Luanda - Certamente perguntarão em que arcabouço me aglutinei para “aventar” a temática supra epigrafada. A minha resposta é elementar, óbvia, contudo insidiosa: se compararmos tudo aquilo que acontece no contemporâneo (fome, misérias, doenças, desempregos, bajulações, amiguismos, filhismos, lambe-botismos, corrupção endémica, partidocracia, despotismos, mortes em série…), a guerra do antanho, certamente perderá a sua tonelada de peso, porquanto diga-se em boa verdade, há quem prefira fazer uma visita ao antanho do que constatar in loco o que desgraçadamente vem acontecendo na “terra que viu nascer meu pai”. Vivemos hoje numa enormidade de paz “agressiva” e aparente. Estando cônscio desta desgostosa inteireza, preocupa-me de forma profunda e penosa o palmilhar que a nossa República tem dado, e por consequência disso, ainda, teimosamente, advoga que: “se tu tens fome e eu bajulo é só mesmo por culpa da guerra”. Como se a “maldita” guerra não tivesse, também, como fim último, a PAZ.

Fonte: Club-k.net 

Será que todos os males que enfermam a República de Angola são descendentes da Guerra?

 

Tenho ouvido com alguma desolação muitos discursos proferidos por muita gente, inclusivamente intelectual, que “aquela” guerra que assolou o país, ainda está “viva”, porque ela tem servido de esconderijo para muitas falcatruas e mentiras escancaradas dos nossos co-cidadãos. Se quisermos falar do dúbio e desconfiável sistema de justiça, a guerra já aparece; se quisermos falar das autarquias, a guerra faz-se presente; se quisermos falar do coitado sistema educativo, a guerra já marca sua presença; se quisermos falar da pobreza, a guerra aparece; se quisermos falar da impunidade, novamente a guerra; se quisermos falar da corrupção instalada e moderna, a guerra é logo chamada; se quisermos falar dos hospitais doentes, a guerra já aparece; se quisermos falar da tonelada de buracos que nascem diariamente nas estradas, a guerra é logo convocada; se quisermos falar do desemprego, a guerra é já bem-vinda; se quisermos falar de crise, a guerra já aparece; se quisermos abordar sobre a ingovernabilidade, o assunto é já recordar a guerra; se quisermos falar de 2018, a guerra já “desperta”, ou melhor, a guerra, hoje, parece estar mais famosa que a própria PAZ. O incrível é que nem a tal guerra sabe disso.

 

Ante o cenário deploravelmente consternador que se vive no país e que foi minimamente exposto em epígrafe, uma questão continua inquietante:

 

Será que a guerra é a verdadeira causa de todos os males que “enfermam” a República de Angola?

 

Poderíamos elencar para a presente reflexão variadíssimas questões a respeito, mas seja como for a situação em que o país vive, não tem só, como causa macro, a GUERRA. O que acontece é que ultimamente os discursos têm exagerado a ponto de se atribuir à guerra poderes que ela mesma desconhece. Se a única causa for mesmo a guerra, a corrupção endémica ficará bastante “triste”, porque ela não gosta ser esquecida em assuntos de género. “Esse tal discurso de que tudo é só guerra, não pode vir aqui e começar a ludibriar as pessoas”. A guerra terminou, graças exclusivas são dadas a Deus e a mais ninguém. Naturalmente, as guerras deixam as suas marcas indeléveis, tanto nas estruturas físicas do país, como nos arcabouços mentais dos seus cidadãos. Contudo, não é justo e nem honesto, dizer-se de forma vergonhosa, vil e sórdida que a causa das condições em que os angolanos estão, actualmente, mergulhados é a GUERRA. A própria guerra também deixou petróleo e muitos diamantes, será que esse discurso não serve para nos ajudar a mudar de os “discursos”?

 

 

Angola e os angolanos não precisam mais de discursos ultrapassados no tempo e no espaço. Estamos famintos de algo diferente de guerra. Já se provou que o argumento da guerra só convence os mais fracos (já vão sendo poucos). É altura de reinventarmos, renovarmos, repensarmos e refazermos os nossos discursos extremamente “malogrados”. O retrovisor não pode, ininterruptamente, orientar a nossa viagem. Devemos olhar com coragem para frente. Não criemos ilusões, nem fantasmagorias desnecessárias. Só teremos uma Angola diferente desta que temos hoje, caso, olharmos para trás com inteligência e para frente com sabedoria. Quando já não somos capazes de falar sem convocar a guerra, há sempre alguém que pode fazer melhor invocando a PAZ. O ONTEM DE ANGOLA JÁ FOI INTENSAMENTE VIVIDO E SOFRIDO. VIVAMOS O HOJE PARA QUE O AMANHÃ TENHA ALGUMA ESPERANÇA.

 

Outrossim, conheço e reconheço a minha autêntica e gigantesca opacidade intelectual e incompetência consciente em muitas matérias que conformam o país. Contudo, sei que muitos, se calhar, já dominam o assunto, mas a minha ingenuidade aterroriza-me e impinge-me a perguntar a quem saiba: afinal onde poderei encontrar as “vacas gordas” que foram surgindo depois da Guerra? Será que só o único que não mereço saber? Este sim, é um argumento consentâneo! O nosso foco deve ser o depois da guerra e não estagnar na mesma guerra que já deu seus resultados perniciosos a muitos dos nossos irmãos.

 

 

Portanto, juntos podemos catalavancar está Angola que é de todos nós. Essa visão só será “visionária” caso os nossos dirigentes e pseudo-analistas aprendam a lançar um olhar para frente e com óptimas perspectivas para todos os angolanos. Oxalá paremos de assistir ao vivo e a cores o episódio de muitos dos nossos irmãos a padecer e a fenecer de fome e doença nas diversas “avenidas” de Angola, aguardando serenamente por um discurso balsâmico de guerra. Os angolanos precisam, de forma premente, de soluções dos problemas e não dos problemas das soluções. A nossa preocupação maior deverá ser a de arranjar formas críveis de mandar para o xadrez todos aqueles que forem flagrados a apoderar-se indevidamente do erário público. Esta sim, é a verdadeira solução para a verdadeira “GUERRA” da corrupção que vem matando muitos angolanos...

 

Já fui mais optimista, mas a ver vamos! Tudo é possível, até mesmo o impossível…

 

VIVA A PAZ!

ABAIXO A GUERRA!

VIVA O AUTOR DA PAZ: DEUS!