Huambo  - ‘À sul’, ‘southerner’, ‘meridional’–, são, como lembrança, termos sinónimos que pairam em minha psique e caracterizam minha identidade quando questiono-me se o nosso lugar regional é a África Central ou a África Austral. Refiro-me à minha identidade como indivíduo de consciência própria e ‘uma opinião’, segundo razões explícitas nos parágrafos a seguir. O leitor é outro indivíduo e, certamente tem a sua opinião; o que importa é sermos sinceros, reconhecermos e seguirmos o destino que possibilita verdadeira evolução social. 

Fonte: Club-k.net

Aos 5 anos de idade em subúrbios de Benguela em 1988, atraído por um cenário de aterragem e descolagem de aeronaves no aeroporto local, eu vagueava com outros aos arredores das instalações para ver de perto helicópteros e aviões. Ao sentir fome apanhávamos migalhas de bolos para comer e chicletes usadas para mascar e fazer balão; foi então onde comecei a ouvir as palavras ‘zaire’, ‘kinshasa’, ‘zairense’, ‘zairenses’ quando aparecesse umas mulheres viajantes que onde parassem duas, três ou mais a conviver deixavam restos de comida e chicletes –, estímulos adicionais para se frequentar mais a área. As viajantes eram na sua maioria jovens, com aspecto sensual e olhar expressivo; era sempre mulheres e só.

 

Aos 7 anos ouvi que Zaïre era um país dominado por ‘Mobutu Sese Seko’, um déspota, e de onde em 1975 saíra soldados que, em apoio a FNLA de Holden Roberto e mercenários portugueses e sul-africanos invadiram o país pelo norte e quando por um pouco alcançavam Luanda foram frustrados pelas então FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola) e tropas cubanas na serra de Quifangondo, uma vitória que deve-se não só a homens resolutos em si, como também à eficiência de um sistema de artilharia de origem russa, o MLRS BM-21 Grad (kamaz a lança-roquetes de 40 canos).


Na Huíla em 1994, em plena atmosfera de hostilidades entre o governo e a UNITA, um jovem meu primo estudante decidiu ir à tropa, ‘operar nas proximidades do Congo’; meses depois, li numa fonte um espantoso título: “forças zairenses invadem Cabinda”, com complemento de uma imagem de soldados zairenses de aspectos lastimáveis, visivelmente desfavorecidos. Além de ter sentido no sudoeste do país a personalidade de vários elementos de forças regulares governamentais, tivera observado, numa rara revista sobre a guerra com os sul-africanos no sueste, imagens de soldados das FAPLA no terreno… aparentemente bem abastecidos em logística, relaxados e felizes consigo mesmos; um carismático soldado fora fotografado a dar um sorriso cujo contágio enterrou-se em minha psique; a impressão que tive dos soldados angolanos convencera-me de que, os zairenses não tinham hipótese de ganhar uma guerra contra nós. Os invasores, talvez, queriam anexar a parcela do nosso território; mas, tal como foi em Quifangondo em 1975, o assalto à Cabinda fracassou; os agressores tiveram subestimado uma sociedade baptizada em espírito de guerra e calor de fogo real.


