Huambo - Face a actual situação de degradação sociopolítica em Angola, as pessoas reagem segundo a sua própria percepção e efeitos das circunstâncias; vários casos de desilusão e lamentações reafirmam a indesmentível realidade de desassossego mental.

Fonte: Club-k.net

Desesperada, a esmagadora maioria dos pacatos cidadãos olha para os que diz-se serem servos políticos como os possíveis solucionadores de vários problemas sociais que os afligem. A aparição de Sr. Roberto de Almeida, vice-presidente do partido no poder numa sessão televisiva “especial Zimbo” na privada tv Zimbo ocorrida no passado dia 19 do corrente mês suscitara alguma expectativa de boas surpresas…. Tendo em consideração a sua aparente idade cronológica e tempo de serviço político-partidário, esperava-se que o compatriota fosse reconfortar o povo; mas infelizmente não foi isso que aconteceu; de entre as respostas à várias perguntas que lhe foram colocadas houve uma segundo a qual “o país vai bem”. Para meu desalento, o Sr. Almeida disse descaradamente que o nível de crescimento económico no país era superior em relação ao crescimento demográfico. O dirigente do MPLA foi além, afirmando que as vias rodoviárias estavam em boas condições de transitabilidade. Como resumo da entrevista, de um modo geral o Sr. Almeida esquivou-se da realidade referindo-se de assuntos sérios em linguagem deturpadora como que a mentir para umas criancinhas, e quando perguntou-se-lhe se não achava que o problema de irregularidades nas práticas sociais do partido motivava a oposição a criticar o governo, ele respondeu alegando que críticas ao executivo eram infundadas e que pressupunham falta de patriotismo; “em outros países, os cidadãos não dirigem críticas aos governantes”, disse.

Visto tratar-se de um assunto relacionado a vidas de milhões, no ritual de análise política, fiquei admirado e alarmado pela desviância desse compatriota, pois, as suas expressões podem acarretar consequências irreversíveis. As pessoas são sensíveis à informação e aos acontecimentos, e falar do que se passa nas suas vidas é uma responsabilidade delicada; e tal como se vê e se ouve, a situação sociopolítica não é favorável. É necessário que venha um cientista social europeu simpatizante do MPLA para dizer isso às autoridades angolanas?

Quando alguém que se diz ser servo político, perante desalento social diz que as coisas vão bem, passa a ser visto como sendo alguém insincero, e os cidadãos sentem-se indignados e incrédulos.

Apesar de várias objecções em relação a irregularidades no processo político, ainda parece não haver predisposição para se melhora-lo. Em pleno século XXI, em adição a educação sistemática que proporciona noções de justiça e verdade, estamos na era de informação em que, os que não têm a oportunidade de viajar ao estrangeiro e ver pelo menos o nível de organização sociopolítica nas repúblicas da Namíbia e África do Sul também têm noções de como se vive em outras sociedades na Europa, na América do norte, no Japão etc. A nossa sociedade está desnecessariamente desorganizada; desnecessariamente, porque pode-se mudar para melhor, e já existe o know how, ou seja, domínio profissional das coisas assim como predisposição para uma evolução significativa. O problema é os destinos da sociedade serem orquestrados por uma ‘gerontocracia’ cuja visão está restringida em ganhos do século XX. Alguns lutaram para se libertar o país do jugo colonial, posteriormente e com intervenção russo-cubana neutralizou-se as invasões zairense e sul-africana, erradicou-se o vigor do regime do apartheid na região da África Austral e promoveu-se a luta de libertação da República da Namíbia então sob controlo de racistas de Pretória… muito bem! Com assistência generosa russa e cubana, o MPLA agraciou o povo angolano com uma vitória histórica e, naturalmente um sentido de permanência e segurança. Por termos sido ajudados por regimes internacionalistas socialistas, tivemos que aderir ao socialismo.

