Luanda - O juiz assessor do Caso Jorge Valério, Eduardo Samuko, foi novamente interrompido, desta vez pelos réus, enquanto lia as respostas aos quesitos. António Nhath “Pocotocha”, foi o primeiro a se manifestar, alegando que não corresponde a verdade o facto de que ficou provado que o réu Manuel Lima Bravo os contactara para matar o namorado da sua patroa. Pocotocha insurgiu-se dizendo que “isso é mentira juiz, estamos a ser sacrificados na inocência.

Fonte: O País

Os nossos pais derramaram sangue neste país, não podem provar coisas em vão. Esse juiz é corrupto. Você (juiz) tem filhos, cá se faz, cá se paga”, disse, dirigindo-se ao juiz presidente, Milecamena António João, enquanto era arrastado à força da sala de audiências. Eduardo Samuko teve que fazer uma pausa à leitura dos quesitos provados, até a sala permanecer silenciosa. Quando foi interrompido estava no 23º quesito e, passados alguns minutos, já no 28º quesitos, foi novamente obrigado a parar porque os réus Victor Nsumbo e João Manuel Mateus seguiram o mesmo caminho que Pocotocha.

 

Simultaneamente, os réus disseram “tudo menos isso, não estamos aqui para sentença encomendada”, em seguida, estenderam os braços para que fossem algemados.


O juiz os aconselhou a ouvirem, para o bem deles. “Não está certo”, continuaram a reclamar, “nós não temos nada a ver com isso, ficamos 4 anos presos por um crime que não cometemos . Nunca matamos”. O tumulto instalou-se na sala de audiência e os dois réus só não foram convidados a sair porque o advogado oficioso, Manuel Marinho, pediu que se acalmassem. O sentimento de raiva tomou conta dos dois réus, ao ponto de um deles, João Manuel Mateus, ameaçar um repórter fotográfico, enquanto este fazia o seu trabalho.


Da bancada dos jurado ouviam-se vozes das representantes do Ministério Público e dos juizes assessores a pedirem ao juiz presidente que convidasse o pai de Jéssica a sair, uma vez que este não ficava quieto. Fernando Coelho, o pai da jovem que foi condenada a 7 anos e um mês de prisão, controlou-se até ouvir a leitura do 68º quesito provado. No 69º pediu para sair da sala. De regresso, já no 89º quesito provado, não lhe estava a ser permitida a entrada, o que fez com que ‘explodisse’ no final da leitura.

 

“Sem uma única prova, minha filha foi condenada a 7 anos de prisão. O facto de saber que existem mecanismos de recurso não significa dizer que me conforme com uma decisão injusta. O tribunal forjou os factos que disse estarem como provados. As provas foram ignoradas”, reclamou e de seguida abandonou a sala.


Pocotocha, o ‘omnipresente’ do Caso Jéssica

António Nhath ‘Pocotocha’ é o único réu que conseguiu estar em dois sítios simultaneamente. Segundo o advogado oficioso, Manuel Marinho, quando lia as alegações finais, o coarguido António esteve detido de 10 de Setembro a 9 de Outubro de 2012, quando consta dos autos que a morte de Jorge aconteceu a 29 de Setembro de 2012.



Na altura, o advogado disse que não seria possível alguém estar em dois sítios ao mesmo tempo e, consequentemente, praticar o crime que os autos relatam. António Nhath foi condenado a 21 anos e um mês de prisão e o advogado oficioso nem sequer interpôs recurso. Mesmo fora do tribunal, Nhath fazia confusão e proferia as seguintes palavras: ”cá se faz, cá se paga. Estão a condenar pessoas à toa, esse tribunal vai cair”.