ImageÁfrica do Sul - A retirada de todas as queixas contra Jacob Zuma, Presidente do ANC, é na verdade um evento de proporções históricas. Em primeiro lugar, marca o momento do fim do sonho Sul Africano.  Todos os altos ideais, todas as reivindicações históricas, todas as nossas orgulhosas noções de triunfo do espírito humano sobre a escuridão, tudo isso acabou. O sonho de um estado moral – que longe dos objetivos dos cínicos, era o sonho dos idealistas – Não passa  agora de um defunto. 

 Na verdade, esses sonhos já desapareceram há muito tempo atrás, mas só agora é que está claro para todo o mundo e não pode mais ser negado. Para melhor ou para pior, somos agora participantes comuns do mesmo organismo político global. De certa forma, isso não é lá uma coisa tão terrível. Em vez de gritar por aí que somos especiais, agora só temos que coçar a cabeça e esgravatar no lixo e na porcaria escondidos debaixo dos nossos  chapéus  e tentar voltar atrás para achar o caminho certo, tal como toda a gente nesse mundo Africano. 

Já não estamos em condições de reivindicar nada: nenhum lugar especial, nenhum direito especial, nenhum privilégio especial. Já não somos os fazedores de nenhum milagre, somos apenas mais outros sujos participantes, no carnaval da política global, sujeitos aos mesmos desejos básicos que suportam todos os líderes altivos, embora tenhamos sempre a esperança de encontrar uma pessoa decente, que possa levar a nossa bandeira, carregar o nosso destino. . .

Nunca antes a verdadeira natureza do Estado Sul Africano, foi tão óbvia. Nunca ele se mostrou tão claramente ao público, revelando abertamente o que é. Embora não queiramos, a dura realidade é que vivemos num estado quase totalitário, e as regras que se aplicam aos estados onde predomina um único partido, também se aplicam a nós, embora continuemos a fingir o contrário.

Os Estados dominados por partidos únicos, têm as mesmas características dos Estados dominados por UMA SIMPLES PESSOA, e são vulgarmente conhecidos como DITADURAS.  A regra número um nesses Estados, é que há um conjunto de leis que se aplicam ao cidadão comum e existem outras regras, para o ditador e o escalão mais alto da classe política. Eu penso que esta é a verdadeira razão pela qual as pessoas comuns, particularmente as que querem fazer negócio, entram na festa e pactuam com os corruptos dos governos dominados por partidos únicos, embora dentro deles saibam que o que estão a fazer está errado. Na verdade, eles não têem escolha pois, lhes é claramente dito: “Olha trabalha para nós e vais ver que as leis que se aplicam a nós também vão se aplicar a ti de contrário, estarás sujeito às leis que se aplicam a ralé...  e isso não será bom nem para a tua saúde, nem para os teus negócios”.
 
Não importa o quanto os partidários de Zuma reivindiquem o contrário. Fontes independentes, aqui no país e no estrangeiro, verão a decisão da NPA como um sinal de rendição. Será fascinante ouvir que argumentos que NPA irá arranjar, para justificar a sua decisão. Estou seguro que eles vão dar explicações, vão tentar encontrar argumentos credíveis pelo menos para eles próprios, para se convencerem de que tomaram a decisão certa. É que em termos de política realista, eles não tinham na verdade outra escolha. 

Desde que o estado abriu seus cofres à Zuma e sua turma, ele e qualquer outro funcionário público ladrão, sempre tiveram a opção de driblar o sistema e saírem impunes. Zuma perdeu 90% dos casos que havia contra ele, mas como não há nenhum limite dos casos de que ele pode ser acusado, o NPA viu-se confrontado com a escolha de Hobson: Ou luta neste caso ou, não luta mais em nenhum outro. Preferiu  se sacrificar neste caso, que foi trazido a tribunal com o acusado fazendo tentativas constantes de tornear pontos vitais da lei, dizendo estar apenas “defender os seus direitos” , tentando assim ganhar aí, a credibilidade perdida em outros lugares.

 A pergunta com que se confrontam os teóricos partidários da justiça na África do Sul é como é que se pretende restabelecer a credibilidade. O que eu gostaria de ver é não só um compromisso público com luta anti-corrupção, mas também um compromisso para se acabar com pelo menos estas três formas de corrupção: 

Primeiro - o ANC tem que se comprometer a acabar com a prática de levantar fundos, forçando a adjudicação directa de projetos para as companhias que estão sob o seu controle, que assim participam em projetos públicos. De todos os milhares de pequenos actos  de corrupção que vimos, este tende a ser um dos mais perniciosos. Degrada os concursos públicos, faz troça dos processos transparentes, e estabelece precedentes terríveis. Se ao ANC como governo nacional lhe é permitido se auto conceder benefícios em projetos de interesse público, então qualquer outro partido que controle um município por exemplo, pode fazer o mesmo. 
É fascinante constatar como é que houve tão poucos protestos, quando da notícia de que ANC tinha ficado com 25% das acções da companhia “Hitachi Power Africa”, que faz parte de um consórcio que ganhou contratos para fornecer caldeiras para as duas estações geradoras de energia eléctrica movidas a carvão pertencentes á Eskom. Perante isso,  as  indiscrições de Zuma se tornam  patéticas. O negócio rendeu cerca de  R5,8bn (Oito vírgula cinco bilhões de rands). O ANC prometeu “rever o caso" há um ano atrás. Estranhamente até agora, nada aconteceu. 
 Segundo: o ANC tem que parar com a prática de meter  pessoas pertencentes ao seu escalão mais alto, nas indústrias que elas supostamente têem de  controlar. 

Foi-me dito recentemente, por uma pessoa muito bem  informada, que a Departamento de Estado  De Energia e Minas,  participou na escolha de companhias que concorreram para a exploração de minérios. Não é de estranhar portanto, que grande parte dos funcionários seniores do Departamento, tenham começado a aparecer como sócios das companhias mineiras, ganhadoras dos concursos. Esta não é a nossa forma peculiar de corrupção mas,  esta última crise financeira mundial, é parcialmente conseqüência do facto de  que os agentes reguladores do mercado se posicionaram nos bancos que eles próprios deveriam em princípio controlar.  As conseqüências estão aí, á vista de todos. 

Terceiro:  O ANC tem que fixar um limite de quanto do dinheiro dos contribuintes pretende  gastar para permitir que os seus afiliados “defendam os seus direitos ". Pessoalmente não consigo entender o porquê que os funcionários públicos constituem um caso especial.
Presumivelmente, há muitas pessoas inocentes que são acusadas de crimes e quando precisam de assistência  jurídica, essa ás vezes é inadequada, mas existe. Porquê que os funcionários  públicos têem o direito de fazer reivindicações adicionais á custa do  bolso dos contribuintes, para defender o que eles chamam de  “seus direitos”?

Pessoalmente eu acho que mais do que por qualquer outra coisa, esta é razão do porquê que  nós acabamos caindo nesta bagunça. É importante que os servidores públicos temam não só o serem  condenados por  corrupção, como também de serem acusados de corrupção. 

Nada disso deveria ser impossível de implementar para um partido como o ANC. Ao persistir nesse  “deixa andar”,  tacitamente  se permite que outras pessoas ou partidos, incorram nas mesmas práticas. E é aí é onde devemos diferir das ditaduras.  Este é o “calcanhar de Aquiles”  do sistema de partido único dominante, que os partidos da oposição deveriam golpear.  Mais do que um político enfrentando acusações, o que todos nós queremos ver é um sistema político em que imperem a honestidade, a moral  e a ética, desde topo á base.   É pedir demais? 

 Fonte: All Africa.com