Huambo - Neste artigo, apresenta-se uma análise política acerca do processo de candidaturas para a presidência do partido político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a se realizar no seu 7º congresso previsto para o próximo mês de Agosto entre os dias 17 e 20.

Fonte: Club-k.net

Pelo que sei, até ao preciso momento, naquela associação política nenhum militante manifestou publicamente o desejo de se candidatar para a liderança do partido excepto o ‘camarada’ José Eduardo dos Santos que, quando na reunião ordinária foi tido como o militante que melhor performance granjeia para liderar o aparelho partidário ou, por sua própria vontade poderá indicar alguém; pelo que, por mais que ainda não tenha apresentado a sua candidatura de forma oficial, já não restam dúvidas que o Senhor presidente poderá recandidatar-se. E se assim o fizer, será reconduzido a presidência partidária; porém, o silêncio dos seus colegas de militância e a ausência de candidatos e candidaturas comprovam que implicitamente está a candidatura oficial do actual presidente do partido.

 

Acredito que não é por falta de vontade pessoal por parte dos ‘camaradas’ que, se verifica tal ausência de candidatos e candidaturas, pois, é um direito estatutário, mas um direito que não encontra pernas para andar, e se encontrar serão de areia… ‘democracia a excluir a democracia’. O que há é o medo de se enfrentar uma reacção por parte de indivíduos que corroboram na ideia de que “quem se candidata a liderança do MPLA, em desafio à pessoa da actual primeira face do partido é um potencial inimigo dos ideais do partido, da paz, da democracia e da pátria”, o que pode causa-lo a conotação por ‘contraposição’ ao líder dos camaradas, e como efeitos colaterais, correr o risco de ser-lhe retirado prerrogativas de dirigente e, por último, suspenso ou expulso das fileiras do partido; infelizmente é isso que o MPLA habituou-nos a constatar nas suas práticas.

 

   ‘Um candidato, uma candidatura’ possivelmente virá a ser o que no final do processo comprová-lo-emos na realidade, e como justificação poderão dizer que foi por vontade dos militantes, amigos e simpatizantes do MPLA que se pretendeu depositar mais um voto de confiança ao ‘camarada’ Dos Santos, mantendo-o na liderança do partido, o que já se tem verificado indirectamente segundo uma canção de encorajamento por parte de alguns indivíduos militantes desse partido dizendo: “camarada presidente continue só…”, como que a dizer — pois, garantes o nosso bem-estar, aquando a inauguração da zona agrícola de Quiminha no passado 04 de Abril do corrente ano.

 

A ausência de candidatura por parte de militantes ou, se permite, dos membros do bureau político do comité central, em pleno gozo de direito de ser eleito, substancialmente deixa evidente a desacreditação da liberdade de candidatura e da igualdade estatuída, o que inviabiliza qualquer iniciativa de democratização interna que ainda não atingiu um grau significativo, porque é difícil compreender como é possível — num universo de ‘milhões de militantes’ não surgir candidatos em altura e, unanimemente convergirem (aparentemente) na ideia de que o ‘camarada’ Dos Santos suceda a sua sucessão. Ao menos que se queira comprovar o velho ditado segundo o qual “num conjunto de indivíduos, todos de acordo ao mesmo ponto de vista, significa que ninguém está a ponderar”, que leva a concordarmos com Gianfranco Pasquino que dizia: “os partidos políticos de massas, pela sua extensa militância inviabilizam a democracia interna”, e Maquiavel acerca do cuidado que o “príncipe deve ter ao escolher o seu staff para não estar diante dos aduladores”, o que penso ser um dos muitos falhanços do presidente Dos Santos.

 

De uma outra perspectiva, teme-se que se houver um novo rosto na liderança não muito a favor da corrente eduardiana, permita-me que assim considere, esse, por sua vez, venha a fazer uma purga partidária a maneira de “Péricles que na Grécia antiga havia feito no seu partido”, com o objectivo de reforma-lo desde o ponto de vista estrutural e de geração (rejuvenescimento) da organização, no sentido de redinamiza-lo segundo as novas realidades democráticas, melhorando as suas acções de maneira que venham a tornar o “glorioso MPLA” mais aberto a sociedade, fazendo com que internamente, por exemplo, os militantes manifestem os seus desejos, expressando-os de livre vontade e criticando as práticas menos positivas sem temor nenhum.