À noite de um dia de Abril de ’94, no Lubango, a assistir a notícias breves do estrangeiro, houve surpresa; uma aeronave em que se fazia seguir os líderes de Ruanda e Burundi fora abatida quando se preparava para aterragem em Kigali, a capital de Ruanda. Os destroços do aparelho estavam espalhados sobre o solo. Os líderes, outros 7 passageiros e 3 tripulantes pereceram, a faísca que antecedeu ao que veio a se considerar como ‘o genocídio de Ruanda’, que segundo observadores, “entre Abril e Julho foram, sob acusações de conspiração, massacradas 800 mil pessoas tutsis sistematicamente perseguidas por militares e milícias hútus, nas suas casas, em estradas e igrejas”. Assassinato de 10 capacetes azúis belgas da ONU resultou na retirada do resto do contingente que lá esteve estacionado em missão de manutenção de paz. Entre outras sociedades naquela região, os congoleses também são sépticos para com os tutsis e há pouca vontade de os acolher entre si e, cidadãos congoleses de origem tutsi em províncias congolesas a leste do país têm sido ameaçados com extradição à Ruanda. Em 1998, tropas ruandesas a ameaçar anexar partes do território congolês ocuparam a urbe de Bukavu, o que estimulou uma rebelião antigovernamental que visava tomar Kinshasa a força de armas. Apoiados por forças ugandesas, os ruandeses e seus colaboradores congoleses foram frustrados por forças leais a Kinshasa, apoiadas por tropas angolanas e de Zimbabwe, e com meios logísticos oriundos de Namíbia. Segundo a BBC Focus on Africa de (Abril – Junho) 2003, investigadores da ONU em casos de atrocidades de Dezembro de 2002 no Congo Kinshasa ouviram de testemunhas como uma menina fora cortejada em pequenos pedaços e servidos a membros de sua família, e um pigmeu que, vindo de caça encontrou seu irmão a ser cozinhado e depois comido por rebeldes do Movimento de Libertação do Congo (MLC) apoiado pelo Uganda. Em 2016 a tensão étnica entre a maioria hútu e a minoria tutsi é pouco significante, mas o Burundi continua assolado pelo analfabetismo político típico de africanos; um ditador que diz-se ter se formado em Pedagogia, em violação de uma série de acordos assinados por burundineses com mediação de Nelson Mandela da África do Sul em Arusha na Tanzânia em 1993, após dois termos consecutivos de 5 anos no poder em ‘paz inclusiva’ como se previa nos referidos acordos, alterou a Constituição para se beneficiar de um terceiro mandato ignorando objecções da oposição, sociedade civil, e da comunidade internacional, o que incitou no país outra onda de violência que diz-se ter causado 400 mortes e dispersão de mais de 200 mil pessoas que se refugiaram em países vizinhos inclusive o Ruanda. Além do ‘tirano’ de Burundi, um outro no Uganda, após dez anos no poder também adulterou a Constituição para continuar. Recentemente, na República do Congo um ditador adulterou a Constituição para se perpetuar no poder como uma carraça agarrada à pele de uma vaca e retirou limite a mandatos. Em sequência de uma rebelião armada na República Centro-Africana, o país, em guerra civil, está a sangrar.


Em música, o artista angolano Jacinto Tchipa a lamentar sobre ‘África’, em Umbundu diz: “África, estás a ouvir? Aonde nos levas, ó África? África, desde a escravidão, o nosso sofrimento persiste; que mal fizemos ao mundo? África… saia da escuridão…”; o artista implora: “África tenha piedade de nós… Veja só, as pessoas estão a perecer… é demais; há muito sofrimento; que mal fizemos? Não temos culpa”. Optimista, o homem consola: “não faz mal… um dia haverá liberdade; haja coragem, África” e, enfim apela: “África… saia da escuridão”.


Quando ainda estive a crescer fisicamente observei-me por espelhos; negro magro e pequeno, tinha olhos rasgados e afundados, pálpebras ligeiramente dobradas e pupilas castanhas, e cabelos crespos resistentes ao pente. Pensava que, para um puro negróide, minha fisionomia era tanto quanto estranha; imaginei as características de bosquímanos que tivera visto em subúrbios de Lubango em finais de 1988. Os khoisans foram os primeiros habitantes de Angola. “Semelhanças com eles é simples coincidência”, pensei. Aos 15 anos crescia à altura que viria alcançar 1,74m e os cabelos arranjavam-se; mas ainda pensava nos bosquímanos.


Foi devido a várias causas, inclusive o conflito e desassossego nas matas que a maioria de grupos de khoisans remanescentes no sul da Huíla vaguearam mais a sul e emigraram para as regiões do Deserto de Kalahari nas repúblicas da Namíbia, Botswana, e África do Sul.

 

