Luanda  - Conheço a Senhora, enquanto profissional do jornalismo, desde os idos tempos em que era conhecida como Amélia Pombo. Devo confessar que a sua voz é um dos elementos que determina o facto de ser eu, sempre que o meu tempo permite, um assíduo ouvinte da LAC, o que, por seu lado, permitiu-me há muito, ter uma ideia clara da “linha editorial” da vossa antena comercial. Clarificando melhor, para nos entendermos melhor, não é tanto a linha editorial da estação que a Senhora serve, mas, antes, a maneira com que as vozes mais conhecidas da vossa estação emissora – a começar pela vossa – articula a palavra, na apresentação das matérias que vos convém, é o que me impele a premir, com prioridade, o botão da FM 95.5 sempre que tenho tempo para ouvir rádio.

Fonte: Club-k.net

Mas não é para tecer elogios desta natureza que tomei a liberdade de, por este meio e desta forma, me dirigir à Senhora. Humildemente, peço a vossa atenção para rapidamente perceber das minhas razões:


1 – No passado dia 19 do corrente mês de Julho de 2016, a propósito dos meus pronunciamentos, na qualidade de mandatário do candidato Abel Chivukuvuku para o cargo de Presidente da CASA-CE, a Senhora fez comentários, afirmando que “a oposição reclama falta de espaços na comunicação social, mas quando o tem não avança nenhuma ideia de como pretende resolver os problemas do País, quedando-se nas críticas ao governo”.

Exma. Sra.!

Tendo eu lido, em 2009, uma entrevista concedida por si, ao Jornal OPaís, que me permitiu concluir da vossa natureza honesta, sincera e frontal, e, considerando ainda o tempo de antena que a vossa estação concede aos actos da oposição, em comparação com aquele que concede aos actos do partido do governo, peço que me responda: considera descabidas ou fundamentadas as reclamações da oposição a este respeito?

 

2 – Tem sido recorrente – e nisto, em abono da verdade, a Senhora não é de maneira alguma pioneira – a tendência de um certo e expressivo segmento de agentes da comunicação social à Angolana, esforçar-se, muitas vezes ultrapassando até os limites do absurdo, no sentido de “empequenizar” tudo o que é (ou é da) oposição aqui em Angola. É um fenómeno conhecido, mas que, muito franca e sinceramente, protagonizado pela Senhora constituiu-se, para mim, numa triste surpresa, a julgar pelo que lemos da vossa entrevista concedida em 2009 ao jornal já referido e, também, tendo em consideração os vossos dizeres semanais no “VECTOR” da LAC às 10H00 de todas as quintas feiras!

 

3 – Esta recorrente tendência de minimizar tudo quanto é (ou vem da) oposição tem, para mim, explicação na teoria da “luta de classes”. É assim: o segmento de agentes da comunicação social que protagoniza o facto pertence ao que pode ser classificado de “classe média alta em Angola ou a angolana”. Não sendo proprietários de nada – até porque ouvindo o VECTOR, semanalmente, fica-se com a clara percepção de que o tecido empresarial, no nosso País é ainda uma mera miragem –, a classe em alusão é simplesmente uma emanação da classe verdadeiramente possidente. Ou seja, estão umbilicalmente unidos à classe que protagonizou a “acumulação selvática do capital” pelo que, a simples possibilidade de tal classe vir a ser destituída, transforma-se, automaticamente, para eles, num pesadelo dos maiores…

 

4 – O senso comum ensina que para debelar um mal há que, primeiro que tudo, proceder ao diagnóstico das causas, primeiras e últimas. No que me diz respeito, as causas assentam exclusivamente no modelo de sociedade que, como escrevi no que despoletou os comentários da Senhora, pretende ser construída, de forma contranatura, considerando como pessoas válidas apenas os “camaradas militantes”.

 

5 – As ideias de como resolver os grandes problemas do País estão aí subjacentes e a Senhora, sendo quem é, apercebeu-se delas certamente. Mas, como o “que abunda não prejudica”, vou obviá-las para si: “SEM QUAISQUER TIPOS DE REVANCHISMOS, O GOVERNO QUE DECORRER DA CASA-CE, COM O ABEL CHIVUKUVUKU COMO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, VAI PÓR DE IMEDIATO UM PONTO FINAL À ROUBALHEIRA, VAI ENCETAR UM DIÁLOGO COM TODAS AS FORÇAS REPRESENTATIVAS DO NOSSO TECIDO HUMANO, VAI RESTITUIR A CIDADANIA A TODOS OS FILHOS DE ANGOLA E… VAI PRIORIZAR A AGRICULTURA DANDO AS TERRAS ARÁVEIS A QUEM TENHA VONTADE E CAPACIDADE DE AS TRABAHAR”. O resto, respeitável Senhora Jornalista, virá por acréscimo, mais a mais porque, com estes pressupostos, “os próprios cidadãos esforçar-se-ão muito mais para melhorar o País”, tal como vós mesmos sugeristes a dado passo da vossa entrevista em 2009.


PS: tivesse eu outros meios para me fazer ouvir, e teria dispensado este. Como os princípios de boa educação não me permitem “deixar uma Senhora falar sozinha” recorri de imediato a este.
Atenta e mui respeitosamente,

Xavier Jaime, vosso compatriota.
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