Luanda – Na linguagem militar, a «cortina de fumo» refere-se à cobertura de fumo, visando essencialmente ocultar uma posição de tropas, ou uma movimentação de forças com o objectivo de iludir o inimigo. Em termo genérico, a cortina de fumo é uma coisa feita subtilmente, ou um acto espectacular, que tem como finalidade desviar as atenções de uma situação concreta, ou de um determinado objectivo ou fim. Noutras palavras, é uma manobra de diversão.

Fonte: Club-k.net
Na sexta-feira, dia 11 de Março de 2016, na sessão de abertura da Reunião do Comité Central do MPLA, Presidente José Eduardo dos Santos, de forma astuta, anunciara a sua retirada definitiva da vida política, no ano de 2018. Esta não foi a primeira ocasião que tivera feito uma afirmação neste sentido. Só que, desta vez, fê-lo num acto formal, de forma afirmativa.

Se qualquer «linkage», ou fazer uma relação entre os dois acontecimentos. Na quarta-feira, dia 09 de Março de 2016, os Bispos de Angola, reunidos na Assembleia Geral Ordinária, em N´Dalatando, na Província do Kwanza Norte, divulgaram uma MENSAGEM contundente e profunda sobre a realidade actual de Angola. Como referência, nos números 1 e 2, desta Mensagem, lê-se o seguinte:

A crise económico-financeira em que o país se encontra mergulhado não se deve apenas à queda do preço do petróleo, mas igualmente à falta de ética, má gestão do erário público, corrupção generalizada, à mentalidade de compadrio, ao nepotismo, bem como à discriminação derivada da partidarização crescente da Função Pública, que sacrifica a competência e o mérito.

Aumenta assustadoramente o fosso entre os cada vez mais pobres e os poucos que se apoderam das riquezas nacionais, riquezas muitas vezes adquiridas de forma desonesta e fraudulenta. Assiste-se à falta de critério no uso dos fundos públicos, gastos exorbitantes, importação de coisas supérfluas que não aproveitam a comunidade.

A Mensagem dos Bispos de Angola é extensa e esclarecedora, que busca igualmente recomendações e soluções, exortando o povo angolano a não perder a esperança na capacidade que este tem, com graça de Deus, de superar o mal, não se rendendo à resignação nem à indiferença.

Logo, a questão de fundo que está em causa, que domina a consciência de muita gente, tem a ver com a seriedade e a credibilidade desta afirmação do Presidente Angolano. Qual é a relação que isso terá tido com a Voz de Deus, vinda do N´Dalatando? Quais serão as repercussões sobre o contexto actual angolano? Qual é a percepção e o juízo das elites nacionais? Enfim, não será que, isso tenha a ver com o Congresso do MPLA, que definirá as candidaturas, num jogo de baralhar as cartas e tirar proveito disso?

Seja qual for o cenário deste contexto, a pretensão do Presidente Angolano foi divulgada amplamente pelos meios de comunicação de massas, a nível mundial. Além disso, este pronunciamento foi aplaudido e recebido com alívio e satisfação pela comunidade internacional, como sendo um prelúdio de uma nova era para Angola.

Pois que, uma leitura correcta e atempada dos sinais dos tempos permite tomar decisões prudentes e apropriadas, evitando mergulhar o país num dilúvio ou numa desgraça de grandes proporções. A construção da Arca de Noé, por exemplo, foi uma medida antecipada de Deus, no sentido de evitar a extinção dos seres vivos, do dilúvio que estava em vista. Portanto, o Noé foi inspirado pelo Espírito Santo, para realizar a obra do Nosso Senhor.

Se qualquer tabu, a realidade angolana é evidente, cuja patologia crónica é de conhecimento geral. A este respeito, o papel do Presidente José Eduardo dos Santos na História contemporânea de Angola é ambivalente. Tem elementos positivos e aspectos negativos, que chocam-se frontalmente. Portanto, este contexto exige o discernimento apropriado por parte das elites nacionais. O essencial, nesta encruzilhada, é o lado positivo, capaz de dignificá-lo, no sentido de poder assumir honestamente a sua responsabilidade, nesta fase de transição.

Todavia, a honestidade do Presidente Angolano, no processo de transição, é o factor crucial que garantirá a sua Glória e a estabilidade do país, no pós-reinado longevo. Ou seja, a qualidade das eleições gerais de 2017, em termos de lisura e transparência, é que poderá conferir a credibilidade e a legitimidade do poder politico. Já que, de acordo com os Bispos Angolanos, “muitos cidadãos perderam fé nas instituições públicas e estatais, encarando o futuro com pessimismo.”

O grande desafio, que ameaça a paz e a estabilidade do nosso país, é a não-aceitação do princípio fundamental de «alternância democrática», da condução de eleições transparentes e credíveis, em que os resultados eleitorais correspondam a vontade dos eleitores, expressa nas urnas, através de votos, bem escrutinados, sem batota.