Khoisans de Angola não foram os únicos que emigraram a sul. Para continuar com a escolaridade no estrangeiro, em 1999 parti de Lubango à Swazilândia por estrada, numa longa viagem por sénicas paisagens, povoados e localidades abençoados de paz sincera e um espírito de senso comum de pessoas civilizadas. Após mais de 24 horas em Windhoek, estava em trânsito via Kanye, Botswana, muito adentro da maravilhosa África Austral, e após cerca de 7 dias de estadia na República da África do Sul (RAS) estava em Mbabane, a capital da montanhosa Swazilândia, um país entre o nordeste da RAS e extremo sudoeste de Moçambique, cujo clima atmosférico e brandura das pessoas assemelham-se à natureza do Planalto do Bié (Angola central); dias depois encontrei num supermercado na urbe uns homens a conversar em Umbundu. A me disfarçar de ler inscrições na embalagem de um produto alimentar, parei perto deles para escutar; era Umbundu, em sotaque puro! Falantes dessa língua angolana estavam espalhados um pouco por toda a região, inclusive na Namíbia e na RAS. Curiosamente tivera encontrado na RAS o tradicional ‘mahini’, uma popular iguaria a simples base de pirão de milho branco esmigalhado em pegajoso leite azedo. Herdei o hábito de comer mahini em Cubal, Benguela em 1990; naqueles países o chamam ‘amasi’ cujo lacticínio, processado por norma industrial, é de qualidade superior, e pode se substituir o pirão por pão integral esmigalhado. Que delícia!


A um fim-de-semana de 2001 fui a Moçambique por estrada com uma equipe de futsal representar nosso colégio num amistoso interescolar. Cada um ou dois de nós fomos acolhidos em casa de outro da equipe adversária em Maputo; hóspede num complexo da embaixada da Noruega, à noite, a televisão era o canal angolano da tpa 2; no sábado à tarde ouvia-se de algum lugar música angolana a zouk e também kuduro; quando um amigo afro-norueguês apresentou-me a um grupo de jovens dizendo que eu era angolano, interagiram comigo curiosamente e perguntaram sobre Angola.


Numa manhã de Novembro em Mbabane, uma sensual moça tanzaniana, minha colega de escola, no palco de um grande anfiteatro lotado de estudantes das demais raças e nacionalidades do mundo e o corpo docente, aparentemente emocionada de solidariedade falou sobre Angola como país da África Austral cujo povo sofria com guerra; ao fim, com a bandeira angolana em exibição, soou a faixa musical mais popular do então grupo angolano SSP. Em 2002, ao fim da guerra civil em Angola, um dia li no The Star (A Estrela), o jornal oficial da RAS que, no fim-de-semana anterior, no calor de uma diversão nocturna numa popular discoteca da comunidade de angolanos em Joanesburgo, ao se ouvir da confirmação da morte de Jonas Savimbi, pelo governo angolano, parou-se tudo… a seguir a uns segundos de silêncio a pés juntos soou a melodia do grande hino nacional de Angola… depois, o vulcão musical e dança prosseguiram. Foi ainda na biblioteca do colégio em que estudei que encontrei e li livros e magazines que continham valiosa informação sobre Angola, entre os quais “Angola in the Frontline” (Angola na Linha da Frente), “Jonas Savimbi”, “Poems from Angola” (Poemas de Angola), uma revista na qual encontrei páginas sobre uma interessante entrevista de Lukamba Paulo Gato da UNITA à BBC Focus on Africa, de (Abril – Junho) 2003, e alguns livros namibianos em que refere-se a luta pela autodeterminação daquele povo, a solidariedade angolana, e o massacre de Kassinga a sueste da Huíla em 1978 em que centenas de namibianos perseguidos pelos racistas sul-africanos foram mortos em ataques aéreos pela aviação da SADF, o exército do então regime do apartheid.


Li sobre as batalhas de Cangamba, Mavinga, Cuíto-Cuanavale assim como a afirmação de Agostinho Neto que, na Namíbia, no Zimbabwe e na RAS estava a continuação da luta dos angolanos; para mim, saber que não se fala da história recente de Angola sem se fazer menção aos russos e cubanos foi impressionante, e minha simpatia por estes cristalizou-se com um provérbio kwanyama que diz que, “a amizade consolida-se com o sofrimento suportado em conjunto”. Os nossos ex-companheiros de luta não foram utilizados como ‘ordenanças’ do Kremlin (sede do governo russo) que logo que deixassem de ser necessários seriam atirados fora como um limão espremido e desnecessário. O mundo é vasto; é bom quando se tem amigos, e, quando se fala da agressão dos racistas sul-africanos, esse provérbio pode ter o mesmo significado em Windhoek.


Hoje em dia, as autoridades angolanas andam obcecadas por excesso de relações com outras ditaduras da Região dos Grandes Lagos enquanto assunção do nobre lugar da nação na África Austral só existe em retórica.