Como forma de se contribuir para o desenvolvimento de democracia interna, e como vantagem desta, credibilidade e encorajamento aos militantes no sentido de se mobilizar outrem para aderência ao partidarismo político do MPLA ingresso assim como da sua organização juvenil, dever-se-ia integrar nas fileiras do partido mais intelectuais liberais com o propósito de assegurar qualidade em detrimento de quantidade. Nos últimos tempos, observa-se no vigor desse partido algum enfraquecimento quanto à sua actuação… o que se observa na atitude pública é menos identificação com o partido, por esse insistir nas suas políticas sociais menos persuasivas, fruto da não alternância nos cargos de direcção e chefia desde o ponto de vista estrutural, impossibilitando a ascensão dos mais novos, o que não compreendo, pois, quando lá chegaram eram jovens entre os 16 aos 35 anos de idade; e provavelmente, naquela época, ninguém dizia que “eles eram miúdos e que estavam com pressa de governar”, como dizem hoje em dia. E além do mais, muitos jovens dos dias de hoje estão mais bem formados e informados.

Penso verdadeiramente que não surgirão candidatos nem candidaturas; trata-se de disfarce de um círculo vicioso. E, por mais que a realidade venha reprovar-me, estes serão indicados pelo bureau político como também poderão advir dele, para entreterem o ambiente eleitoral que se avizinha. Portanto, entre eles o mais obediente poderá ser o vencedor da corrida… e ganhará, se o colosso do partido (JES) não for ao mesmo tempo seu adversário. Caso venha haver candidatos e candidaturas será para demonstração que desde o ponto de vista democrático o MPLA tem vindo a dar grandes passos, e que está preocupado com a democratização do país, isto é, se olharmos para este exemplo que ainda é desconhecido no partido, na qualidade de microestado.  

 

Aproveito o ensejo para chamar à atenção que, não é demais pensar-se que, a camarada Isabel dos Santos, filha do actual presidente da República poderá ser apresentada como possível sucessora de seu pai caso em 2018 o camarada JES efectivamente se retire da vida política activa como publicamente se anunciou. Nesta fase, esgota-se a possibilidade de José Filomeno dos Santos, outro filho do presidente vir a ser o seu sucessor, por ultimamente esse passar a ser conotado com alegacões de tendência a envolvimento em casos de corrupção. No entanto, antes da data prevista, a Sra. Isabel dos Santos poderá vir a ser apresentada como a única candidata, com a única candidatura a presidência do MPLA, por se tratar de uma cidadã que no âmbito empresarial destaca-se bem, sendo uma face já conhecida a nível nacional e também internacional, o que, se calhar, lhe tem feito granjear consenso no seio da actual elite partidária na qualidade de membro activa e, gozar de uma ligeira aceitação popular por ter algumas empresas (UNITEL, ZAP etc.) prestadoras de serviços públicos que, em relação ao Estado, têm oferecido mais oportunidades de emprego aos jovens. Desde o ponto de vista de gestão, a ocupação laboral da referida camarada proporciona-lhe experiência enquanto líder, fazendo com que a igualdade de género, tal como em Cabo-Verde pela primeira vez na história político-partidária do país, haja possibilidade de oportunidade para uma mulher entre os vários assentos do partido governante, tomar o primeiro, apesar de inquietações que pairam sobre a verdadeira fonte de sua riqueza pessoal; é incompreensível, alguém acima dos 40 anos de uma idade igual ou maior em relação aos anos de independência de Angola. Como é possível, ‘num pestanejar’ esse alguém tornar-se economicamente tão poderosa como um simples resultado de “vendas de ovos”? Se foi isso mesmo, de onde vinham os ovos? Quantos eram comercializados por hora, dia, semana, mês e ano? Quem foram os compradores leais? E onde é que os ovos eram comercializados? Entretanto, atendendo às vicissitudes políticas que assolaram o país e à situação socioeconómica que se viveu, esse assunto não parece passar de uma historieta como disfarce de um enriquecimento polémico.

