Benguela - Isaac Francisco Maria dos Anjos meteu-se a jeito com teses bem à medida dos críticos do fenómeno acumulação primitiva de capital.

Fonte: Club-k.net

Com um governador suficientemente ponderado, capaz de ignorar o egocentrismo e dar ouvidos aos seus colaboradores, talvez não estivéssemos aqui, enquanto observadores/fazedores de opinião e profissionais de comunicação, a desmontar as estapafúrdias que poluem o texto ‘’Os Corredores de Fora de Pista’’.


Seja como for, as nossas boas-vindas, Eng. Isaac dos Anjos, a esta modesta casa de confronto de ideias, sendo certo que, à semelhança de todos os cidadãos, tem direito a defesa, embora pensemos que nunca nos termos em que o faz.


Sem nunca ter desmentido nada, absolutamente nada sobre o essencial das críticas de que é alvo, Dos Anjos tratou, isto sim, de dar corda a denúncias de acumulação primitiva de capital, com as quais o Governo do MPLA, sabe-se, tem problemas de convivência.


Se já tiver lido o texto, o economista Filomeno Viera Lopes, funcionário da SONANGOL, muito crítico em relação ao processo de acumulação de riquezas mediante ‘’familiarismos e amiguismos’’, assinará por baixo destas linhas.


Do filho do amigo que o aconselhou em tempos idos ao filho do general que derramou suor nesta Benguela, como se não tivéssemos milhares de antigos combatentes com ‘’canucos’’ a penar, para não falar dos próprios ex-guerrilheiros, o governador de Benguela fez questão de apontar alguns dos vários cidadãos que têm merecido a sua confiança na hora da adjudicação de negócios. São os que se juntam aos compatriotas vindos da Huíla, donos de empresas que facturam com a construção de escolas, centros de saúde e uma ou outra obra tendente a expulsar a ferrugem que corrói a agricultura.


Sobre os negócios, bem mais chorudos, que o colocam mal na fotografia (urbanização, metrópole, Blue Ocean e companhia), guardados para próximas edições, nem uma palavrinha.


Espicaçado pelo Club K, o governante viu-se forçado a confirmar a venda de um quinhão da Caponte ao jovem Maya, num negócio supostamente intermediado por Anselmo Mateus, outro dos iluminados referenciados para amainar as críticas dos últimos dias. Foi preciso, como se vê, uma incursão deste site para que a opinião pública ficasse a saber desta e de outras engenharias caucionadas por um agente público que diz conhecer os ‘’limites de relações que envolvem pessoas e empresas’’.


Nem mesmo um jornalista da cabunga ignora o facto de Isaac dos Anjos estar a enfrentar focos de contestação no MPLA, por problemas ligados a relações humanas e má interpretação do lema ‘’distribuir melhor’’.


É verdade que, em nome da honestidade intelectual, deve ser salientado que alguns críticos, ligados a certos segmentos empresariais, viram fechadas as torneiras que chupam a massa do saco azul. Daí que, desesperados como nunca, sem memória de que tiveram momentos felizes na altura em que os donos e senhores da actualidade faziam travessia no deserto, façam questão de engrossar as fileiras das intrigas palacianas.


Este ‘’reconhecimento’’ não deve, todavia, servir de guarda-chuvas para o governador. Nem mesmo, diga-se de passagem, os feitos de Isaac dos Anjos em quase cinco anos ao leme da nau, entre os quais, como o próprio sublinha, as mexidas no Cavaco e em estradas da periferia.
Até onde julgamos saber, não há nenhuma prerrogativa constitucional a defender das críticas todos os que tenham feito ou venham a fazer algo por este país.


Se assim fosse, o Presidente José Eduardo dos Santos, que teve um papel fulcral, não necessariamente como arquitecto, na luta pela paz, o bem mais precioso do povo angolano, não estaria, hoje, na boca de ‘’meio mundo’’.

*jornalista