Uma vez comprometidos com a democracia, aceitarmos as suas exigências não é estranho, pois o socialismo foi parte de uma longa trajectória; o socialismo foi uma via à um fim; foi uma situação transicional que eventualmente nos levaria à democracia. Os que hoje dedicam-se a luta pela evolução da democracia não foram eles que assinaram os acordos desse regime político, foram os próprios dirigentes da nação, a maioria dos quais continua a servir-se do poder; nós apenas estamos a tentar esclarecer os princípios de um regime que foi-nos agraciado pelos nossos líderes, pelo que não há nada de errado em se manifestar preocupação com as más práticas de governação. Repreensão ao regime por políticas sociais irrelevantes é um direito de cidadania, consagrado nos princípios da democracia e exerce-se naturalmente quando as circunstâncias são perigosas. Sr. Roberto de Almeida, porquê insistir no erro de se fazer parecer que as coisas vão bem enquanto a realidade é visível? Se a sua atitude foi um truque de esperteza, exagerou. A verdade sobre a desgraça do povo angolano não se oblitera; reconhecermos que está-se mal é uma noção de iniciativa de acção para melhoria. Alguns dos nossos mais velhos no governo precisam reconhecer que, considerando a idade cronológica, o seu nível de raciocínio não pode ir além da antiga ideologia comunista. Quero dizer aos meus compatriotas assim como aos amigos de Angola que, eu, na faixa etária dos 30 compreendo os meus compatriotas velhinhos do MPLA, pois também sou um nostálgico da era soviética, mas devo amistosamente aconselha-los que, as nossas lembranças podem ficar em memória viva da nossa história. As lembranças da era soviética fazem parte dos nossos rituais de entusiasmo e honra do nosso passado, pois temos tradição e, certamente isso é motivo de orgulho e estamos de parabéns por termos podido sobreviver a Guerra Fria – rumo ao século XXI.

Porém, na era de democracia, a realidade é outra, os desafios são mais complexos e, nas dificuldades que os nossos próprios dirigentes criaram-nos recentemente é necessário desbravarmos o caminho e alcançar uma saída dessa crise, uma crise que não é apenas financeira e económica, mas fundamentalmente moral.

Guerra é cruel e, em comunismo era mais fácil controlar a sociedade; mas em democracia é mais complexo e difícil. As pessoas são exigentes e as suas necessidades são insaciáveis; pelo que, os que diz-se serem servos políticos deveriam ser jovens competentes cujo vigor, fiel a ordem da Renascença, é proporcional às exigências de um Estado Democrático e de Direito que leve o país ao rumo de uma nação emergente. Além de estarmos social e politicamente atrasados, o processo é demasiado lento, como repercussão de velhice que, naturalmente prenuncia cansaço físico nos nossos velhinhos do governo. O progresso social não deve depender de caprichos pessoais de indivíduos ou grupos de indivíduos cuja visão restringe-se no século XX; a actual geração não deve ser refém de incompetências ou falta de vontade política por parte daqueles que parecem estar demasiado acomodados na exuberância pela sua riqueza material; é isso aí… um problema de muitos políticos africanos é que, quando estão de barrigas saciadas e acarretam em suas psiques um sentido de abundância, pensam que todas as outras pessoas estão assim; o povo está assim e é feliz. As autoridades angolanas são pessoas normais: têm olhos e orelhas; podem ver que o povo está aflito, mas continuam a comportar-se como uns extraterrestres, ou seja, que vivem num outro planeta. Andam aí com atitudes de aristocratas e enfunados de orgulho impulsivo… falam muito e pouco fazem. O governo tornou-se uma instituição na qual o som é mais veloz que a luz; somos vítimas de uma sociedade famigerada e cheia de malicia. A disney de mais velhos irresponsáveis e a cultura de perversão da verdade deve acabar, pois existem assuntos mais importantes para se tratar… em democracia não há pravdofobia, ou seja, o medo da verdade. A verdade, como uma semente caída num solo fértil, grela por toda parte, e tentar a ofuscar é como tentar esvaziar um banheiro com colher de chá enquanto a torneira está aberta.

