Luanda - O chefe da Diplomacia angolana, Georges Chikoti, disse hoje ter informação de alegadas tentativas da União Europeia de financiar órgãos de comunicação social em Angola com vista a derrubar o poder atual denunciadas pelo diretor da Rádio Ecclesia.

Fonte: Lusa

"Nós também temos essas informações, de algum modo. Não as temos tão oficialmente assim, mas temos por algumas vias, de que há alguma intenção de criar alguns distúrbios, incluindo Angola e países vizinhos", disse hoje aos jornalistas o ministro das Relações Exteriores angolano.

 

Georges Chikoti reagia às denúncias tornadas públicas esta semana pelo diretor da rádio católica angolana, Quintino Candanje, sobre a existência de organizações internacionais, nomeadamente a União Europeia, que financiam órgãos de comunicação social em Angola com vista a derrubar o poder atual.

 

Explicou que em causa estão programas de financiamento a órgãos privados, com os quais, disse o diretor da Rádio Ecclesia - que beneficiou de um desses programas comunitários -, se pretende "provocar uma alternância do poder através da imprensa",

 

"Temos que nos preparar para este fim. Acho que é muito importante que a nossa sociedade e a nossa imprensa estejam preparados para que não vá no sentido do que alguns países gostariam de fazer aqui. Nós estamos relativamente bem avisados sobre algumas intenções, mas o mais importante é que os angolanos estejam atentos", afirmou ainda o ministro das Relações Exteriores.

 

O chefe da diplomacia angolana falava à margem de uma cerimónia oficial em Luanda, tendo avisado, questionado pela Lusa, que o país tem que se precaver contra estas ações, voltando a falar nas críticas públicas da União Europeia à decisão da Justiça, em Angola, que condenou 17 ativistas a penas de prisão de até oito ano e meio de prisão.

 

"Nós não fazemos Justiça para satisfazer a União Europeia e muito menos a União Europeia deve fazer pressão a Angola para que as coisas corram no interesse deles", apontou o ministro.

 

A delegação da União Europeia em Luanda divulgou na quarta-feira, em comunicado, que aguarda a devolução de mais de 149 mil euros, o remanescente de 234.736 euros de um programa de financiamento à Rádio Ecclesia de Angola, para o seu projeto de manter "melhor informados os cidadãos".

 

A posição foi uma reação à acusação do diretor da rádio católica angolana, Quintino Candanje, sobre a existência de organizações internacionais que financiam órgãos de comunicação social em Angola para derrubar o poder atual.

 

Numa dessas entrevistas, publicada terça-feira pelo Jornal de Angola, Quintino Candanje disse que a Rádio Ecclesia chegou a devolver recentemente à União Europeia 149 mil euros por não concordar com essa posição.

 

A União Europeia esclarece que em 2011 lançou um convite à apresentação de propostas, enquadrado no Instrumento Europeu para a Democracia e Direitos Humanos, ao qual a emissora católica concorreu e apresentou o seu projeto com o objetivo específico de "reforçar a capacidade [por meio de capacitação pontual] das equipas diocesanas, para facilitar o processo de recolha, tratamento e envio de magazines para a Rádio Ecclesia em Luanda".

 

A agência Lusa tentou obter mais esclarecimentos de Quintino Candanje, mas até ao momento sem sucesso.

 

Segundo a União Europeia, o projeto em causa finalizou em março de 2014, tendo a rádio apresentado os respetivos relatórios finais, cuja análise da execução financeira revelou que havia o montante de 149.631,27 euros não utilizados e que teriam de ser reembolsados.

 

"A 25 de maio de 2015 foi emitida uma ordem de reembolso, pelo mesmo valor, que até à data não foi liquidada pela Rádio Ecclesia", lê-se no comunicado.

 

A União Europeia diz serem "infundadas" as declarações do padre Quintino Candanje, salientando ainda que as mesmas "não correspondem aos objetivos, gerais ou específicos, dos programas da União Europeia".