Luanda - O investigador Pedro Amakasu Raposo considerou hoje que o pedido de ajuda feito por Angola ao Fundo Monetário Internacional revela "a incapacidade financeira e económica para pagar os compromissos e pôr a economia a funcionar".

Fonte: Lusa

Em declarações à Lusa a propósito do pedido de assistência técnica e financeira feita por Angola ao FMI, ao abrigo de um Programa de Financiamento Ampliado (PFA), Pedro Raposo afirmou que "a necessidade de financiamento ditou que Angola tivesse de pedir um empréstimo ao FMI".


O investigador que estuda há anos as relações da China e do Japão com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) considerou que a iniciativa angolana resulta "da incapacidade financeira e económica para pôr a economia a funcionar, para pagar os salários e as despesas financeiras a que um Estado se obriga" e acrescentou que "foi essa falta de capacidade que levou o Governo a ter de pedir um empréstimo financeiro, sendo que ao fazê-lo vai estar condicionado a cumprir exigências".


Lembrando a discussão académica em curso sobre um eventual neocolonialismo por parte da China e outros doadores internacionais, Pedro Raposo sublinha que "para os países africanos, inclusive Angola, pedir ajuda a uma instituição internacional como o FMI ou o Banco Mundial é a última coisa que estes países querem fazer porque estas instituições personificam o neocolonialismo institucional e ingerência internacional do ocidente nas decisões soberanas das economias africanas".


Na semana passada Angola anunciou que iria começar negociações com vista à obtenção de apoio financeiro e técnico para diversificar a economia, dependente significativamente das receitas do petróleo, que caíram a pique na sequência da descida do preço das matérias-primas nos mercados internacionais.


A iniciativa, considerou o investigador, "é uma ótima notícia, porque vai obrigar a diversificar a economia, porque por eles [autoridades angolanas] continuariam a viver dos recursos petrolíferos, mas felizmente a economia global está a forçar o país a ter mesmo de diversificar".


Sobre o impacto nas empresas e cidadãos portugueses a viver e trabalhar em Angola, Pedro Raposo considerou que "a alegria não poderá ser muito efusiva tendo em conta que uma diversificação não se faz de um momento para o outro, leva 5 a 15 anos", mas salientou que "a curto e médio prazo, havendo financiamento, haverá maior liquidez e possibilidade de aumentar o consumo interno e liquidar as dívidas".


Sobre as semelhanças entre o pedido de ajuda externa feito por Portugal em 2011 e o pedido agora feito por Angola, o académico vincou que as diferenças deverão ser bastante grandes.


"A austeridade que o FMI deverá impor não deverá ser como a nossa, porque já durante a década de 80 e 90 houve pacotes de ajustamento estrutural feitos pelo FMI e Banco Mundial em África, e foram uma desgraça porque a condicionante principal era a transição para a economia de mercado, e foi um desastre total, os países ficaram mais dependentes e fragilizados", afirmou.


Neste pacote de ajuda técnica e financeira concedida à medida que as reformas vão sendo implementadas, Pedro Raposo espera "que haja peso e medida, não só porque este é um empréstimo para ajudar a reestruturação da economia, mas também porque as instituições internacionais estão mais cientes do falhanço destes pacotes de ajustamento em África e das consequências negativas que tiveram, portanto haverá certamente mais bom senso".


Questionado sobre a razão do pedido de ajuda ao FMI em vez do aprofundamento da relação financeira com a China, um dos principais credores angolanos, Pedro Raposo respondeu que isso deve ter a ver com a descida do preço do petróleo, que é normalmente a forma de pagamento dos empréstimos da China a Angola.


"Como o petróleo vale menos, Angola perde muito dinheiro, já não compensa mais empréstimos da China e por isso terá pensado onde é que um pedido de empréstimo é mais eficaz e se calhar compensa mais a Angola recorrer ao FMI e pagá-lo em termos ainda a negociar", apontou o investigador.


No contexto de necessidade de dólares, "a moeda chinesa ainda não tem expressão como moeda de troca internacional e, por outro lado, pode demonstrar que Angola não quer ficar 'refém' da China como sendo a única credora do país", concluiu o professor de Relações Internacionais na Universidade Lusíada.