As palavras do Sr. Almeida segundo as quais o crescimento económico no país é superior ao crescimento demográfico só tinham que ser proferidas por um militante do MPLA bem servido de direitos civis e políticos e abastecido de regalias a que somente eles têm primazia. Na realidade, quando um sistema sociopolítico é menos desenvolvido devido à incompetência pessoal ou colectiva dos políticos, as dificuldades ou estagnação afectam também o sector económico; recessão ou abrandamento económico, ineficácia e ineficiência das instituições estatais e governamentais e redução na oferta de bens e serviços públicos resultam em um atraso em relação ao crescimento demográfico; e quando o crescimento económico e o processo sociopolítico são incompatíveis com o crescimento demográfico –, então fica-se com a impressão de que há excesso de população humana ou superpopulação. E, num país do Terceiro Mundo, onde a taxa de natalidade não tem regras e as pessoas procriam-se como os ratos, o excesso de população é susceptível de enraizar-se em vários problemas que afligem a sociedade, tais como as dificuldades nas condições de habitabilidade assim como escassez de géneros alimentícios, escassez de água potável e electricidade, escassez de estabelecimentos escolares e hospitalares, ineficácia e ineficiência no atendimento médico devido a escassez de medicamentos, deficiências no serviço de manutenção de ordem e tranquilidade públicas; desassossego psicológico origina uma anarquia devido a qual cada um constrói à sua maneira e as bonitas urbes planeadas por europeus são cercadas com edificações desregradas, cada vez mais distantes dos centros das urbes e em condições que dificultam qualquer operação de patrulha policial… uma série de problemas que por sua vez resultam em corrupção tanto a nível governamental como da sociedade em geral, há uma iminência de agravamento em casos de falta de ocupação laboral, ou seja, desemprego, criminalidade e reverberação de casos de pobreza de pais para filhos e gerações seguintes.

Isso, só para se realçar noções dos perigos de má governação. Em conformidade com o anúncio no corrente ano dos resultados finais do censo populacional de 2014 pelo Instituto Nacional de Estatística, somos pouco mais de 25 milhões de habitantes, muito poucos em relação à população sul-africana; mais de metade –, mas as autoridades angolanas estão a kutatayala, ou seja, a afligir-se de dificuldades; não sabem como resolver os problemas do povo. Aqui ainda não há excesso de população; por enquanto, o único excesso que há é de relutância por parte dos que devem deixar os jovens ou os cidadãos mais lúcidos dirigirem os destinos da sociedade.

A ideia de “diversificação da economia” ecoa-se na comunicação social desde há muitos anos; na realidade, a nação, dirigida por ilusionistas, andou distraída com os lucros de comercialização do petróleo e, na sequência do agravamento na queda nos preços de barril de crude, a referida mentira degelou sobre uma verdade à vista, causa de vergonha e pânico… estamos todos envergonhados e a enfrentar consequências de irresponsabilidades de uns que diz-se serem ‘os melhores’ servos políticos que tendem a piorar a indignação popular ao querem, pala comunicação social, transmitir-nos a ideia deles segundo a qual a queda nos preços de barril de petróleo afecta a todas as nações tanto quanto afecta os angolanos. Anualmente, desde há vários anos fala-se de “combate ao lixo”, “combate à mosquitos”, “combate à malária”, “combate à fome e pobreza”, combate ao roubo, casos de suborno envolvendo agentes da Polícia Nacional cujos salários continuam insuficientes; em 2003 já se ouvia falar de contenção à fome e à pobreza, mas em 2016, através da mesma rede de comunicação social diz-se que, preços de produtos alimentares são demasiado elevados “porque o país não dispõe de estoques”, “a moeda nacional está a se desvalorizar”, “o dólar está caro”… uma série de assuntos indignantes. Após 14 anos de paz, em pleno século XXI, o Jornal de Angola, a mais importante fonte de informação governamental escrita – o seu interior tem sido a preto e branco e muitas das vezes, algumas páginas vêm fuscas –, e nos estúdios da rádio disponíveis, pelo menos localmente, não se discute assuntos sociopolíticos – nem as causas nem as consequências; os que diz-se serem servos políticos locais não parecem ser capazes de discutir com o governo central e sugerir noções de possíveis soluções aos problemas que nos afligem.

Luanda, previamente uma das cidades mais bonitas de África da era colonial, hoje está com lixeiras um pouco por todo lado; em vez de influenciar o país com ideias politicamente reconfortantes e evolução democrática, tornou-se um epicentro do vírus da febre-amarela que proliferou-se um pouco por todo o país através de mosquitos. O governo angolano, uma das mais importantes instituições políticas de África está a ser atormentado por mosquitos, não moskits os mísseis russos anti-navio; trata-se de mosquitos, insectos.

