na qual se encontra a associação de estágios fundamentais no desenvolvimento das condições de saúde – doença, como:
·         idade das pestilências e da fome: caracterizada por vastas epidemias, altas taxas de mortalidade e baixa expectativa de vida;
 
·         idade do declínio das pandemias: redução das grandes epidemias, diminuição das taxas de mortalidade e ganhos na expectativa de vida;
 
·         idade das doenças degenerativas e criadas pelo homem: as infecções deixam de ter importância;
·         predominam as doenças degenerativas e outras, resultantes das atitudes humanas, com taxas de mortalidade baixas e expectativa de vida elevada;
·        idade do declínio das doenças degenerativas. [6], [7], [8]
 
 
 
 
MEDIDAS DE COMBATE E CONTROLO DA EPIDEMIA.
Para que possamos impor barreiras face ao ataque súbito dessa epidemia, torna – se imperativo a realização de vacinações em massa, tendo no entanto como prioridade, as populações residentes em áreas endémicas, em risco eminente para a contração de tal patologia, pessoas que se deslocam para áreas de risco. É utilizada a vacina de vírus atenuado, cepa 17D, cultivada em embrião de galinha, aplicada por via subcutânea. Sua eficácia está em torno de 99%, formando anticorpos protetores de 7 a 10 dias após a vacinação. [10], [11]

 
O Regulamento Sanitário Internacional exige a revacinação após dez anos. A vacinação anti-amarílica pode ser aplicada a partir dos seis meses de idade, devendo estar incluída nos programas de vacinação em crianças residentes na área endemo-epidêmica. [10], [11]

 
Em relação ao vector da FAZ (febre amarela silvestre), não existem medidas específicas para combatê-lo; em relação ao Aedes aegypti, o transmissor da FAU (febre amarela urbana), as seguintes medidas são recomendadas: ·
·         MEDIDAS DE CONTROLO MECÂNICO: são aquelas dirigidas aos recipientes com a eliminação daqueles que podem ser dispensados, evitando - se com isto a manutenção de criadouros favoráveis à proliferação do Aedes; neste contesto.
·          MEDIDAS DE CONTROLO QUÍMICO: são aquelas dirigidas especificamente contra o vector, através do uso de larvicidas e/ou adulticidas; dividem-se em tratamento focal; tratamento interno de recipientes, utilizando-se o temefós, na formulação granulado a 1%; e tratamento perifocal, aplicação de inseticida de acção residual sobre as superfícies internas e externas de recipientes e/ou superfícies verticais imediata aos recipientes, estejam estas dentro ou fora das habitações.
·         MEDIDAS DE CONTROLE DO PACIENTE: o isolamento não está previsto. Em áreas infestadas com Aedes, deve ser evitado o acesso de mosquitos ao paciente durante os primeiros dias de infecção.
·         MEDIDAS EM CASO DE EPIDEMIAS: FAU (FEBRE AMARELA URBANA) aplicação de larvicidas e nebulização espacial, quando indicado. Para FAS (FEBRE AMARELA SILVESTRE), é difícil aplicação dessa medida, ambas as enfermidades devem ser controladas com a vacinação em massa de indivíduos residentes em zonas endémicas. [12], [13], [14]


 
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
 
[1] Ministério da Saúde. Manual de vigilância epidemiológica. S.N. Brasília; 1999.
[2] World Health Organization. Update on progress controlling yellow Yellow fever in África, 2004-2008. Wkly Epidemiol Rec.2008.
[3] Johnson BW, Chambers TV, Crabtree MB, Filippis AM, Vilarinhos PT, Resende MC, et al. Vectors competence of Brazilian Aedes aegypti and Aedes albopictus for Brazilian yellow fever virus isolated. Trans R Soc Trop Med Hyg; 2005.
[4] Bicca-Marques JC, Freitas DS. The role of monkeys, mosquitoes and human in the occurrence of a yellow fever outbreak in a fragmented landscape in south Brazil: protecting howler monkeys is a matter of public health. Trop Conserv Sci. 2010.
[5] Bryant JE, Holmes EC, Barrett ADT. Out of Africa: A Molecular Perspective on the Introduction of Yellow Fever Virus into the Americas. PLoS Pathog. 2007.
[6] Frenk J, Frejka T, Bobadilla JL, Stern C, Lozano R, Spulveda J, Jose M. La transición epidemioloqica en America Latina. Bol Of Sanit Panam. 1991.
[7] Pedroso ERP. Infecções Emergentes e Reemergentes. In, Rocha MOC; Pedroso ERP. Fundamentos em infectologia; 2009.
[8] Vasconcelos PFC, Travassos da Rosa APA, Dégallier N, Travassos da Rosa JFS et al. Clinical and ecoepidemiological situation of human arboviruses in Brazilian Amazonia. Braz J Assoc Advanc Sci; 1993.
[9] LONGO, Dan L. et al. Medicina interna de Harrison. 18.ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
[10] Monath TP. Flaviviruses. In: Fields BN, Knipe DM, et al. Virology. 2nd ed. New York: Raven Press; 1990.
[11] World Health Organization. Prevention and control of yellow fever in Africa; Geneva; 1985.
[12] Robertson SE, Hull BP, Tomori O, Bele O et al. Yellow Fever. A decade of reemergence. J Am Med Assoc, 1996.
[13] Strode GK (ed.). Yellow fever. New York: McGraw-Hill; 1951.
[14] Vasconcelos PFC. Febre-amarela. Rio de Janeiro:Sociedade Brasileira de Pediatria; 2000.