Luanda - O Presente artigo surge, primeiramente, como tentativa de dar “espírito” (parece que já possui o corpo), a uma frase colocada com bastante ímpeto por uma estudante do país, que se afigurava no seguinte: “Este ano não vou mais pagar o Professor!” 

Fonte: Club-k.net

Coloquei-me diante dos meus “decrépitos” botões, embora míopes, mais, ainda, pensantes e questionei-me escangalhadamente: afinal, os salários dos professores são sacados a partir dos bancos ou então, os bancos depositam nos bolsos dos alunos para que estes, por sua vez, possam fazer chegar aos seus ilustres professores?

           

Como profissional docente, com algum profissionalismo coroado de ética e deontologia, forço-me a dizer que esta, talvez venha a ser a frase mais peçonhenta, mais vergonhosa, mais vil, mais sórdida e a mais mortífera, fundamentalmente num país que se quer cada vez mais desenvolvido a julgar pela esperança que deveria ser depositada ao sector da EDUCAÇÃO, se tivéssemos dirigentes mais comprometidos com a causa. Enquanto não os tivermos, continuaremos a assistir ao vivo e a cores os famosos “zungueiros” de notas (professores assassinamente corruptos) a deambularem nas diversas avenidas dos bolsos dos “pobres” alunos.

 

Como é que uma profissão tão nobre como a do docente é capaz de ser “pisoteada” até a este nível? Será a “famosa” crise? Que tipo de crise? Será por imitação dos nossos dirigentes? Quais são? Verdade seja dita, a corrupção é um vício, um cancro, um inferno, uma doença, que todos aqueles que a praticam, com sucesso, deveriam responder em juízo, ou melhor, deveriam ser endereçados ao armagedom. Claro, caso tivéssemos um sistema de justiça sério, preparado e disposto para curar esta enfermidade maligna e pandemónica.

 

O impacto da corrupção na sociedade angolana é cada vez mais forte e a todos os níveis. Subscrevemos piamente com o Dr. António Ventura, presidente de uma das organizações não governamental (ONG) angolana em prol dos Direitos Humanos, com a sua afirmação de que “a corrupção em Angola já afecta os direitos fundamentais”. Se ao nível da política, esse “cancro” já é infernal, imaginemos ao nível do sistema de Educação. Será que os nossos “queridos” professores corruptos e sem ética estão a ser devidamente inspirados pelos chefes máximos do país?

 

Entre nós, vemos e ouvimos casos de corrupção todos os dias, sendo que a elite política, mais concretamente a dos governantes e gestores públicos, ser quem tem chamado mais atenção da imprensa e dos cidadãos. A corrupção tem sido o grande mal que tem emperrado o desenvolvimento de África em geral e de Angola em particular. Mas quem é afinal o corrupto? De onde vem ele/ela?

 

Ora, os nossos corruptos nasceram entre nós: são nossos pais, nossos tios, nossos irmãos, primos, vizinhos, conterrâneos, cunhados, avós, padrinhos, do nosso grupo etnolinguístico, etc. Ou seja, eles são dos nossos, partilham algum laço connosco. Portanto, são pessoas com quem nos relacionamos directa ou indirectamente. A questão de fundo é que nós estamos no meio da teia da corrupção e não somos tão inocentes como pensamos ser. Ora vejamos: facilmente acreditamos que para se tratar um documento de forma célere numa repartição pública precisamos de pagar “gasosa”; alguns não estudam e no final do ano lectivo corrompem os “coitados” professores (moralmente mortos), para terem notas positivas. Outros ainda, como professores, escusam-se de esclarecer dúvidas dos alunos para colocarem estes últimos numa situação de vulnerabilidade na altura das provas; corrompemos o polícia para não sermos multados mesmo quando cometemos infracções; Usamos o caduco e vergonhoso slogam “o cabrito come onde está amarrado” para justificar actos indecorosos e ignóbeis que praticamos nos nossos locais de trabalho ou nos cargos que (duvidosamente) ocupamos. Usamos dos cargos que ocupamos para promovermos o clientelismo e estamos a nos tornar num estado neopatrimonial. Até mesmo muitas das instituições sociais que deveriam servir como pontos de equilíbrio da sociedade no combate à corrupção e outros males também se corromperam. Onde iremos, minha Angola?!

 

Será que a Corrupção em Angola vai continuar a ter assim tanta força?!

 

Como é que estes "professores" conseguem manter um ciclo do mal entre si e como “castigo” são favorecidos para vários outros cargos?!

 

Os que são os professores de má qualidade (péssimos, incompetentes, autoritários e corruptos), são também os professores mais favorecidos para ostentar títulos de professores de várias disciplinas e outros cargos na instituição, acumulando o dinheiro que ganham, e não desempenham devidamente as suas funções. Como isto é possível?! Como funciona a cabeça de um professor corrupto e com falta de ética?! Será que andam a ouvir os conselhos dos nossos dirigentes, muito mais “barras” na matéria de pôr a mão?

