Luanda - O sociólogo João Paulo Ganga (JPG) aperfeiçoou a nossa conhecida teoria do cabritismo. Oficialmente “patenteado” pelo já extinto jornal Angolense, bem lá nos primórdios de 2000, o cabritismo é a “doutrina” que estabelece que a cabra come onde está amarrada. Amparados por essa ferramenta teórica, os governantes angolanos não se têm feito de rogados.

Fonte: Club-k.net

Num recente pronunciamento na TV Zimbo, a propósito da controversa nomeação de Isabel dos Santos para a presidência do Conselho de Administração da Sonangol, o sociólogo JPG surpreendeu os telespectadores com uma teoria que casa o cabritismo com o nepotismo.


Apresentando-o como uma prática indissociável da nossa cultura (evocou a composição das lideranças de alguns partidos políticos como prova), o sociólogo, que as hostes oficiais passaram agora a aclamar, dá como inglório qualquer esforço de extirpar o nepotismo das boas práticas de governação.

Como o toma como invencível, JPG propõe um caminho para mitigar as nefastas consequências do nepotismo. E qual caminho vem a ser esse? O estabelecimento de quotas para o nepotismo! Assim mesmo.


Nos termos do que foi sugerido pelo sociólogo, o nepotismo ganharia fórum de prática legal, amparada em regulamentos próprios.
Naquele debate (?), João Paulo Ganga não trocou por miúdos o seu raciocínio. Muito provavelmente por falta de tempo, ou porque o moderador não prestou a devida atenção à extraordinária proposta que o sociólogo sacou do bolso para sustentar a defesa da decisão presidencial que nomeou Isabel dos Santos para a presidência da mais importante empresa pública deste país.


Mas como as cartas estão lançadas, temos como certo que o distinto sociólogo não nos levará a mal se nos permitirmos a algum exercício de especulação.


Vamos, então, supor que enquanto mais alto Magistrado do País se ao Presidente da República fosse consentido nomear, para o Governo e outras instituições que tutela, 150 familiares directos; se ao Vice-Presidente da República fosse atribuída uma quota de 100 familiares drectos; aos Ministros de Estado 95; aos Ministros e Governadores de província 90 e no fim da escala aos administradores comunais fosse permitido nomear até 10 parentes, o que em muitos casos inclui não apenas mulher, filhos, sobrinhos mas também amantes e seus verdadeiros maridos, enteados e por aí adiante, teríamos, como primeira consequência, que só teriam acesso aos principais postos da administração a parentela dos titulares.


A proposta do sociólogo para acomodar o nepotismo resolveria, no imediato, o problema dos titulares de cargos públicos, muitos deles permanentemente assediados por familiares em busca de emprego e outros favores.

Mas deixa sem resposta questões como:

a) A fixação de quotas para o nepotismo, o que implicaria necessariamente a sua aceitação como prática legal, não contenderia com a Constituição do nosso País, à luz da qual todos somos iguais perante a lei?

b) A aceitação do nepotismo como prática legal não seria um poderoso desestimulo à formação académica e cultural dos jovens angolenses?

c) Onde iria buscar estímulos para estudar ou para trabalhar empenhadamente um jovem cuja ascensão profissional e material estivesse garantidamente assegurado por via dos seus laços sanguíneos?

d) De que modo, um cidadão comum, sem qualquer vínculo de sangue com um governante, poderia chegar a um lugar cimeiro na administração pública?

e) De quê adiantaria ter formação superior se ela não teria serventia nenhuma para a promoção individual e profissional?

A regulamentação do nepotismo, proposta por João Paulo Ganfa, é um avanço para a teoria do cabritismo. Ao invés de uma só cabra, é a parentela toda dela que se juntaria ao festim.

Mas, consagrar o nepotismo como uma prática aceitável seria um violento e inaceitável retrocesso civilizacional.


Ao sociólogo João Paulo Ganga assiste toda a legitimidade de se bater a favor da decisão presidencial. Mas não lhe fica bem, nada bem mesmo, defender teorias que, se hipoteticamente acolhidas, poderiam significar um gigantesco passo atrás.