Geograficamente, o país situa-se a sudoeste da África Central, na periferia da ‘área dos grandes lagos’ e noroeste da região austral do continente, à qual a sua extensão é mais significativa, e historicamente mais envolvido; pelo que, cooperação internacional a nível de ambas as regiões é necessária. Porém, integração regional deveria ser com a África Austral e só. As sociedades nas jurisdições políticas da região da África Central, infestadas de efeitos de más influências e anarquia, estão desafectas e desunidas; expor os nossos subdesenvolvidos cidadãos em relações com povos desorganizados pioraria a desgraça, pois, lidar com pessoas sem pré-disposição para evoluir é inútil; e os angolanos devem vigiar as políticas sociais nas regiões congolesas e certificar-se de que hábitos e costumes sociais desordeiros não transcendam à nossa sociedade.


Dizer que Angola está a estabilizar a ‘Região dos Grandes Lagos’ é muito discutível, se não mesmo contra-senso, pois, esta é tida como uma ‘zona de conflito activo ou tensão severa’; a conflitualidade lá é um desafio enraizado num passado remoto, com epicentro na área geográfica que corresponde ao antigo Ruanda-Urundi desde finais dos anos 1300 quando os tutsis, uma guerreira etnia oriunda da Etiópia, invadiram a área pelo norte a sul. Quando os alemães conquistaram a área em 1897, atmosfera psicológica difícil entre os tutsis e os autóctones hútus persistiu através da era colonial belga entre 1916 e 1946. O conflito da Região dos Grandes Lagos é no entanto um caso para ser tratado por pessoas sérias e não uns hipócritas. Por África, além de Pretória, Windhoek e, talvez Acra, não parece haver outro governo com legitimidade moral para intervir em assuntos de outrem, pois os dirigentes não são pessoas sérias; uns ficam a violar a Lei Constitucional para se servir do poder por entre 16 e 40 anos; os tiranos, descaradamente acomodam-se e felicitam-se entre si com brindes e sorrisos sem graça. Além desse modus operandi desestabilizador, partes daquela região ou suas proximidades estão infestadas de milícias islâmicas somalis, armadas, perigosas e ameaçadoras; e o Quénia já é um lugar de tormentos. Em minha psique, os limites fronteiriços nortenhos de Angola constituem os limites da região da África Austral a noroeste; os congoleses que fiquem caladinhos com a sua anarquia lá no seu país! Aderir à SADC não é para quem quer por querer, é para quem pode e merece. A SADC, substancialmente regulada por políticas sociais formais na Namíbia, RAS, Swazilândia –, adoptadas na Commonwealth que é multidisciplinarmente liderada por Londres, é uma zona de ordem e disciplina, onde há prestação de contas à justiça, eficácia de instituições, transparência governamental; desde que a Namíbia passou à independência em 1990, o seu actual chefe de Estado é o terceiro; a RAS, desde que tornou-se independente em 1994 teve três administrações, sendo a actual a quarta. Quanto à Angola, onde desde 1979 o líder é o mesmo, desejo saber se é ‘presidente’ ou é ‘rei’. A crónica crise afro, enraizada na dificuldade em se aprender e aplicar princípios tradicionais da civilização, é desencorajadora.


Conclusivamente, penso que as autoridades angolanas tendem a adoptar uma estratégia irrelevante face a um triplo-receio de que, ‘se se concretizar a integração com a SADC, poderemos ser ofuscados pela prosperidade sociopolítica e económica sul-africana na região, e influenciados pela propaganda ocidental e ingerência externa’ e que, ‘se se evitar intromissão em processos políticos das sociedades da região da África Central, poderá haver problemas de ameaça ao regime’.

 

Realmente, a região da África Central está denegrida de um historial de instabilidade e susceptibilidade de perigar a segurança fronteiriça do nosso país; mas não é situação de se dramatizar, pois os congoleses (do ex-Zaïre), populares naquela região, foram catalogados com derrotas quando provaram no veneno da monstruosa raiva da máquina angolana de guerra. Creio que estão conscientes disso e compreendem que, “quando a história se repete, o preço é mais alto”. Além disso, o êxito militar angolano no conflito congolês de 1998 cristalizou a nossa reputação em relação à geoestratégia; pelo que, somente um esquizofrénico nos provocaria.


