Luanda - Pierre Bordieu, pensador francês, tem um texto em que diz: “Juventude é apenas uma palavra”. Acho que isso é citado em quase todas as obras que tratam da juventude, de meados do século 20 até o século 21. Ele diz que a juventude é apenas uma palavra, na medida em que ela não se organiza enquanto sujeitos, mas enquanto estrutura social.

Fonte: Club-k.net

É nesse sentido que se pode dizer que o jovem não é um sujeito isolado do restante da sociedade e dos problemas desta mesma sociedade, e como parte desta sociedade é de suma importância à participação dos jovens na vida pública do país. Afinal, como membro de uma sociedade, ele tem responsabilidade sobre os rumos que ela vai tomar.

 

Num contexto histórico em que muitas pessoas estão desanimadas com a política, é evidente que muitos jovens também vão partilhar desse sentimento. No entanto é interessante notar que, ao falar de política, muitos afirmam que não gostam. Mas quando se trata do tema da participação na vida pública, à maioria acha que é muito importante.

 

E participação na vida pública não é um acto político? A palavra política está muito associada ao governo, ao partido, mas se ampliarmos esta noção de política para a ideia de participação pública e coletiva pode crer que muitos jovens não só gostam de política como têm um forte engajamento, maior inclusive que qualquer outro segmento social.


Expressão politica

Houve mutações nas formas e conteúdos de participação motivada pelas novas configurações sociais que interferem nas motivações e condições objetivas que favorecem ou inibem processos de participação na vida pública.

A expressão politica por via do debate político é uma das formas de expressão predominante por estar presente o tempo todo nos grupos de jovens, dentro ou fora da escola. Nas conversas de corredores das escolas, nos espaços das igrejas, nas rolotes, a todo instante os jovens estão partilhando suas vidas, comentando sobre problemas que atravessam seus cotidianos. Tais partilhas são pouco valorizadas em sala de aula e em outros grupos. Nossa vida é composta por questões privadas e públicas. As questões públicas que atravessam nossas vidas como o desemprego, a qualidade na educação, o acesso a bens culturais, a circulação pela cidade estão latentes na vida da maioria da juventude. É preciso fazer o jovem entender que uma questão pesada para ele e que diz respeito à maioria dos jovens é algo público e deve ser levado a debate público.

Outra forma de expressão dos jovens são as actividades relacionados com atividades artístico-culturais, cabe destacar que é em torno das manifestações individuais e coletivas que se configuram as mais marcantes representações sobre anseios da juventude actual. São os jovens envolvidos com tais práticas que possuem maior visibilidade na esfera pública e que orientam a busca ou produção de sentidos simbólicos, estilos, identidades coletivas e atitudes sociais compartilhadas.

Participação politica

A participação política envolve a possibilidade de influenciar de forma efetiva as políticas locais, regionais, nacionais e internacionais. A participação política ocorre também, pela participação nas estruturas, atividades e no trabalho partidário, em grupos organizados e em manifestações orientadas a exercer influência na pauta dos actores políticos e institucionais dos governos.

A participação institucional em partidos políticos ou organizações similares é ainda a forma mais eficaz para resolver os problemas do país, não apenas os ligados aos jovens. Entretanto, os partidos ainda se apresentam como espaços pouco permeáveis à participação de jovens.

Jovens têm sido moldados por adultos de forma que se tornem receptores passivos dos programas sociais e das políticas públicas voltadas a eles, o problema dos jovens virou slogan e marketing político para alguns actores políticos.

Adam Fletcher, educador americano e fundador do Projeto Freechild, uma das principais organizações voltadas para práticas de engajamento e participação juvenil, defende a ideia de que é preciso parar de entender os jovens como incapazes de realizar suas próprias escolhas e de praticar o que ele chama de “adultismo”, que é tratar o jovem pela visão do adulto. É urgente quebrar o paradigma de colocar o jovem como alvo de políticas públicas pensadas por adultos, com o objetivo de serem apenas consumidores de produtos ou de ações feitas e pensadas por terceiros.

Entretanto ampliação da presença do jovem na elaboração de politicas encontra desafios nas duas pontas do processo. Se por um lado é necessário modificar a estrutura das instituições para que elas se tornem mais abertas para ouvir as demandas dos jovens, por outro é igualmente fundamental fazer a juventude se interessar pela política e criar uma cultura de participação mais ativa. De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) em torno de 16% da população do mundo tem entre 20 e 29 anos, mas essa faixa etária representa apenas 1,6% de parlamentares, dos quais a maioria são homens, de acordo com a UNFPA.