Malabo — No poder desde o golpe de Estado em que removeu — e mandou executar — seu tio em 1979, o ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, conquistou 99,2% dos votos nos dois maiores colégios eleitorais do país, a capital, Malabo, e a cidade portuária de Bata, e foi declarado vencedor das eleições presidenciais antes mesmo do fim da apuração — em que se presume que manterá a mesma proporção.

Fonte: Globo

“Com as informações disponíveis é possível afirmar que Obiang será o vencedor dessas eleições”, informaram as autoridades em nota.

 

A nova vitória dará a Obiang, de 73 anos, mais um mandato de sete anos na Presidência, o que o manteria no poder até 2023. Presidente mais longevo do planeta, ele poderá ultrapassar a marca do ex-ditador líbio Muamar Kadafi — que passou 42 anos no poder — caso complete o mandato. No entanto, há rumores de que seu filho, Teodorín — atual vice-presidente e acusado de lavagem de dinheiro e desvio de verbas públicas — já estaria sendo preparado para assumir o cargo no futuro. Teodorín responde a um processo na França e foi alvo de investigações por parte do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Nos dois países, já teve bens apreendidos no valor de US$ 150 milhões.

 

Com a convocação eleitoral sendo realizada apenas 43 dias antes da data das eleições, o principal partido de oposição, a Convergência para a Democracia Social (CPDS), preferiu não apresentar um candidato, alegando falta de transparência democrática. A Guiné Equatorial ocupa o 168º lugar, entre 180 países, no ranking de liberdade de expressão da ONG Repórteres Sem Fronteiras. A média do país no Índice de Corrupção da Transparência Internacional entre 2005 e 2013 foi de 19 pontos em 100 (quanto menor, mais corrupto).

 

A reputação de Obiang gerou polêmica até mesmo no carnaval carioca. Vencedora do desfile das escolas de samba em 2015, a Beija-Flor de Nilópolis foi alvo de críticas ao apresentar um enredo sobre a Guiné Equatorial e receber um patrocínio avaliado em US$ 10 milhões do ditador africano.

Críticas ao regime no exterior

Outros seis candidatos puderam concorrer, embora com campanhas sob repressão, e obtiveram um punhado de votos. Na Espanha, ex-metrópole colonial da Guiné Equatorial, a secretária de Relações Institucionais, Carme Chacón, publicou um comunicado no qual afirma que “estas eleições não cumprem as mínimas garantias democráticas, e seus resultados não legitimarão o regime de Obiang frente à comunidade internacional, pelo contrário”.


Já o Partido Democrático da Guiné Equatorial, legenda do presidente, rebateu as críticas, afirmando que “como puderam comprovar todos os observadores internacionais, as eleições transcorreram num clima de paz e tranquilidade, de acordo como todos os requisitos legais estabelecidos”. No início da campanha eleitoral, Obiang fez um pronunciamento ameaçador num comício, procurando dissuadir um possível boicote às urnas.

 

— Sou o candidato do povo, e aqueles que não votam em mim estão rejeitando a paz e optando pela desordem — afirmou.

 

O resultado alcançado por Obiang, que faria inveja a qualquer líder de país democrático, só não impressionaria alguns de seus colegas que tiveram êxito ligeiramente melhor ao enfrentarem o eleitorado. Na Coreia do Norte, Kim Jong-un recebeu 100% dos votos em seu distrito ao ser eleito para a Assembleia Suprema do Povo, em 2014. E em 2002, na última eleição antes da invasão americana que o depôs, o presidente do Iraque, Saddam Hussein, recebeu todos os votos dos 11.445.638 eleitores que, segundo o regime, compareceram às urnas, num pleito que teve, novamente de acordo com as autoridades, 100% de participação.