Quanto ao receio pelos sul-africanos, não precisamos exagerar. Eles são tão honestos quanto nós podemos ser. O mundo sabe que Angola não tem tecnologia nem indústria própria, que, no âmbito da Guerra Fria, a guerra anticolonial, a agressão dos racistas do apartheid, a guerra civil e as suas consequências devastaram o país nos demais aspectos da vida social; as pessoas estão conscientes de que, além dos recursos naturais, tudo que Angola tem de melhor é a sua história; essa é a nossa realidade e não é preciso nos envergonharmos dela, porque nós podemos fazer de Angola um país de se orgulhar, uma nação próspera e útil à África e ao resto do mundo. Apesar de vários fracassos e atraso somos o povo africano com mais história, pelo que não nos desanimemos, pois, as sociedades que chegaram aonde estão – tiveram que começar onde estiveram; nós também podemos progredir. Tentar evitar a SADC é fútil, pois, se quisermos evoluir não temos outra via. A África Central está a escuras causadas por uns descarados párias que estão a desgraçar o coração do continente, e o regime angolano tende a evitar os sul-africanos para tentar buscar protagonismo na escuridão, onde pretende aparecer como uma luz ou o tal dominante naquela região; é como alguém que, por não saber viver na cidade vai à uma aldeia rural onde quer se gabar com o pouco que aprendeu com os civilizados para parecer ser o melhor da área; um roto a querer se exibir entre outros rasgados.


Compreende-se que, por a RAS ter sido parte do antigo moderado Império Britânico, o modo de vida naquele país tradicionalmente subsiste em alguma harmonia com o etos, isto é, o espírito característico dos europeus e, para nós africanos que precisamos assimilar tradições da civilização, isso é bom; pelo que, não sou ninguém para endereçar aos cidadãos da sociedade sul-africana conselho nenhum em como deveriam conceber o seu patriotismo em relação à região em apreço, mas creio na possibilidade de as novas gerações de Angola e da RAS pensarem no que é essencial para se proporcionar à região uma atmosfera social que propicie sustentabilidade no desenvolvimento sociopolítico e económico. Creio que podemos pensar em progresso, coexistência pacífica e liberdade de expressão; e alguns aspectos de responsabilidades incluem questões como segurança, superpopulação, pobreza, poluição ambiental, e ditadura. Portanto há tarefas duras que requerem humildade perante a civilização e um esforço enorme, pois pretende-se uma Angola prevista num destino de evolução com outros povos desta região e especialmente os sul-africanos, povos relativamente mais civilizados e predispostos a assimilar inovações, povos próximos a uma nação mais aberta ao resto do mundo –, a RAS que está a um nível de desenvolvimento invejável e ao mesmo tempo essencial para quem anseia aprender a viver melhor a vida, pois é a nação africana com estabilidade sustentável e a que mais granjeia consideração a nível da comunidade internacional. Porém, sul-africanos são eles, não nós; nós temos responsabilidades próprias e eles são os nossos adversários no processo de difusão ideológica na região. Na SADC, maior vigor económico e de democracia é eminente do lado da RAS e é vantagem deles em relação a nós. O que precisamos é interagirmos com uma cautela tal que a assimétrica vantagem não nos ofusque. Podemos interagir com eles com uma resiliência que nos assegure sobrevivência face a uma influência de classe global e, pode-se crer que não há necessidade de se temer, pois há através da região pessoas optimistas que esperam haver maior aproximação com Angola e relações mutuamente vantajosas entre os povos, relações que inspirem uma atmosfera de confiança e sustentabilidade de desenvolvimento; além disso, principalmente a RAS não é apenas visitada por ocidentais que se pensa serem susceptíveis de se intrometerem em assuntos angolanos; os cubanos assim como os próprios russos que possuem propriedades e mantêm presença na Antárctida frequentam a RAS e têm com os sul-africanos relações bilaterais mais diversificadas do que com os angolanos, e nunca se ouviu que médicos cubanos queriam sair da RAS por não haver dinheiro para se remunerar seu serviço. Espionagem e difusão de propaganda, importantes aspectos nas relações humanas, são inevitáveis e nós não estamos em tanta desvantagem quanto se pensa.


Enfim, o que se precisa é desintoxicar a sociedade de algumas manias residuais do Comunismo, prevenir anarquia, aperfeiçoar o processo de democratização, e assegurar uma atmosfera sociopolítica que proporcione aos cidadãos pensamento aberto, livre e responsável.

Inácio Vilinga_ autodidacta em Política, e assuntos russos desde 1999.