Lisboa - O alegado envolvimento do generalato angolano nos negócios em Angola foi hoje desvalorizado pela advogada Ricardina Pederneira e pelo antigo primeiro-ministro Marcolino Moco, constituindo "publicidade negativa" para o desenvolvimento do investimento no país.

Fonte: Lusa

Em declarações à agência Lusa, Ricardina Pederneira, que lançou terça-feira em Lisboa o livro "Faça Negócios Em Angola - O Guia Essencial para Investir e Fazer Negócios Nesta Economia em Rápido Desenvolvimento", salientou que a participação dos generais angolanos "não constitui constrangimento", apesar de ser visto como tal.


"Os generais são produto de uma guerra de 27 anos e todos os países com uma guerra longa produzem generais e empresários vindos da tropa. E, quem tenha a mente aberta há de perceber que tinham acesso à informação e aos projetos. Saindo da tropa, obviamente são muitas vezes donos de empresas", referiu.


Para a advogada, residente em Londres e especializada em direito comercial e empresarial, a partir do momento em que deixa de haver guerra, deixa também de haver qualquer envolvimento e os generais tornam-se empresários "iguais a qualquer outro".


"Não deveria ser um constrangimento. É, mas na cabeça das pessoas. Penso que não deveria ser. Sou contra e menciono isso de forma muito clara no livro", sublinhou.


Por seu lado, o antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco (1992/96) considerou à Lusa que a questão "serve um pouco parra arranjar um bode expiatório", destinado a "amedrontar as pessoas", e desdramatizou o alegado envolvimento dos generais nos negócios em Angola.


"Fala-se muito dos generais, mas acho que isso é um pouco arranjar um bode expiatório. Que generais? Quantos generais é que efetivamente pertencem a esse grupo restrito? Há generais que enriqueceram num período, inevitavelmente, em que tinham de enriquecer", afirmou.



"No período da guerra estavam nas zonas dos diamantes. Mas hoje dedicam-se ao negócio, não são governantes. Às vezes faz-se um pouco de mistura. Sei que nem todos são tão ricos ou beneficiados assim. Fala-se de generais para amedrontar as pessoas. Se discutirmos - discutir, não é derrubar - o regime, fala-se logo de generais, de pessoas que querem derrubar (o Governo)", argumentou.



Marcolino Moco, que foi o primeiro secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP - 1996/2000) e hoje é jurista e político, há a intenção de, com esta questão, "evitar-se a discussão do verdadeiro problema".


"Procura-se evitar a verdadeira discussão do problema, alegando que o problema é muito sério porque os generais podem levantar-se. Não vejo isso assim. O problema é o da exclusão da maioria angolana, que é feito por meia dúzia de pessoas, pela família do presidente da República", argumentou.


"Isso não é novidade. Há alguns que até já não deviam ser generais porque estão a exercer funções ministeriais. São esses que efetivamente preocupam", frisou.


"Depois, há aqueles que enriqueceram naquelas circunstâncias da guerra (fim em 2002) e hoje têm empreendimentos em Angola. Podem ter empreendimentos fora, mas não são tão impactantes ao ponto de condicionar governos. Governos não. Condicionou sobretudo o Governo português. Mas isso é só a família presidencial e pouco mais", disse.