Luanda - A dívida pública colocada semanalmente pelo Banco Nacional de Angola (BNA) manteve-se praticamente inalterado, nos 61,1 mil milhões de kwanzas (333 milhões de euros), com juros dos Bilhetes do Tesouro mantendo-se acima dos 18 por cento, a um ano.

Fonte: Lusa

Segundo dados compilados hoje pela Lusa com base no relatório semanal sobre a evolução dos mercados monetário e cambial do BNA, enquanto operador do Estado, o banco central colocou no mercado primário, entre 04 e 08 de julho, 34,3 mil milhões de kwanzas (187,2 milhões de euros) em Bilhetes do Tesouro (BT) e 17,2 mil milhões de kwanzas (94 milhões de euros) em Obrigações do Tesouro (OT).


As taxas de juro médias pela emissão de BT oscilaram entre os 14,27% na maturidade a 91 dias e os 18,39% no prazo a 364 dias (18,38% na semana anterior), enquanto as OT fecharam com taxas de juro de até 7,75%, a cinco anos.

No segmento de venda direta de títulos ao público foram ainda colocados pelo BNA mais 9,6 mil milhões de kwanzas (52,4 milhões de euros).

A dívida pública colocada semanalmente por Angola subiu ligeiramente, tendo em conta os montantes colocados na semana anterior, que rondaram os 60,9 mil milhões de kwanzas (332 milhões de euros).

Angola vive desde meados de 2014 uma crise financeira, económica e cambial decorrente da quebra das receitas da exportação de petróleo, recorrendo à emissão de dívida para garantir o funcionamento do Estado e a concretização de vários projetos públicos.

Um documento de suporte à estratégia do Governo angolano para ultrapassar a crise financeira provocada pela quebra nas receitas do petróleo, ao qual a Lusa teve acesso, indica que o 'stock' de dívida pública atingiu em 2015 os 42,9 mil milhões de dólares (37,8 mil milhões de euros), correspondendo a 48,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

O endividamento do Estado angolano tem sido utilizado para colmatar a forte quebra nas receitas com a exportação de petróleo e só em 2015 o serviço da dívida pública angolana ascendeu a 18 mil milhões de dólares (15,8 mil milhões de euros).

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que negoceia um programa de assistência solicitada pelo Governo angolano admitiu a 14 de junho a necessidade de redução do número de funcionários públicos em Angola, apelando à contenção do défice, apesar das eleições de 2017.

"Dada a nova realidade do preço do petróleo, o setor público tem que se restruturar, e vai levar algum tempo. Nessa reestruturação, pode claramente haver a necessidade de realocação de pessoal e, ao longo do tempo, talvez uma redução do quadro de pessoal. Mas não se está a falar em despedimentos em massa, é um processo natural de tornar o setor público mais eficiente e mais adequado às novas receitas do país", apontou Ricardo Velloso.

O economista brasileiro que lidera esta equipa aconselhou as autoridades angolanas a manterem a prudência fiscal, "apesar do calendário eleitoral", a propósito das eleições gerais, previstas para agosto de 2017.

"A nossa sensação, e isso vai ser refinado nos próximos meses e em próximas missões, é que o défice que se prevê para este ano é financiável. E para o próximo ano seria importante manter o que chamamos de prudência fiscal, que o défice se mantenha numa trajetória descendente. Mas o grande esforço fiscal foi feito já em 2015 e é importante que daqui em diante se continue nesse caminho e que não se deixe, por razões de muito curto prazo, perder o que foi feito, que o défice aumente muito e que seja difícil de financiar", disse.