Nesta lógica, enquanto a noção de que, somente o MPLA (um determinado grupo de famílias nobres) tem direito de dirigir e governar Angola, será difícil conquistar a democracia, a unidade nacional, a estabilidade duradoira e a igualdade entre os Angolanos, de todas etnias e todas raças, que compõem a nossa Nação. Esta é a parte mais negativa do consulado do Presidente José Eduardo dos Santos, que deixa uma mancha indelével sobre a sua personalidade, como nacionalista e estadista, que governou Angola desde 1979.

Esta mentalidade, «etnocêntrica», está induzida e enraizada na consciência de alguns redutos, incluindo de algumas elites intelectuais, que encaram a transição do poder na base étnico-partidária, ignorando o processo eleitoral como mecanismo adequado e a via legal da renovação dos poderes públicos e estatais, num Estado de direito e democrático.

Este fenómeno, acima referido, de carácter étnico, manifestou-se no Côte d’Ivoire, na fase de transição do consulado longevo do Presidente Houphouêt Boigny, quando o país encontrou-se mergulhado na guerra interétnica, entre o Povo do Norte, descendente do Burkina Faso, e os Povos do Sul, considerados nativos, do Presidente fundador, pai da Nação.

Repare bem que, desde independência de Côte d´Ivoire, no dia 01 de Agosto de 1960, sob a liderança personalizada do Presidente Houphouêt Boigny, este país africano projectara-se como sendo o mais estável, unido e próspero, no Continente Africano, com instituições públicas e estatais sólidas e sustentáveis.

Afinal de contas, era um Castelo nas areias movediças, minado pela segregação étnico-cultural, tratada de tabu, sem coragem de abordá-la realisticamente e supri-la, pelas elites nacionais. Logo, como era de esperar, no rescaldo do passamento físico do fundador da Nação, no dia 07 de Dezembro de 1993, Côte d´Ivoire encontrou-se mergulhado na erupção do vulcão adormecido.

Neste respeito, convinha igualmente invocar o exemplo da Zâmbia, da época do Partido UNIP, cuja realidade política era idêntica ao sistema político vigente em Angola. Porém, na altura de transição, o Presidente David Kenneth Kaunda, para o bem da sua Nação, teve a coragem, a perspicácia e a firmeza de alterar o status quo, conduzindo um processo eleitoral transparente e credível, aceitando pacificamente à derrota eleitoral do seu partido.

Deste modo, não só foi capaz de assegurar uma transição positiva, ordeira e pacífica, mas sobretudo, de encetar as reformas democráticas profundas. O que, de grosso modo, granjeou-lhe muita simpatia, dignidade e prestígio dos seus compatriotas e da comunidade internacional. Hoje, o Presidente Kenneth Kaunda, fundador da Nação, sente-se orgulhoso e realizado, em manter intacta a unidade do seu povo e a estabilidade do País.

Para que isso aconteça, exige o espírito forte de patriotismo, verticalidade, firmeza e coragem, na tomada de decisões nucleares, em fazer justiça, resistindo às tentações de vária ordem e às influências das forças retrógradas, do sistema monopartidário, que permanecem no passado e que opõem-se duramente à transformação democrática e à inovação de Conceitos filosóficos.

Portanto, a pretensão do Presidente do MPLA, de retirar-se voluntariamente da vida política, embora tardiamente constitui uma oportunidade de ouro, para si e para o país. Não esquecendo que, quando mais tempo permanecer no poder, mais sombrio tornará o futuro dele e o futuro do partido que dirige.

Em suma, o fundamento da política do Estado consiste num conjunto de virtudes, consubstanciadas na dignidade humana, na liberdade, na igualdade, na solidariedade, na justiça, na ética, na sensatez, na responsabilidade, na competência, na honestidade, na sensibilidade, e no mérito dos cidadãos poderem realizar os seus SONHOS livremente.

Esta última virtude, do «mérito», que é cardeal, o Presidente do MPLA, até o dia de hoje, ainda não foi capaz de conferi-lo aos Angolanos. Isso se trata de um Presidente de origem pobre e humilde, mas pela corrupção, sem escrúpulo, através da guerra fratricida, tornou-se a pessoa mais rica do Continente Africano.

Criando, deste modo, uma sociedade dividida e partidarizada, na qual existe angolanos de primeira, de segunda, de terceira e de quarta categoria, com acessos condicionados e restringidos ao mercado de trabalho, aos investimentos, aos serviços sociais, às oportunidades e aos bens.

Para dissipar dúvidas e mal-entendidos, a classificação do Presidente Angolano como magnata mais rica da África, e fazendo parte da lista dos poucos multibilionários do Mundo, tem sido feita, actualizada e divulgada regularmente pelas instituições financeiras internacionais, bem como pela FORBES. Na verdade, sem qualquer rodeio e sem medo de errar, o nacionalista José Eduardo dos Santos entrou na Historia de Angola, da época contemporânea, como pior gestor público e governante mais corrupto e insensível.