Luanda - O Banco Nacional de Angola (BNA) prepara-se para brindar a economia nacional com mais uma desvalorização do kwanza mais acentuada, desta vez a rondar os 20 por cento. Mas, esta desvalorização, pode trazer um risco – o risco dos agentes económicos perderem a confiança nas autoridades e levarem o país a uma crise cambial como a que vivemos no tempo do “kwanza burro”.

Fonte: Opais

Os apoiantes desta medida, defendem uma desvalorização cambial real que restaure a competitividade do país. Agora pergunto eu. Qual competitividade? As vezes desvaloriza-se uma moeda para se alcançar um aumento da competitividade superior ao dos concorrentes internacionais de forma que caia o preço dos bens não comercializáveis internacionalmente em relação aos bens comercializáveis e, portanto, aos preços externos.

 

Nas condições actuais, isso não é possível porque as nossas empresas não são capazes de produzir a mesma quantidade de bens e serviços com a mesma qualidade e com menor preço em relação aos concorrentes externos devido os grandes problemas estruturais que a nossa economia enfrenta. Também, é possível desvalorizar uma moeda directamente, elevando-se o preço de compra da moeda estrangeira (Dólar/ Euro), desde que essa elevação nominal não seja acompanhada por correspondente aumento dos preços internos, de forma que os preços dos bens não comercializáveis internacionalmente caiam em relação aos comercializáveis.

 

Também isso não é possível, porque somos uma economia que importa quase tudo. Por último desvaloriza-se uma moeda promovendo-se o ajuste fiscal que permita a redução dos preços dos bens não comercializáveis caiam em relação os bens comercializáveis, seja através da redução do seu custo. Mas, basta ver a carga fiscal que afunila as empresas e que contribui no aumento dos preços. Para Angola, uma desvalorização do kwanza pode trazer um aumento do investimento estrangeiro, contudo, nada garante que tal investimento seja feito em sectores produtivos capazes de gerar empregos que proporcionem aos trabalhadores um nível de vida aceitável.

 

Certo está que uma desvalorização cambial estimula as exportações, devido ao barateamento do produto nacional. Todavia, simultaneamente, as importações tornar-se-ão mais caras, e a nossa produção nacional não é suficiente para abastecer pelo menos 60% do mercado por vários factor como, a produtividade, competitividade, fraca agricultura, recursos humanos, energia, transportes etc., só para citar estes. Neste momento, a desvalorização do kwanza não vai trazer qualquer vantagem estrutural à economia angolana.

 

Não é apenas com a desvalorização do kwanza que Angola pode tornar a produção nacional os produtos mais baratos lá fora, porque para o caso especifico de Angola concorrem outros factores como impostos directos, custos com energia, Mão de obra, transportes etc. Por isso, não é a desvalorização do kwanza que irá permitir aumentar a competitividade das nossas empresas. Como qualquer medida económica, desvalorizar kwanza traz vantagens e desvantagens.

 

Para Angola, traz vantagens em relação ao turismo, na medida em que estimula a vinda de turistas estrangeiros e desestimula a saída de turistas que querem ir ao exterior, Facilita a entrada de capitais, incentiva operações de crédito em moeda estrangeira para investimentos.

 

O problema para os angolanos são as desvantagens e por sinal é onde a nossa economia neste momento perde mais, nomeadamente encarece produtos importados inclusive tecnologia, maquinas e até matérias primas como é o nosso caso ,dificulta o controlo da inflação etc. Porque o kwanza valorizado facilita o combate à inflação. No contexto actual da economia Angolana, é aconselhável um kwanza forte. Apesar de que, defender o kwanzas implica o uso das reservas internacionais.