A
Sua Excelência senhora
governadora de Cabinda

Assunto: Reflexão sobre a governação do território de Cabinda.

Sua Excelência ao longo do seu sinistro e zoilo consulado neste território, mesmo num olhar míope, tenho constatado ásperas situações, as quais me motivaram a escreve-lhe.


Antes porém, permita-me que aprofunde alguns aspectos úteis. Penso ao momento que me dispensará. Usando as faculdades da liberdade de pensamento, de opinião e de expressão que me são reconhecidas na magna carta universal dos Direitos Humanos, tenho a expor: Celebrado 40 anos da desnutrida independência (do MPLA) e 14 anos de Paz virtual, nós os sépticos, inconformados com o modelo da Paz e da democracia do partido no poder sob os auspícios do Senhor presidente JES continuamos incansavelmente a exprimir as nossas inquietações. (Si caecus caecum ducit ambo in fovaem cadunt).
-Quanto aos Direitos Humanos:


Todo o homem foi criado para ser feliz, isto é, viver em plenitude a sua existência, ''sendo mais e tendo mais''. Não temos um modelo prefabricado de pessoas. Sabemos que socialmente, a gente não nasce sendo já pessoa, mas deve construir-se positivamente realizando e atualizando todos os seus valores. Deve passar do ''Viver'' simplesmente no nível natural para o '' Existir'' como pessoa.


Este ''existir'' (ex-sistere=sair fora de Si) leva consigo o não massificar-se. É preciso sair do ''bando'', da massa, por meio da consciência crítica, isto é, fazer uma análise objectiva da realidade, para descobrir assim a verdade das coisas.


Quanto à democracia é uma expressão de origem grega, de mokratia que é composta por demo (que significa o povo) e Kratia (que significa poder). Neste sistema, o poder é exercido pelo povo através do sufrágio universal. Está claro que na democracia não há pajens. Sendo assim, nem todos devem ser dançarinos do kudurista senhor ordem superior! Ela nos oferece a imagem duma estrada com duas ou mais faixas de rodagem. (Non omnia possumus omnes) Senhora Governadora que culpa teria o povo quanto a vossa púdica indolência e incapacidade da interpretação da constituição angolana que, por sinal tem sabor letal do perfume do próprio regime? Um regime inóspito, violento e antidemocrático, que não poupa até as pacatas mulheres enfermeiras que revindicavam o seu direito de greve que é plasmado na Lei Geral de Trabalho no artigo 6º 1 na alínea C. Será que elas também insuflam tanta fobia ou ameaças de golpe de estado?


Excelência, se me permite fazer a resenha duma Historia de 2000 anos atrás, a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Jesus proclama-se Rei sobre Jerusalém), em Mateus 21.1-11; Marcos 11.1-11 ou em João 12.12-18 a maior manifestação da história Cristã de todos os tempos, tendo em conta este governo desequilibrado com politiquices mal trapinhos e democraticamente descalço, como Governadora, diante deste facto, qual seria a sua acção? Confesse-me se não mandaria blindados e tanques para reprimi-lo? Ou não passaria por um julgamento com características de um teatro de palhaços mal ensaiado? Não teríamos um JESUS portador de mochilas com engenhos explosivos desaparecidos no Malongo para destituir um governo soberano eleito democraticamente? E claro que é muito simples localizar um monturo, basta seguir a mosca em seu voo. (Preasumptiones cessant in claris)
Ajude-me a entender se Karl Marx vos teria deixado um dicionário no qual a palavra manifestação é traduzida em guerra? Num passado recente, a Mpalabanda realizou duas grandes manifestações, uma que mobilizou mais de 150 mil almas. Se não se importa prove-me Senhora Governadora, nas vossas estatísticas quantos feridos e mortos foram registados, em que hospital foram internados e em que cemitério foram sepultados?
Como posso ser indiferente quando constato uma infra-estrutura do seculo XVII oferecer incomparavelmente melhor rosto arquitetónico e durabilidade que as capoeiras descartáveis do seculo XXI?

O que me aconselha, Senhora Governadora?

Calar-me diante de tanta injustiça, miséria e corrupção?

Calar-me diante de tanta incapacidade e irresponsabilidade politico-governamental?

Calar-me diante de tanto LIXO que ganhou proporções incontroláveis? É triste que a tecnologia e a ciência ainda não nos ofereceu um dispositivo que possa gravar o cheiro, com muito respeito o colocaria em anexo para provar-lhe o lindo sabor do cheiro da nossa mísera cidade, salvo se a cortina ou o véu da maldade que nos cobre não transmutasse o lixo em flores e o cheiro em sabor naphtaline (C10Ha) ou em perfumes.


Camarada 1ª secretária do MPLA (Societas sceleris) este é o propósito do vosso partido e do Camarada Presidente de criarem os vossos hipnotizados militantes na pocilga?

Não basta a pobreza que nos impõe, agora temos que assumir a porquice. Que abominação!

Para epilogar, peço minhas sinceras deprecações por forçar a vossa mente a entender que tenho o poder e privilégio de pensar e de opinar.
Que Deus a abençoe, que te dê longa vida e muita saúde.

Deus abençoe o vilipendiado e sofredor povo de Cabinda que clama Eli, Eli, labá Sabatâni.

Escrito por ativista dos Direitos Humanos:

Francisco Zau Tati.

Cabinda aos 13 de Junho de 2016