Lisboa - António Araújo foi trabalhar para Angola em 2014 mas em janeiro deste ano foi obrigado a regressar a Portugal. A empresa portuguesa de construção civil onde trabalhava começou a falhar nos ordenados.

Fonte: TSF

A história repete-se. António Araújo diz que é só "mais um" entre tantos outros portugueses que regressaram desiludidos com o país que prometia uma vida melhor. Saiu de Matosinhos rumo a Luanda em agosto de 2014 muito confiante. Ambicionava um emprego, que não arranjava em Portugal e criar uma filha menor que tem a seu cargo.

 

"Nada fazia prever", que os objetivos não se iriam cumprir, pelo menos durante o tempo suficiente "para endireitar a vida". Foi trabalhar para uma empresa portuguesa de construção civil como chefe de equipa de infraestruturas. Na altura "Angola estava estável, havia muito trabalho, nomeadamente obras públicas" e "as condições eram ótimas. Tinha um bom contrato de trabalho, ganhava 2750 euros" a empresa pagava a "alimentação, estadia e ainda tinha duas viagens pagas a Portugal, por ano", diz.

 

António Araújo sublinha a vantagem que tinha em receber em euros porque há muitos portugueses, principalmente na construção civil, que não conseguem enviar sequer o dinheiro para as famílias pois recebem em kwanzas" e "cá só há um banco que faz essa troca para euros".

 

Não consegue entender bem como é que se chega a uma situação de debilidade económica, num país que "tem tudo" para dar certo, mas uma coisa é certa: "As empresas portuguesas investiram muito em Angola mas não tendo retorno acabam por estagnar".

 

António Araújo acredita que há três fatores determinantes para explicar esta situação: a crise do petróleo, o facto de o governo angolano não pagar às empresas e "a corrupção", afirma.

 

"Em Angola só se consegue alguma coisa através da corrupção". Para "passar em qualquer lado tem que se dar uma gasosa, desde o aeroporto até ao controlo da polícia, Angola funciona através da gasosa". Para se ter amigos é "só assim", lamenta.

 

Regressou a Portugal no início deste ano com 4 meses de ordenados em atraso, "cerca de 11 mil euros" que ficaram lá "presos".

 

Tem 50 anos, está desempregado e agora só lhe resta procurar um trabalho. Apesar de ter muita experiência profissional admite que tem enviado candidaturas para a função de "servente na construção civil". Confia na recuperação de Angola, já a partir do próximo ano, mas não voltaria para lá. "A minha esposa já não me deixava ir mais", confessa.