Luanda - O Presidente angolano disse hoje que o inquérito do Ministério do Interior aos incidentes mortais envolvendo deputados da oposição, em Benguela, duramente criticado pela União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), responsabilizada nessas conclusões, vai ser "aprofundado".

Fonte: Lusa

José Eduardo dos Santos falava em Luanda, enquanto presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), na abertura da quarta reunião extraordinária do Comité Central do partido, destinada a preparar o congresso eletivo de agosto próximo, tendo-se referido diretamente aos confrontos, que em maio provocaram três mortos.

 

"Lamentamos os incidentes verificados no Cubal, província de Benguela, entre militantes da UNITA e do MPLA. As entidades competentes da polícia e do Ministério do Interior estão a tomar providências e informaram-me que estão a aprofundar o inquérito para determinar corretamente o que se passou", anunciou José Eduardo dos Santos.

 

O líder do partido e chefe de Estado, que anunciou que abandona a vida política ativa em 2018, após as eleições gerais de 2017.

 

"Tudo deve ser feito para evitar que situações como estas voltem a acontecer. Ninguém deve fazer justiça por mão própria. Os cidadãos e pessoas coletivas, partidos políticos ou associações devem recorrer às autoridade quando alguém tentar violar ou violar de facto os seus direitos", exortou.

 

"Nas próximas eleições, a todos os níveis, deveremos aprofundar o caráter autocrítico de algumas das nossas intervenções, atitudes e conclusões, para corrigirmos as nossas insuficiências, sobretudo no que diz respeito à observância dos valores imorais, éticos e cívicos", disse, numa mensagem para o interior do partido.

 

A UNITA, maior partido da oposição, exortou terça-feira o Ministério do Interior de Angola a esclarecer porque é que "está a proteger milícias" ilegais que "realizam ataques contra deputados".

 

A posição surge na sequência do resultado de um inquérito do Ministério do Interior apresentado segunda-feira, em Luanda, sobre um incidente ocorrido na localidade de Cambundo, comuna de Capupa, município do Cubal, província de Benguela, no mês passado, que envolveu uma delegação parlamentar da UNITA e militantes do MPLA, partido no poder, que terminou com três mortos e seis feridos.

Em conferência de imprensa, o líder da bancada parlamentar da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, levantou várias questões sobre o inquérito, entre as quais "a quem o Ministério do Interior está a querer proteger".

 

O inquérito responsabilizou militantes da UNITA pelos incidentes mortais, ao realizarem disparos de armas de fogo, "retiradas indevidamente" à polícia.

 

Na base dos tumultos, concluiu ainda o referido inquérito, esteve a retirada de duas bandeiras do MPLA, que a UNITA alega que estavam colocadas na residência de um militante do partido.

 

Adalberto da Costa Júnior manifestou indignação pelo facto de terem sido remetidos à Procuradoria-Geral da República "um processo-crime aos autores dos disparos que causaram a morte de dois cidadãos e nada remeteram contra quem atacou deputados e provocou a morte de outro cidadão".

 

O líder da bancada parlamentar da UNITA disse que com o resultado do inquérito apresentado, "ficou claro que o Ministério do Interior autoriza assassinar cidadãos quando em causa está a retirada de bandeiras".

 

A UNITA considera que o Ministério do Interior "alterou intencionalmente toda a dinâmica dos factos", lançando um apelo para que se ponha fim à "impunidade e levem aos tribunais os inúmeros autores de vários crimes naquela região".

 

Para o maior partido da oposição angolana, "a proteção aos criminosos é um forte incentivo à realização de novos crimes".

 

A UNITA denunciou anteriormente que na origem do caso estiveram elementos alegadamente afetos ao MPLA, dizendo por isso ter-se tratado de um caso de intolerância política.