Luanda - Depois de ter recuperado duas máscaras e uma estátua Tchokwe para o Museu do Dundo, na Lunda Norte, o coleccionador de arte Sindika Dokolo está a tentar resgatar outras quatro peças, num processo que ameaça seguir amanhã, 1 de Março, para os tribunais.

Fonte: NJ

O desfecho litigioso é antecipado pelo jornal Le Monde que, na edição de sábado, 27, fez eco de um ultimato lançado por Sindika Dokolo a dois marchands (negociantes de arte) franceses.

Sem citar nomes, referindo apenas que os visados são “renomados” profissionais, o diário gaulês adianta que ambos têm oferecido resistência à abordagem daquele que é reconhecido como o maior coleccionador de arte africana do mundo.

Segundo o Le Monde, se até 1 de Março as negociações não estiverem desbloqueadas, o assunto será encaminhado para a Justiça.

Em causa está a recuperação de obras indevidamente retiradas de Angola durante os quase 30 anos de guerra civil, missão que Sindika Dokolo já começou a cumprir, com o resgate de duas máscaras e uma estátua Tchokwe.

As três peças foram entregues ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos, no passado dia 4 de Fevereiro, em Luanda, e até Abril estão em exposição na Fundação Sindika Dokolo. Contudo, o seu derradeiro destino é o Museu do Dundo, na Lunda Norte, região de onde foram espoliadas.

Já voltado para as próximas devoluções, o coleccionador – conhecido também por ser casado com a empresária Isabel dos Santos –, prossegue negociações que garantam a vinda de outras quatro obras para Angola.

Francês pede um milhão de euros

E é aí que se encaixa o impasse com os dois franceses. Cada um na posse de uma obra de arte saqueada durante o período do conflito angolano, ambos insistem em elevar a fasquia do negócio, avança o Le Monde.

De acordo com o jornal, um dos envolvidos chegou mesmo a reclamar um milhão de euros pela transacção.

“Ele parte do princípio que a estátua é bonita e rara e, que, como tenho muito dinheiro, vou pagar por ela. Mas eu não tenho o mesmo entendimento. Vou propor-lhe 50 mil euros porque ele tem o tipo de atitude desdenhosa e racista que abomino”, sublinha o empresário, em declarações ao Le Monde.

Irredutível, o criador da Fundação Sindika Dokolo acrescenta ainda que está disposto a levar o diferendo até às últimas consequências. “Vou mostrar-lhes que somos organizados e determinados, e que iremos até ao fim”.

Além das duas obras localizadas em França, o coleccionador tem em vista o resgate de outro par de criações artísticas.