Lisboa - "O Pensamento Político dos Jovens Revús - Discurso e Acção" é a primeira obra do pesquisador [e docente universitário] Nuno Álvaro Dala, um dos 17 jovens angolanos condenados sob acusação pelo crime de "atos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores".

Fonte: DW

A obra foi apresentada em Lisboa, na sexta-feira (27.05.2016), no Café Hollywood, na Mouraria, em interação com a mulher em Luanda no dia de aniversário da filha Joaquina. O autor está preso numa cadeia na capital angolana, depois dos referidos jovens terem sido condenados por se reunirem para ler um livro e discutir sobre lutas não-violentas em Angola.


O autor, ausente no evento, convidou para o ato todos os ativistas e simpatizantes da causa da liberdade defendida pelos 17 jovens condenados a 28 de março (2016) entre dois a oito anos de prisão efetiva. Recaiu sobre Dala e outros 12 colegas a pena de quatro anos e seis meses de prisão.


A obra

Inteiramente original e dedicado à irmandade forjada pelo "movimento revú", "o livro traduz a estranha força que alimenta estes jovens ativistas, na sua luta desigual contra um regime totalitário e omnipotente, numa batalha escatológica pela salvação da alma angolana", lê-se na página criada pelo autor nas redes sociais.


Da obra, fala, à DW África, o amigo português José Fernando, um dos mentores deste lançamento em Portugal: "Ao mesmo tempo que não deixa de ser uma mensagem de revolta, que comporta uma certa raiva por todos os acontecimentos [ocorridos até aqui], as tentativas de manifestação, a repressão policial desde a Laurinda, o Nito Alves, incluindo todo o percurso que os jovens do Movimento Revolucionário fizeram até 2015, até serem presos pelo regime", explica.


Composto por sete capítulos, "O Pensamento Político dos Jovens Revús - Discurso e Acção" "poderá transformar-se num manual de culto e no caminho ideal para uma melhor compreensão do desejo dos activistas em relação à política do país e do mundo". A ideia é reforçada por José Fernando, autor do posfácio.

"Acho que é uma ideia de que o livro vai ser desejado por toda a gente. Pode ser uma charneira, um momento ideial para um ponto de inflexão. E esperemos que facilite também a transição. Ou seja, porque como disse o [escritor angolano] José Eduardo Agualusa e muitas outras pessoas dizem isso à boca fechada – e que se diz cada vez mais – Angola está à beira de uma explosão social, não é!"


O amigo angolano, João Leonardo de Sousa, escreve no prólogo, que o livro faz uma revisão histórica dos factos sucedidos em Angola, enfatizando particularmente o período de 2011 até à data, de junho de 2015, quando os 15 + 2 jovens foram detidos arbitrariamente.


Um livro ao Presidente.


Neste seu livro, Nuno Dala traz à tona, entre outros assuntos, uma cronologia dos principais factos da história recente de Angola, fazendo entender aos leitores que "tanto as eleições de 1992, 2008 e 2012 como a aprovação da atual Constituição em 2010 não destruíram a natureza autoritária do regime político angolano". "Antes e pelo contrário, estes acontecimentos somente modernizaram e sofisticaram as formas autocráticas de exercício do poder".

Na esperança de uma mudança, os editores vão, através da Embaixada de Angola em Lisboa, oferecer um exemplar do livro ao Presidente angolano José Eduardo dos Santos: "O objetivo é lembrar que há um caminho, que há um espaço de diálogo, que tudo tem o seu momento. É uma chamada de atenção, em nome do Nuno Dala, para uma abertura inevitável, para uma cidadania mais ativa, que as pessoas percebam que chega um momento em que é preciso saber dizer basta, em que não podem atropelar os direitos [dos cidadãos] até à indignidade".


O lançamento do livro no dia 27 de maio coincidiu com o primeiro aniversário da filha Joaquina, a quem – longe do pai –, se cantou os parabéns na apresentação pública em Lisboa. É com o objetivo de garantir o seu sustento a campanha de venda desta edição. As demais edições seguintes destinar-se-ão a apoiar os familiares de outros ativistas políticos angolanos.