Luanda - Um inquérito do Ministério do Interior de Angola concluiu que disparos de armas de fogo, «retiradas indevidamente» à polícia, efetuados por militantes da UNITA, causaram a morte de duas de três pessoas, na província de Benguela, no mês passado.

Fonte: Lusa

Em causa está o incidente registado no dia 26 de maio, que envolveu uma delegação parlamentar do maior partido da oposição angolana, na localidade de Cambulo-Capupa, município do Cubal, província de Benguela e simpatizantes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder.


Os resultados do inquérito foram segunda-feira apresentados em conferência de imprensa pelo diretor do Gabinete de Estudos, Informação e Análise do Ministério do Interior, comissário Aristófanes dos Santos.


O inquérito concluiu que o problema, que resultou na morte de três pessoas e o ferimento de seis outras, duas delas por disparos de armas de fogo e as restantes por espancamento, dois dos quais efetivos da Polícia Nacional, alegadamente atacados por supostos simpatizantes da UNITA (União Nacional para a Independência total de Angola), foi a retirada de duas bandeiras do partido MPLA.


A retirada das duas bandeiras, acrescentou Aristófanes dos Santos, "levou com que os militantes do partido MPLA se revoltassem, originando os tumultos ocorridos".


O Ministério do Interior considera que a atuação da polícia ao não efetuar qualquer disparo, conforme solicitado pela delegação parlamentar da UNITA, chefiada pelo seu líder, Adalberto da Costa Júnior, justificou-se pela "prudência", evitando colocar em perigo vidas humanas.


Acrescenta que "o incitamento à utilização das armas de fogo, a agressão física e subsequente desarme dos efetivos policiais por parte de simpatizantes do partido UNITA, independentemente das circunstâncias, constitui crime grave".

"Quanto à utilização das armas de fogo caberia ao comandante da força pública no local avaliar as circunstâncias da necessidade ou não do uso da força", salientou.


Em consequência, foram abertos dois processos-crime, em que são participantes o secretariado do comité municipal da UNITA, por atos de agressões físicas, danos materiais, fogo posto e ofensas corporais, que resultaram em morte, e a Polícia Nacional contra elementos da UNITA, por uso e posse ilegal de arma de fogo, concorrido com homicídio voluntário.


"Em face dos acontecimentos, que indiciam o cometimento de crimes graves, a comissão propôs à direção do Ministério do Interior, a remessa dos resultados do presente inquérito à Procuradoria-Geral da República, para o devido procedimento com vista ao apuramento da verdade dos factos e a responsabilização dos seus autores", solicita do inquérito.


Sobre a comunicação às autoridades locais da intenção daquela visita, o resultado do inquérito avançou que foi apresentado o programa de visita, onde se incluía a deslocação ao município do Cubal, comuna da Capupa e quatro dias depois a pretensão de "visitar a aldeia de Cambulo pelo facto de lá se encontrar uma família do seu partido, que segundo relatos estaria a ser maltratada".


Aristófanes dos Santos lamentou que a inclusão dessa visita a Cambulo não tivesse sido comunicada atempadamente pelo comando municipal do Cubal da Polícia Nacional à delegação provincial do Ministério do Interior, facto que levou a que a primeira reação daquele ministério tivesse dito que não havia conhecimento antecipado da visita àquele local.


Aristófanes dos Santos, que disse que estavam no local cerca de 200 pessoas para um número de 16 polícias, frisou que caso tivesse sido inicialmente manifestada a intensão da UNITA chegar a zona de Cambulo, teria sido avaliada a correlação de força e aumentado o número de efetivos.

 

"Razão pela qual não se poderia fazer nem um tiro sequer e vê-se claramente que quando foram disparados tiros a situação tornou-se insustentável", afirmou Aristófanes dos Santos.

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