Lisboa - Em entrevista ao programa "Ensaio Geral" da Renascença, o jornalista angolano considera que só pessoas sem saúde mental conseguem tolerar o que se passa em Angola. Já o escritor Ondjaki pede abertura à crítica por parte dos políticos.
Fonte: RR
O jornalista e activista dos direitos humanos Rafael Marques considera que as autoridades angolanas têm medo da nova geração.
Citando o caso dos 17 activistas detidos pela justiça, em entrevista ao programa “Ensaio Geral” da Renascença, Rafael Marques fala dos jovens angolanos que não viveram no país em guerra e que querem uma mudança politica nas eleições do próximo ano.
“Hoje o medo é maior daqueles que detêm o poder do que daqueles que na sociedade procuram mudar a forma de ver a sociedade, a forma como vêem o poder, porque é uma geração que já não tem memória da guerra em Angola e esta geração votará nas próximas eleições. E é isso que os mesmos detentores de poder, que estão há muito tempo ali instalados, não conseguem perceber.”
Muitos destes jovens que estão presos, como Nito Alves, sublinha o jornalista, “não têm noção do que foi a guerra ou o 27 de Maio. Eles vêem apenas o poder por aquilo que é, na sua essência predadora”.
No programa “Ensaio Geral” da Renascença, gravado no Festival Literário da Madeira, o escritor angolano Ondjaki defende a urgência de abertura política em Angola para aceitar as criticas e lamenta que as vozes dos jovens activistas sejam entendidas como uma ameaça.
“É óbvio que estes e outros jovens estão a pensar por si. Às vezes, ficou espantado é porque é que isso não pode ser visto como uma coisa boa, poderia abrir caminho a que qualquer crítica e contestação, em vez de ser tomada como uma ameaça, pudesse ser tomada como um contributo, mas isso é preciso termos uma certa abertura política ou humana para entender que uma crítica pode ser não necessariamente uma ofensa, mas um contributo. Quem diz deixar falar, diz deixar pensar. Isto é urgente. Há muito tempo que vem sendo urgente.”
O escritor Ondjaki, vencedor do Prémio José Saramago 2013, diz que a politica angolana precisa de mais abertura humana.
Já Rafael Marques considera que só pessoas sem saúde mental conseguem tolerar o que se passa em Angola. Defende que o país precisa de ajuda e de fazer uma introspecção para perspectivar o futuro.