As palavras do Sr. Almeida segundo as quais as rodovias estavam em boas condições de circulação suscitam outro argumento; pois, além de não haver o suficiente de vias de acesso em condições aceitáveis, a reabilitação de que ele se referiu foi feita a maneira de autoridades corruptas.

Cá no Huambo, por exemplo, o município de Ekunha não tem ligação rodoviária directa com a sede da província em condições de transitabilidade aceitáveis. Construção de pontes no troço entre Huambo e Lubango via Cuima e pavimentação da via deveria ser uma prioridade, assim como a reabilitação da rodovia 1010[1] que possibilitasse ligação entre Huambo e Ondjiva sem se incorrer os prejuízos económicos de se dar volta por Lubango. Não se aceita que, para se viajar de Huambo por estrada à referidas cidades do sul em condições normais tem que se passar por Catenque na província de Benguela; é ainda mais inaceitável que, nos dias de hoje, para se viajar de Huambo à Luanda por estrada em condições de normalidade tem que se ir via Benguela, porque o troço directo via Waku-Kungu está degradado como se ainda estivéssemos naqueles tempos da guerra.

Em Maio de 2016, o Instituto de Estradas de Angola “começou” a reabilitar a estrada nacional 105 que liga as províncias de Benguela e Huíla –. A informação[2] ecoou como se se tratasse de uma primeira reabilitação de uma rodovia pouco importante, depois da guerra. Porque é que tem que se estar estagnados em excessos de reabilitações, em vez de se realizar um trabalho eficiente e definitivo?

Porque é que se restaura estradas de maneiras que as deixem susceptíveis de facilmente desmoronarem-se com quedas pluviométricas? Pensar que o troço entre Catengue e Chongoroi foi parcialmente destruído por chuvas que se abateram naquela região, causando dificuldade na circulação de veículos de longo curso é vergonhoso. Porque é que não se dá solução sustentável a problemas para se estabelecer um processo de desenvolvimento?

De acordo com uma emissão da Rádio Nacional de Angola (RNA)[3], o estado das estradas em todo o país foi radiografado no seu estúdio por especialistas em engenharia civil. Os experts exortaram por uma melhoria na qualidade das estradas do país através de uma rigorosa e permanente fiscalização e manutenção. A RNA avançou que, no seu programa denominado “tendências e debates” afirmou-se que houve pressa na reabilitação de estradas destruídas no decorrer da guerra. Um engenheiro, António Venâncio, apontou falta de manutenção, conservação e ausência de fiscalização como causas da degradação das rodovias… “Em função da pressa que houve sobre os empreiteiros e não só… devido à situação de guerra que tínhamos acabado de atravessar –, portanto, fizemos as estradas… digamos às escuras, a recuperação de alguns troços às escuras… ausência de uma fiscalização que fosse capaz de colmatar algumas lacunas em função dessa pressa de repor ou reparar alguns troços… ou a maior parte dos troços; e uma terceira componente que tem a ver com a manutenção deficiente ou mesmo até inexistente dos troços logo após a sua entrega provisória” –, disse.

Molares de Abril, responsável em análises laboratoriais do ministério da construção, por sua vez afirmou que, devido a pressa, que ele considerou como “emergência”, “nem sempre foi possível fazer estudos com abrangência que os manuais de engenharia recomendam; e portanto, a qualidade dos projectos, em alguns casos ficou, de alguma forma, comprometida”.

Bernabé Raimundo, um consultor de engenharia, realçou que as estradas do país duravam pouco porque havia má qualidade de projectos, e também má qualidade de execução das obras –. “O que está ali em causa, subjacente, primeiro é a má qualidade do projecto… começa logo aí; depois é a própria má execução… na selecção dos materiais para executar essas obras… porque, hoje em dia, essas mesmas empresas seguram em qualquer solo e o usam como base e sub-base das nossas estradas… porque uma boa estrada não é o tapete asfáltico que nós lá colocamos; uma boa estrada faz-se com uma boa selecção do solo que nós vamos usar como base e sub-base da mesma estrada”, disse.

