Luanda - A educação é um processo sistemático e contínuo. A elaboração de suas leis e políticas exige seriedade e realismo, pois está em jogo o futuro de muitas crianças e muitos jovens, bem como o futuro do país.

Fonte: Club-k.net

Todo o país que se preze ao desenvolvimento sustentável deve criar um sistema político-educativo realista, que tenha como base as suas necessidades e que se adapte ao tipo de sociedade que se tem. Em Angola, as evidências mostram que estamos longe de atingirmos a excelência educativa. Aliás, se fazermos um estudo e uma reflexão profunda sobre as duas reformas educativas (1977 e 2001), deduziremos que foram feitas de forma precipitada, sem infraestruturas exigíveis e recursos humanos qualificados. Assim, penso que temos um sistema de ensino (assente no Artigo 79° da Lei Constitucional/2010 e na Lei de Bases do Sistema de Educação – Lei 13/01 de 31 de Janeiro de 2001) politicamente, filosoficamente e esteticamente boa, mas que na prática, geralmente pouco se faz sentir.

 

As políticas e metas da educação (como escrevi) são traçadas consoante a realidade e as necessidades do país. Cá entre nós, a formação média e superior técnica-profissional tem sido a prioridade desde a segunda Reforma Educativa (2001), isto tendo em conta a necessidade da qualificação da mão de obra nacional e a redução da mão de obra estrangeira. Com base a essa filosofia educativa, criou-se a RETEP (Reforma no Ensino Técnico e Profissional/2000).

 

Já se passaram muitos anos, e a qualidade dos nossos técnicos (médios e superiores), sobretudo nas áreas de mecânica e eletricidade continua débil, parece que os estudantes vão os institutos médios politécnicos e às faculdades de engenharias para se formarem em matemática, física e química (pois dominam mais as fórmulas e cálculos do que área técnica de formação).

 

A fraca qualidade desses técnicos, frutos de uma formação débil, abre caminho para a continuação da aposta aos quadros de outras nacionalidades, e por outro, mas com pouca incidência, em quadros angolanos formados no estrangeiro, e ainda, abre caminho ao descrédito e a crítica sobre a qualidade do ensino angolano, em que predomina sobretudo o divórcio entre teoria e a prática e falta de profissionalismo, vocação e perfil pedagógico em muitos docentes nesta área; a falta de laboratórios e oficinas, e quando os tem, ou é mal equipado, ou os docentes não têm domínio das ferramentas que lá se encontram, pois na sua maioria foram formados no mesmo sistema de ensino, e ao serem recrutados não beneficiaram de nenhuma formação básica ou treinamento.

 

No campo das ciências sociais, humanas e da educação, além dos objectivos gerais do curso, os jovens devem ser formados para terem uma atitude céptica, isto é, investigativa, crítica, criativa, questionadora, indutiva e, explicar e interpretar os fenómenos sociais e políticos. Mas a realidade social e política do país, mesmo quando os jovens saem bem formados (a minoria) nas universidades, obriga-os a dogmatizarem-se, a seguirem um paradigma de referência, ocultando-se e abstendo-se de ter uma consciência e opinião livre. Outros não o fazem fruto da precária formação. É preciso mudar o quadro, é preciso apostar na excelência, abandonar o empirismo, o imediatismo, a utopia, fazer um diagnóstico sobre os graves problemas que enfermam o nosso sistema de ensino e criar condições e políticas eficazes de modos a tornar o nosso ensino mais eficaz e competitivo a nível internacional.

*Licenciado em Filosofia e Educação