Luanda - O julgamento dos 17 ativistas acusados de atos preparatórios de rebelião prossegue esta segunda-feira. Os jovens estão a ser julgados desde novembro. Domingos da Cruz desconfia que a sentença já foi determinada.

 

Fonte: VOA


O julgamento dos 17 ativistas angolanos acusados de prepararem uma rebelião retoma esta segunda-feira (07.03) na 14ª Secção dos Crimes Comuns do Tribunal Provincial de Luanda.

 

As sessões têm sido constantemente adiadas devido à ausência de declarantes. Até agora, foram ouvidos menos de metade dos cerca de 50 elementos de um suposto governo de salvação nacional chamados a testemunhar. Mas ainda que o julgamento não tenha chegado ao fim, o ativista Domingos da Cruz desconfia que a sentença já foi determinada.

 

"Tendo em conta que Angola não tem sistema judicial, acho que seremos condenados. Não espero outra coisa que não seja a condenação", diz Domingos da Cruz em entrevista à DW África.

 

Da Cruz está em prisão domiciliária desde dezembro, à semelhança de outros 13 ativistas. Segundo a defesa, um recurso a exigir o fim da detenção, interposto a 22 de fevereiro, ainda não foi admitido pelo tribunal. Mais uma vez, Domingos da Cruz pouco espera: "Caso o recurso tivesse chegado ao Tribunal Supremo, eu também não esperaria nada. Levar o recurso ao Supremo é o mesmo que dar as galinhas para serem cuidadas por raposas. Todas estas instituições estão sob tutela do tirano", afirma.

 

O ativista diz peremptoriamente que Angola é uma ditadura - "se não fosse, não estaríamos presos pelo simples facto de alguém ter escrito um livro".

O livro de Domingos da Cruz, intitulado "Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura", era uma das obras que estavam a ser estudadas pelos jovens ativistas angolanos aquando da sua detenção em junho de 2015.

A partir da prisão domiciliária, da Cruz apela à união dos democratas: "Para que se possa evitar uma nova ditadura, é preciso [que estejam] unidos na construção de um regime democrático."

 

Numa altura em que se fala na sucessão do Presidente José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979, Domingos da Cruz diz ainda que é preciso parar de "banalizar" as instituições, "sob o olhar conivente dos angolanos, em que cada um parece estar preocupado exclusivamente com a sua barriga".

 

Se nada disso se alterar, "não haverá propriamente uma sucessão, haverá um caos", diz o também docente universitário, defensor de uma "filosofia de luta não violenta".