 

Comparando o MPLA & ‘camarada’ Eduardo dos Santos e a UNITA & ‘maninho’ Isaías Samakuva, os da oposição mostram-se serem mais liberais, apesar de ainda terem que aperfeiçoarem-se. Porém, ambos os dirigentes acarretam a notoriedade de tendência a permanência na liderança dos respectivos partidos, visto que desde o passamento físico dos saudosos líderes Agostinho Neto e Jonas Savimbi, os substitutos continuam os mesmos; mas isso entende-se dadas as circunstâncias de efeitos do conflito armado, um mal que fê-los acomodar-se no vício do poder cronicamente enraizado nas suas psiques. Trata-se de um hábito cuja continuidade em partidos políticos tem se repercutido negativamente a nível interno assim como das instituições governamentais, nas quais observa-se casos de relutância em relação a alternância na assunção de prerrogativas institucionais. Entretanto, felizmente a política angolana parece começar a ser agraciada com iniciativas de atenuação desse problema e, como é de hábito, é ainda a UNITA a frente, com o exemplo demonstrado no seu congresso último; na sequência do anúncio do seu congresso, os seus militantes apresentaram as suas candidaturas num processo que culminou na definição de três candidatos que posteriormente disputaram a liderança do seu partido… foi uma demonstração de vontade de se fazer evoluir a democracia no partido, no seu processo de organização para assegurarem-se uma pré-disposição para melhor servirem a sociedade quando houver oportunidade para tal, o que considero ser um cumprimento estatutário de observância de liberdade e igualdade entre os ‘maninhos’. Não é menos importante, lembrarmo-nos do debate apresentado no canal televisivo privado — tv Zimbo no qual os concorrentes a presidência do partido do Galo Negro apresentaram as suas linhas de força, permitindo que os delegados votassem segundo o programa de liderança de cada um deles, se assim posso considerar… uma acção que não se prevê vir a ocorrer no processo de renovação à liderança do MPLA, pois, para os militantes do partido no poder, é normal que ‘ganhe a corrida quem habituou-se a percorrer o caminho sozinho’.

 

Por outro lado, apesar das aflições que tem incorrido, nos seus processos de renovação de mandato, a FNLA também tende a evoluir para abertura à variedade de candidaturas e respectivos candidatos, como já demonstrou no seu congresso último; uma iniciativa que, possivelmente se repetirá no próximo congresso — previsto para Fevereiro de 2017.

 

Sendo o xadrez da política angolana multipartidário, um aspecto de profissionalismo no processo de análise sociopolítica consiste em se reconhecer e apreciar a actuação sociopolítica de qualquer compatriota que se dedique a luta pelo bem-estar da sociedade humana; pelo que, neste artigo ecoa-se as iniciativas de progresso que têm estado a ocorrer na coligação CASA-CE, cujo vigor tende a revestir-se de uma qualidade de eclipse total à UNITA e proporcionar à atmosfera política nacional um fervoroso sentido de competitividade e entusiasmo ao pensamento político.

 

Em conformidade com o mais recente pronunciamento do líder dessa coligação o ‘companheiro’ Abel Chivukuvuku, o CASA-CE poderá, durante o seu congresso adiado para Julho do presente ano apresentar mais de duas candidaturas, o que se espera atenciosamente.

 

Nesse sentido, acredita-se que o MPLA tem estado cada vez mais antiquado, isto é, os seus passos a camaleão não o ajudarão a aperfeiçoar-se no sentido de se reorganizar e dirigir os destinos da nação segundo a evolução da sociedade humana, o que pressupõe incompetência ou falta de vontade política e, consequentemente uma série de fracassos no seu ser interno assim como na sua actuação social.

Enfim, penso e insisto em realçar que, por mais que não venha a ser o ‘camarada’ Eduardo dos Santos a concorrer pela sua própria sucessão, o que é difícil de vir a acontecer, durante o congresso haverá apenas uma única candidatura e um único candidato, quando deveria haver variedade, para pelo menos os angolanos sentirem que no ‘microestado’ que aqui considero ser o partido político, há a vontade de se permitir iniciativas que proporcionem evolução democrática que proporcionem ao MPLA avanço meritório na disputa política, de maneiras que dissipe a ideia de que — “por ter origens numa matriz ideológica socialista, esse partido não se adequa às exigências do regime democrático”. O MPLA pode, assim, reagir com práticas que convençam a sociedade de que, certamente, é possível — uma associação política que ontem foi fortemente comunista, hoje ser um escrupuloso aluno da democracia e acreditar que a sociedade humana não é imutável, é susceptível de incorrer mudanças.

 

Enquanto espera-se que o partido dos camaradas pense nisso, não se perde tempo na sua estagnação de relutância. É importante frisar que, enquanto o MPLA está aí a kutatayala, ou seja, a afligir-se de dificuldades, o povo tende a reconhecer e apreciar o pragmatismo das outras forças políticas que parecem estar a descobrir que potencial não é apenas o que elas têm, mas o que a sociedade pensa que têm.