Luanda - Presos de consciência - é assim que eu, tu e nós (que pensamos diferente) nos sentimos nessa N´guimbe, onde a cor da camisa e a opção pela ideologia dominante é sinónimo de progresso e alforria. Não podemos materializar o que de forma crítica e construtiva pensamos e sentimos, pois tememos pelo nosso bem mais supremo (a vida) e pela limitação da nossa liberdade, até porque aqui "há homens que preferem ser afundados pelo elogio do que serem salvos pela crítica".

Fonte: Club-k.net

Com base nesta máxima criou-se a arte e a cultura da bajulação (presente e visível em todos os sectores da nossa sociedade). Uns penseólogos do regime parecem que se especializaram na arte da mediocridade, bajulação e persuação, mesmo quando tudo parece estar mal aos olhos do mundo, fazem campanhas nos órgãos de comunicação e nas redes sociais, usando argumentos falaciosos para convencer a população, limpar a má imagem dos “salvadores da pátria” e elogiar o “chefe de luxo”, a sua “alteza” de tal forma que até o Deus fica com ciúme. Ele é o único que melhor pensa, o resto, os kambas do elenco são tidos como incógnitas, meros executores das ordens superiores, tudo sem questionamento, e, na sua maioria são intelectuais de elevado respeito e prestígio académico, mas com uma visão imanentista e ávidos de transcenderem socialmente, trocam a moral e o intelecto pelo pão e vida de luxo, parecendo assim, vivendo o "mito da caverna", a alegoria idealizado pelo grande filósofo grego Platão.


O caos e a instabilidade social e política que o país vive instalou o clima de medo, e hoje (quando se pensa diferente) desconfia-se de tudo e de todos, dos amigos aos familiares, dos colegas de escola aos de serviço, dos companheiros de taxi aos vizinhos e amigos das redes sociais, da barata ao rato que vagueia em nossas casas, pois nunca se sabe quem é o “peido”.

 

Hoje (e sempre foi assim) os nossos pensamentos são só pensamentos, as nossas ideias rolam em nossas mentes sem poderem transcender da consciência à realidade. Os escritos mais sublimes estão guardados em papeis e empoeirados, com temor de serem publicados, temendo a perseguição política e censura. Assim, "o pensamento que não se liberta escraviza o homem", e vamos nós, firmes e convictos aos nossos ideais, mesmo acorrentados socialmente e impedidos de exprimir o que pensamos e sentimos, quando a Lei Constitucional da República nos concede esse direito.


Aliás, os que hoje são tidos como heróis da independência, ontem foram frutos da coragem, sacrificaram a sua juventude para o bem-comum, cada um deles deu o seu contributo da sua forma, do combate aos campos de guerra à música e escrita. Hoje, as mentes mais esclarecidas não lutam contra o colono e compatriotas angolanos, nem pela sucessão partidária e de poder, mas pela democracia, pela paz social, pela tolerância e pela justiça – pilares para termos um país saudável e sem assimetrias e estratificação alarmante. Mata-se e priva-se a liberdade do revolucionário e não a revolução e liberdade de pensar. Na história da Angola independente, muitos perderam a vida por defender causas sociais, uns foram detidos, julgados e condenados (o caso recente de Cassule e Kamulingue e dos 15+2) e, muito continuam vivos e livres, exercendo o seu direito de liberdade de expressão (mesmo de forma oculta), pensando sempre no que deve ser um país ideal para os angolanos. Pensar diferente, criticar de forma construtiva não é crime, principalmente num Estado democrático e de Direito como o nosso. Juntos pensando e compartilhando os nossos pensamentos e ideais, temos a maior possibilidade de termos um país melhor. Viva Angola, viva os defensores da verdadeira democracia, viva a liberdade de expressão!

*Licenciado em Filosofia e Educação