O engenheiro António Venâncio defendeu maior intervenção dos fiscais de obras no sentido de se garantir a qualidade das estradas… “a lei determina que, o fiscal deve acompanhar a empreitada até a sua entrega definitiva; e a entrega definitiva de uma obra foi muitas vezes confundida com a entrega provisória, ou seja, quando o empreiteiro entrega as chaves da obra, muitos fiscais entenderam que aí acabava a sua missão e abandonaram a obra”, disse.

É isso aí, as pessoas querem viver por lei, mas os que deveriam ser os primeiros a promove-la são os que a violam.

Lembro-me dos dias dos tempos da guerra quando, por questões de segurança, veículos automóveis de todas descrições no troço Huambo/Benguela circulavam em colunas nas quais fazia-se transportar mercadorias extremamente pesadas, inclusive tanques de guerra do tipo russo T34[4]; camiões de grande porte, excessivamente carregados aos limites do possível, seguiam-se um após outros… os troços intactos das estradas construídas na era colonial resistiam; até naqueles atingidos por projécteis os buracos dificilmente se alastravam. Em 1990, aos 7 anos de idade, numa caminhada de Cubal à Caimbambo, na província de Benguela, ao longo da rodovia não vi vestígio de degradação.

Porque é que, no século XXI, enquanto os outros progridem – nós regredimos? Tudo isso é repercussão de desrespeito à pátria. O povo que vivenciou as mais devastadoras guerras de África deveria finalmente ser o mais experiente, o mais feliz do continente.        

A outra opinião de Roberto de Almeida segundo a qual quem critica uma entidade governamental por más práticas sociais não é patriota –, é contra-senso; pois, a pátria não é um dirigente do MPLA, a pátria não é um partido político… a pátria são os recém-nascidos e os seus berços, as crianças, os jovens, as mulheres e os velhos… os túmulos dos antepassados, os nossos rios, as nossas águas marítimas –, a nossa terra e as suas paisagens, o nosso espaço aéreo –, a nossa atmosfera social, as nossas tradições e o povo. Fidelidade a pátria, sempre… fidelidade ao governo –, só quando merece.

Infelizmente, as sociedades previamente relacionadas com a ex-URSS têm sido afligidas com casos crónicos de ditadura, corrupção, violação dos direitos humanos e pobreza.

As palavras do Sr. Almeida segundo as quais “em outros países as pessoas não dirigem críticas à governantes” são uma reflexão de pensamento autoritário, vigente em países como a Coreia do Norte, Síria, Irão, China, Cuba, Vietname, e outros onde os direitos humanos são ameaçados ou mesmo violados.

Penso verdadeiramente que, se o sistema sociopolítico comunista fosse verdadeiramente humanista, talvez não haveria a necessidade de se erguer o Muro de Berlim ou, esse não teria se desmoronado face à progressão da democracia, e nem haveria tanta controvérsia na URSS que a levasse à desintegração; creio que a União Soviética não pôde resistir à pressão ocidental por, também, ter ignorado a necessidade de uma evolução social essencialmente enraizada em princípios dos direitos humanos.

Já nos dias de hoje, os russos, herdeiros dos poderes da ex-URSS dedicam-se a um processo de reorganização interna e a evoluir para o seu lugar meritório de potência mundial; trata-se de uma potência ressurgente em todos os aspectos, principalmente na área sociopolítica (e não somente no que diz respeito a questões de segurança), a um ritmo de evolução que poderá ser sustentável se os próprios russos reconhecerem que, compreender os interesses russos e dedicar-se ao patriotismo a exemplo de Vladimir Putin é um avanço. Os actuais exemplos de recuperação na Rússia proporcionam experiência e oportunidade para os políticos previamente inspirados no antigo socialismo russo observarem várias de suas iniciativas de desenvolvimento, em vez de estarem distraídos em admiração pelos ganhos do passado.

Além da sociedade russa, as outras europeias, a japonesa, e a norte-americana são propícias para os angolanos se inspirarem, pois, existe a pretensão de se fazer de Angola um grande país –. Por cá na nossa região da África Austral, relações privilegiadas com os namibianos e sul-africanos podem ser as melhores entre os povos de África, atendendo aos níveis de organização social nas duas nações da anglofonia; democracia é o destino de Angola.

