Luanda - Numa análise ao anúncio que está a marcar a actualidade, o sociólogo Paulo de Carvalho defende, em declarações exclusivas para o online do Novo Jornal, que, ao contrário do que ocorreu antes, “desta vez, não haverá qualquer recuo a esta decisão”.

Fonte: NJ

“O final estava de facto anunciado, tal vem sendo a pressão nesse sentido, mesmo de dentro do MPLA”, afirma Paulo de Carvalho, numa reflexão sobre o anúncio da retirada da vida política do Presidente da República, apresentado ontem, 11, na 11.ª reunião ordinária do Comité Central do partido do Governo.

 

Depois de assinalar que a notícia apanhou muita gente de surpresa, o professor universitário considera que, ao contrário do que ocorreu antes, “desta vez não haverá qualquer recuo a esta decisão, seja por decisão do próprio Presidente, seja por pressão de terceiros”, porque “a conjuntura não é favorável”.


Defendendo que quanto maior for o tempo de permanência de José Eduardo dos Santos no poder “mais o MPLA sairá a perder no futuro”, o especialista reconhece contudo que não estava à espera que o Chefe de Estado tivesse consciência desse desgaste. “A surpresa foi maior porque pensávamos, eu incluído, que o Presidente não estava ao corrente do descontentamento popular com a longevidade da sua permanência no poder”.


O sociólogo sustenta a sua leitura com uma análise ao desempenho do Presidente da República. “Os últimos três anos terão sido particularmente dolorosos”, destaca Paulo de Carvalho, lembrando que o problema não se esgota na crise económica e financeira que o país atravessa.


“O consulado de José Eduardo dos Santos não é hoje aquilo que era há cinco anos. Viu-se-lhe diminuir a pujança, houve claro envelhecimento das estruturas de poder, diminuiu a qualidade de vida das pessoas e diminuiu a qualidade da jovem democracia angolana, tendo aumentado a concentração da riqueza num grupo cada vez mais nuclear”.


No que diz respeito aos programas de Governo, o académico defende que houve um desvio ideológico em relação à matriz anterior do partido maioritário. “No que respeita a programas de Governo, está a haver uma clara guinada à direita, que se afasta claramente do anterior rumo democrático do país e do Programa Maior do MPLA”.

Prosseguindo na análise, o sociólogo antecipa ainda “grandes lutas internas pela apetecida cadeira de Presidente do MPLA”, tendo em conta que não houve uma aposta na preparação da sucessão. Paulo de Carvalho recorda que a importância dessa disputa de liderança vai além das questões partidárias. “Poderá ainda significar a presidência do Estado angolano, no caso de a aposta recair sobre alguém da geração seguinte à de Eduardo dos Santos, mas não ligado à sua família nem aos interesses claramente instalados”.