Lisboa - Durante quinhentos anos de “encontro de culturas” e de “desencontros políticos”, Angola e outros países africanos foram refúgio de muitas famílias lusas. Por aquelas terras que Deus abençoou, portugueses e autóctones, regaram com o seu suor as “lavras” opíparas e, “cantando e rindo”, brindaram lágrimas e sorrisos ao mesmo sol do cacimbo africano.

"Move-os o dinheiro"

Salazar não teve arte nem engenho para dar tom e cor à descolonização, o que foi mau; daí que, após a “revolução dos cravos”, tivessem chegado os iluminados pelo fogacho da sovietização, apressar o que não tinha tido pressa em nascer. Os próprios movimentos de libertação não se encontravam preparados para governar por terem sido surpreendidos pela vertigem dos acontecimentos.

E lá vieram várias centenas de portugueses com as trouxas às costas, sem eira nem beira, deixando lá as campas de muitas gerações de obreiros dum grande país que, hoje, poderia ser maior ainda. A descolonização ainda deve a algum historiador sério o tributo duma obra de referência e de justiça.

Trinta anos passados sobre o 11 de Novembro da independência e apagada já a febre primária da descolonização e do racismo, vemos levas e levas de portugueses chegarem a Angola. Não voltam porque não são os mesmos que de lá partiram. (Os “retornados” de então regressam, de quando em vez, com a lágrima no olho para matarem saudades e reverem o que foi seu). Pois bem, toda esta multidão de engenheiros, arquitectos e mão-de-obra especializada não desembarca em Luanda com saudades de nada; move-os o dinheiro – não diria fácil de ganhar – e um projecto de vida familiar mais desafogado num país – o nosso – onde até a couve tronchuda está proibida de engordar.

E voltamos a ter Portugal a construir Angola, com penteados distintos mas fatos-macacos iguais.

Não há dúvida de que a história se repete, graças à imponderabilidade do homem, esse ser irrepetível.

* Álvaro Teixeira
Fonte: Setubalense