De acordo com Vladimir Putin em entrevista ao diário russo Pravda, publicada em Setembro de 2015, pretende-se que a Rússia seja um país competitivo, com um sistema social e político desenvolvido –, flexível a mudança dentro e fora do país. “A Rússia também precisa ser um Estado soberano, onde as pessoas possam ser felizes, enquanto parceiros da Rússia através do mundo possam ter a vontade de promover relações com a Rússia”, disse Putin, realçando que, a Rússia não precisa de um ditador, mas sim um líder legítimo que trabalhasse segundo o alcance dos seus poderes e de acordo aos interesses da maioria esmagadora da sociedade.

O antigo operativo do FSB[5] também referiu-se à corrupção, dizendo que tratava-se de um problema cuja contenção era difícil mas segura, e que, o pior seria não fazer nada sobre o mesmo. Putin, o ‘herói dos nossos tempos’, como se diz no Egipto, foi três vezes consecutivas classificado pela revista norte-americana Forbes[6] como o homem mais poderoso do mundo e ainda lidera, deixando o presidente dos Estados Unidos em segundo lugar.     

No entanto, a exemplo dos russos, os angolanos podem desintoxicar-se do resto do comunismo escarra-lo e purificar-se de mentiras. Quando trata-se de questões sociais, é preciso seriedade, porque qualquer assunto que afecte vidas de milhões é referência a pátria… e os mentirosos não são patriotas, pelo que, estão destinados a fracasso; por isso o povo sofre, o país está desorganizado.

O virtuoso povo angolano, um povo vitorioso, deve estar sempre pronto a defender as conquistas de revolução, dissuadir a persistência de exploradores e saber modificar os métodos de luta conforme se modificam as circunstâncias, e é necessário nos adaptarmos aos tempos do século XXI e compreender que, nos dias de hoje, as ameaças ao estado de espírito de uma sociedade não são apenas as de brutalidade e concretamente físicas; existem também em formas suaves e, mais do que em software, são, e em proporções alarmantes, mentais e acima de tudo políticas –. Não se permite que a sociedade se degrade por causa de políticas sociais irrelevantes. E, tanto o MPLA como a própria UNITA, o futuro partido a derivar da CASA-CE, a FNLA etc., deveriam certificar-se de que os seus propósitos para com o povo angolano são convenientes; pois, as pessoas são livres e questionam as circunstâncias, e gostam de saber por quem devem torcer em competições políticas. Qualquer atitude de se impor ao povo vontades de déspotas é inaceitável. Aqui, o espírito de resistência é inabalável… é mais poderoso do que qualquer aparato convencional de força, porque não há bala nem gás tóxico que possam impedi-lo de se difundir e ameaçar influências inaceitáveis. O próprio Albert Einstein dizia que, “a Política é mais difícil do que a Física”. E em assimilação de princípios da Ciência Política estamos bem servidos, e colocamos as nossas convicções a frente forçosamente, a força do pensamento.

Dizia o saudoso Dr. Agostinho Neto que, “persistir na ideia do debate é sempre acertado, porquanto os homens têm necessidade de se exprimirem, para não assumirem, para não assumir a mentalidade burocrática que rapidamente se torna caduca e não é capaz de acompanhar o desenvolvimento da sociedade humana”.

Não é um militante qualquer do MPLA de hoje que vai ofuscar os legados do poeta mais exclusivo de Angola e guia imortal de revolução.

No século XX, Luanda foi o mais importante posto de comando revolucionário de toda a África, e eu como angolano patriota sinto-me psicologicamente seguro e entusiasmado. Porém, após a reposição administrativa do Estado em todo o território nacional, a realidade sociopolítica é outra; é necessário que se partilhe as responsabilidades político-administrativas e, nós, no Huambo, temos bons argumentos sobre isso, pois, creio que existe a possibilidade de se assegurar condições e oportunidades para podermos evoluir juntos e fazer de Angola um país bom para todos.

Dizia Leo Tolstoi (1828-1910), um moralista russo que, “todo homem tem dentro de si o poder de compreender o que é bom e justificar a sua vida na terra esforçando-se em fazer o bem a si mesmo e a outrem”.