 

Segundo Ruben Alves Azedo, escritor, psicanalista, Doutor em Filosofia e professor emérito da Universidade Princeton (EUA), “os educadores são pastores de alegria, antes de serem especialistas na ferramenta do saber, devem ser especialistas em amor, intérprete de sonhos, proclamadores da alegria e da felicidade, tudo começa com um acto de amor”. Com esses “malditos” professores corruptos não será possível termos pastores de alegria, antes pelo contrário, com tais práticas ganharão o título de pastores da tristeza, da desgraça e de amargura ininterruptas. Se um professor é, por excelência um devolvedor de esperança, ou melhor, deve ser fonte de vida, agora entendo que os nossos professores tenham entendido mal o imo da mensagem. Entenderam tão mal que passam a vida a cobrar valores inimagináveis para que o negócio das notas termine rápido, no sentido de ir comprar algumas “cuquitas” em lata e geladas. Andam a escangalhar a minha Angola, ricamente pobre!

 

Se o inolvidável Nelson Mandela nos ensinou que “a educação é arma mais poderosa para transformar o mundo”, então é caso para se dizer que “o buraco” que Angola vem cavando, através de seus “ilustres” professores corruptos, vai já muito fundo e sem esperança para mais nada. Não será possível transformamos nada, nem ninguém, porquanto a “tal” Educação para transformar vem sendo comercializada pelos “zungueiros” modernos que, infelizmente, também, auto-proclamam-se de professores. Coitados! Quando a corrupção atinge já a Educação dos cidadãos é caso para se dizer que vivemos numa autêntica pandemia educacional, porque segundo Platão, “a educação deve ser direccionada à aquisição do conhecimento do Bem e da Verdade”. Tal posição em Angola é infeliz, porquanto com professores assassinos e “zungueiros” de notas, nunca será possível desenvolver qualquer coisa boa que seja. O sector da educação é tão sério que nem todos deveriam aceder a ele. Nem todos os “professores” deveriam ser trabalhadores do Ministério da Educação. Muitos, por uma questão de honestidade e humildade, deveriam mesmo dedicar-se ao cultivo de mandioca, visto que já deram provas que são péssimos “cultivadores” de mentes. Em Angola já não sei se a frase do americano Frederick Taylor “pessoas certas nos lugares certos”, tem alguma importância.

 

Se nos reportarmos ao Pernambucano Paulo Freire, “ser professor implica um compromisso”. Entenda-se que esse compromisso não é com o bolso e nem é com os kwanzas dos “coitados” alunos, mas sim com a felicidade e com o crescimento saudável dos mesmos. Professor sim, zungueiro, não. A Educação deve ser uma prática de mudança e de liberdade, e não de opressão, nem de negócio. Agora entende-se porquê que muitos quando atingem um cargo público ou privado, o objectivo supremo é desviar algum “kumbo”. Se o objectivo do aluno é superar o professor, então, se o professor for um corrupto, seus alunos serão autênticos assediadores, incompetentes e “zungueiros” em qualquer cargo a que forem sido colocados. Com esse ciclo de criminosos e assassinos da pátria, se lançarmos um singelo olhar para o futuro, constataremos o falecimento de uma nação e do seu pacato povo.

 

Portanto, o Professor corrupto é tão pernicioso para a Humanidade quanto a reunião conluial de todas as bombas nucleares, porque tem a capacidade de ceifar sonhos, degolar esperanças, reprimir talentos e abafar o desenvolvimento de qualquer nação. ESTAMOS, VERDADEIRAMENTE EM PRESENÇA DE UM ATENTADO CONTRA A HUMANIDADE. O nosso olhar impávido faz com que a corrupção se torne numa norma de convivência social entre nós. A corrupção está institucionalizada a partir dos níveis mais baixos da sociedade até aos mais altos. Leis e decretos não irão reduzir ou combater à corrupção, aliás Angola tem bonitas leis de combate à corrupção que lamentavelmente não se cumprem. Hoje, as pessoas já nem têm receio de exibir os bens ou a boa vida que usufruem graças às facilitações de esquemas de corrupção oficializada e vários subornos “legalizados”. Uma coisa deve, porém, estar bem clara nas nossas mentes, a nossa sociedade está a afundar-se, e se pensamos que o “safa‐se quem puder” é o que conta, estamos bem enganados. Nunca teremos um país com uma paz verdadeira, se não se inverter o actual quadro negro. Devemos continuar a denunciar e a condenar os actos indecorosos que nos apoquentam, mas devemos fazer um pacto com nós próprios para sermos homens e mulheres de carácter. Contudo, nem tudo está perdido em Angola e nem o futuro do país está decidido à partida, como apregoam os fatalistas (reis dos discursos falaciosos). A passividade permitirá que todos aqueles que quiserem nos escravizar, o façam sempre que quiserem. Será que não é melhor começarmos a apresentar soluções, a abrir portas, a criar fugas…? Depois, quando chegarmos ao fim do poço, as portas podem não se abrir e o colapso será assustadoramente irreversível.

 

Podíamos folhear o dicionário das velhas máximas e repetir aqui o ditado de que precisamos plantar para colher: se plantarmos o bem, teremos o retorno em dobro; se plantarmos o mal, colheremos a pobreza! Na óptica do inolvidável Nelson Mandela, “its allways impossible until it´s done” (sempre parece impossível até que alguém o faz). A ver vamos! Eu acredito na força aguerrida do povo angolano. Não há corrupção que resista. Tudo é possível, até mesmo o impossível…

 

   Não corrigir os nossos erros é o mesmo

       que cometer novos erros (Confúcio).