Lisboa - Um investigador luso-angolano alertou que o tempo até à eventual saída do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, da política ativa, hoje anunciada para 2018, poderá não chegar para preparar um sucessor, com riscos para a estabilidade.

Fonte: Lusa

Eugénio Costa Almeida, investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL, falava à Lusa após o anúncio de que o Presidente de Angola deixará a vida política ativa em 2018, ano em que completará 76 anos.

Em reação, Costa Almeida disse temer que não haja tempo para preparar um sucessor: "Não estou a ver que ano e meio seja suficiente para apresentar uma figura que se torne consensual, abrangente e aglutinadora, salvo se, no interior do partido e dos gabinetes da Cidade Alta, essa situação já esteja a ser preparada há muito tempo sem ser do conhecimento dos angolanos".

Para o investigador, o risco de não estar preparada a sucessão "é haver alguma desestabilização política que possa provocar uma desestabilização social", numa altura em que Angola vive "uma crise profunda, económica e financeira".

O especialista afirmou ainda não ser claro o significado das palavras de José Eduardo dos Santos no anúncio de hoje.

"Deixa-me duas questões prévias: vai abandonar a política no geral e simultaneamente a presidência, caso seja o número um e o MPLA ganhe as eleições em 2017; ou na perspetiva de que vai deixar a política em 2018 já não se candidatará?", questionou.

Acrescentou mesmo que "abandonar a política ativa não significa que abandonará a presidência".

"Há quem associe presidência a política, mas também há quem diga que a política pode ir dar à Presidência e a Presidência não ser política. É um pouco complexo", disse.

Caso se concretize a saída da Presidência, disse, o MPLA deve começar a preparar alguém que efetivamente mereça a credibilidade junto da população e, principalmente, do bureau político do MPLA.

"Isto já devia ter sido anunciado há mais tempo e devia ter começado a ser preparada a continuidade dentro do partido com maior calma, maior ponderação", afirmou ainda.

Presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e chefe de Estado angolano há 36 anos, José Eduardo dos Santos anunciou hoje que deixa a vida política ativa dentro de dois anos.

"Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política ativa em 2018", anunciou o presidente de Angola.

Já em novembro de 2013, José Eduardo dos Santos reconhecera, em entrevista à estação brasileira de televisão TVBand, que estava há demasiado tempo no poder.

Questionado sobre se não achava que estava há muito tempo no poder, José Eduardo dos Santos reconheceu que sim e, num registo invulgar, foi mais longe que a pergunta: "Acho que é muito tempo. Até demasiado. Mas também temos que ver as razões conjunturais que nos levaram a essa situação".

José Eduardo dos Santos substituiu o primeiro chefe de Estado angolano, António Agostinho Neto, em 1979, e a guerra civil foi a razão que aduziu para justificar a sua longevidade no exercício do poder.