Por cá, a sede de Huambo tem o potencial de ser uma praça de convergência de ideias sociais e políticas de raízes locais e alcance nacional e, poderia auxiliar Luanda em administrar o país devidamente; é necessário que haja soluções sustentáveis à questões como protecção dos direitos humanos, os padrões educacionais e culturais, assimetrias regionais, segurança, etc. É preciso reforçar o Estado em Angola; insistir nos valores morais e encorajar a eficácia e eficiência das instituições.

Um individuo ou grupo de indivíduos fortalecerem-se eles mesmos em detrimento das instituições estatais e governamentais é um erro crasso.  

Nós não abandonaremos os ganhos da revolução de 1975; “o mais importante é resolver os problemas do povo”. Mesmo em dificuldades que nos são causadas por alguns, a luta continua e a trincheira não desabará… aquele patriota sem virtudes simples como animal qualquer e resolutamente dedicado a luta pelo bem-estar social, não desespere –, avante revolução! Se passa por dificuldades, se passa por inferno, vá só! Ninguém disse que revolução era fácil, pois, é um desafio duro que requer corações duros e tarefas duras; estamos numa escuridão, mas, o nosso espírito de superação é como a visão de uma coruja que, mesmo à noite vê. Sabedoria é luz, é protecção, e quem a assimilar será optimista e, enquanto os pessimistas encontram as dificuldades na oportunidade, o optimista verá a oportunidade nas dificuldades; e só o privilégio de poder partilhar com o leitor as conclusões de minha observação é uma realização sagrada que devo dedicar a todos cujos gestos, escrituras e artes levam à razão, ao gosto por palavras e à compreensão profunda da sua beleza e força.                      

Enfim, sendo o xadrez da política angolana multipartidário, um aspecto de profissionalismo no processo de análise sociopolítica consiste em se reconhecer e apreciar a actuação sociopolítica de qualquer compatriota que se dedique a luta pelo bem-estar social; pelo que, neste artigo ecoa-se a euforia causada por iniciativas de progresso que têm estado a ocorrer na coligação CASA-CE, cujo vigor tende a munir-se de alguma qualidade não menos considerável e que em algumas ocasiões parece eclipsar a UNITA e proporcionar à atmosfera política nacional um fervilhar de competitividade e entusiasmo ao pensamento político.

Aproveito a oportunidade para felicitar a UNITA por ter sobrevivido a morte de Jonas Savimbi, e dizer-lhes que pode-se superar as diferenças político-partidárias; prova disso é ter se estabelecido no país condições em que os militantes do partido do Galo Negro estão a reverdecer e, os tais da CASA-CE a amarelecer cada vez mais. Viva a reconciliação nacional! Alcançarmos a fase de democracia em que descobrimos a nossa força e pretendermos progredir, é um passo importante… a sociedade angolana é, no entanto, como um esférico de basquetebol; saltamos tão alto, porque uma vez caímos muito mal.           

“Qualquer sociedade que não consegue se rever no vigor e criatividade da sua juventude será deixada para atrás”

— Kofi Annan, Antigo Secretário-Geral da ONU (1997-2006).

 

*Inácio Vilinga é autodidacta em Política, e assuntos russos desde 1999.

 

[1] Estrada nacional 110; de Caconda à Matala na Huíla, a rodovia passa pela comuna de Capelongo ao longo do rio Cunene rumo à província do Cunene directamente.

[2]RNA; Caimbambo, Benguela. 21 de Maio, 2016.

[3]RNA, 21 de Maio, 2016.

[4]T34. Com peso de 30,9 toneladas e velocidade de 55 km/h, esse tipo de tanque, fabricado primeiramente em 1934 apareceu pela primeira vez na batalha de Kursk, Rússia, no inverno de 1941 no decorrer da Segunda Guerra Mundial; foi universalmente classificado como ‘o melhor tanque do mundo’. Tanques T34 foram vistos em Angola durante a guerra civil e principalmente contra o exército invasor sul-africano.  

[5]FSB (ФСБ) é a agência russa de serviços de inteligência que sucedeu ao KGB em relação a assuntos domésticos. A sigla significa Serviço Federal de Segurança da Federação Russa.

[6]Forbes é uma revista norte-americana dedicada a questões de negócios e economia; publica quinzenalmente artigos e reportagens originais sobre finanças, indústria, investimentos, e marketing; também apresenta relatórios sobre assuntos como tecnologia, e direito.