Luanda - É amargamente irónico o quadro em que se encontram os 4 funcionários angolanos, que trabalhavam na Multinacional Eni, que, nas vestes de representantes dos trabalhadores nacionais, cometeram o “atrevimento” de salvaguardar os interesses dos seus compatriotas nesta empresa Italiana. São passados cerca de 100 dias que se encontram abandonados, quer pelos colegas por quem se batiam ‐estes coitados vivem todos amedrontados, pelo eminente risco de também irem parar na rua, quer pelos “Directores” Angolanos no interior da Eni, que, sem honra nem dignidade, promovidos possivelmente para salvaguardar os patrões mamamias, e por fim as mais diversas autoridades de Angola, desde o Ministério de tutela até à “nossa” Sonangol concessionaria.

Fonte: Club-k.net

Na Europa, em termos de Sindicatos a França, a Itália e a Bélgica são países com grande tradição na defesa dos seus associados e concidadãos. Por ironia do destino, enquanto isso, em Angola um italiano, o Director da Eni, conjuntamente com os seus serviçais humilham Angolanos, expulsando‐os em plena quadra festiva, alguns dos quais com mais de 20 anos de casa Já em Janeiro, o Presidente do grupo Eni, engenheiro Claudio Descalzi, numa entrevista difundida pelos órgãos de comunicação sociais italianos, fez saber que em resultado da crise mundial na indústria petrolífera, possivelmente iriam ocorrer despedimentos na Itália. No dia 20 de Janeiro de 2016, o Sindicato da Industria de Hidrocarbonetos convocou uma greve geral em toda Itália, paralisando todas actividades do grupo Eni, fazendo imediatamente recuar o manda chuva.


Como é possível que em Angola um director italiano, o iluminado e temível Guido Brusco, pega na nossa Lei Geral de Trabalho, rasga‐a figurativamente, nas barbas do MAPESS, MINPET, Sonangol, para não dizer todo governo e ninguém reage, para reposição da legalidade? A lei laboral a que nos referimos protege os Sindicalistas e os Representantes dos trabalhadores, no exercício das suas funções. O que temos vindo assistir e pelo silêncio de todos órgãos de soberania é francamente perturbador, abrindo uma autêntica impunidade para os empregadores estrangeiros e não só.


Imagine que a Sonangol, também ela multinacional, tivesse escritórios em Roma ou Milão e que seu Representante tomasse medidas similares às do querido (sic) Guido Brusco? Provavelmente até os escritórios iriam fechar imediatamente, e lá até à EU iria orientar aos cidadãos comunitários em levar a atrevida Sonangol, empresa do terceiro mundo, a tribunal e o presidente do referido País conotado com adjectivos qualificativos pejorativos que já conhecemos.


É verdade que a história regista a Itália como a primeira nação europeia a reconhecer a independência de Angola, mas a arrogância e a sequência de atropelos deste director são intragáveis.

A máxima popular diz que pai pobre não pode ter amigo rico, porque amanhã o filho do rico irá a casa dos pobrezinhos, humilha a família, e o pai pobre tem de se manter calado, impávido e sereno, devido às dívidas materiais e morais que tem para com o progenitor do riquinho.

Para a nossa realidade, o certo é que depois de Matteo Renzi, Primeiro‐Ministro italiano ter passado por cá, agora é a vez do Presidente desta nação rica e poderosa, mas também mafiosa, vir fazer seu marketing político e económico, na nossa pobre e mendiga Angola, para comemoração da longa amizade entre duas nações “amigas”, enquanto isso as panelas nas casas dos 4 expulsos ilegitimamente e suas legiões de famintos há muito entraram de férias, com a malária e a febre‐amarela à espreita.

Hoje são os italianos, e se ninguém trava esta pouca vergonha, de certeza virão depois outras empresas e nacionalidades. E por este andar da carruagem, o pequeno‐grande Mussolini contemporâneo, se qualquer dia acordar e decidir que a partir daí os Angolanos na Eni serão obrigados a comer macarrone, lasanha e pizza, e para comprovar que efectivamente esta directiva será executada fielmente em suas casas, os trabalhadores serão obrigados apresentar, junto do RH os comprovativos de aquisição destes bens mensalmente, temos poucas duvidas que as “nossas” autoridades não venham anuir e até reforçar que o funge, o peixe seco, os catatos, o quiabo, a quisaca e todos lombis que nos criaram já não prestam.

É essa a nossa independência, ou melhor, a escravatura moderna, onde continuamos a receber peixe podre, fuba podre, panos ruins e cinquenta angolares, porrada ou rua se refilares. Aos angolanos que comem à mesa com o patrão julgam‐se superiores aos outros indígenas, pelo servilismo que prestam e infelizmente das nossas autoridades...! Porque se assim não fosse a muito se teria posto na linha este indivíduo e ninguém mais tentaria ilegalmente. Se fosse numa Nigéria ou mesmo até aqui no vizinho Congo Braza, o Guido Brusco já bruscamente estaria a milhas, mas “isto aqui é Angola”!

Enfim, onde está a proteção do Angolano e da pessoa humana no geral?