Luanda - Legalizado em 2012, pelo então Ministério do Ensino Superior e da Ciência e Tecnologia, o ISPTEC surgiu como a esperança do resgate da qualidade de ensino no subsistema de ensino superior, sob uma suposta estratégia público-privada que envolveu fundos provenientes da petrolífera Sonangol.

Fonte: Club-k.net

Protegida legalmente sob uma inexistente entidade promotora denominada PDA, entrou para o mercado com um leque de ofertas para os estudantes e docentes que faziam inveja a qualquer docente, mesmo entre os mais renomados das melhores universidades do mundo. Bolsas de estudo para estudantes de mérito e estudantes com problemas sociais foram a sua sina, abrilhantando-se com pacotes de formação pos-graduada para os professores.

 

A instituição que está equipada com os melhores laboratórios que se podem esperar de uma instituição de ensino, rivalizando mesmo com algumas do topo europeu, beneficiou também de uma escolha rigorosa, para o dirigir, de um dos melhores gestores jovens da empresa petrolífera, mesmo sem ter alguma vez labutado num ambiente universitário.

 

Os ideólogos dessa instituição privilegiaram a contratação de entes brasileiros para a elaboração dos principais projectos de arranque, incluindo professores e foi então nesse capítulo que a gestação tendeu para um aborto anunciado. Professores primários no Brasil convertidos em universitários em angola, projectos de cursos retirados de páginas de internet, etc. A coberto de uma rigorosa selecção docente, os seus anúncios de necessidades eram internacionais, atraindo alguns categorizados catedráticos na diáspora que foi "Sol de pouca dura".

 

Subdirigida acadêmica e cientificamente por uma portuguesa, sem carreira docente, esta, sugeriu a contratação de um angolano residente no Brasil, que emigrou por alegado parentesco com o ex-dirigente independentista de Cabinda Nzita Tiago, que leccionava numa instituição superior pertencente à uma fundação distrital.

 

Tão logo aterrizou Chivanga Barros no ISPTEC, marcou o seu desempenho com mudanças estruturais de grande impacto que conquistaram a comunidade. Para, em pouco tempo, propor o afastamento de docentes nacionais e estrangeiros com experiência universitária dos cargos de gestão da instituição. Nessa empreitada, começou por atingir a Directora Acadêmica que o tinha resgatado do Brasil, ao ponto de ser evacuada para Portugal em baixa médica por hipertensão extrema e induzir o Director Geral a não renovar-lhe o visto de trabalho, acaparando-se das duas subdirecções . Seguiram-se, consta-se, o afastamento de um leque de seis doutores, tendo um deles recebido um aterrorizador e-mail de ameaça de morte, obrigado-o a auto-demitir-se, encontrando-se neste momento a coordenar um dos cursos de mestrado da Universidade Agostinho Neto. Em contrapartida, decidiu, o referido, rodear-se de expatriados, licenciados nacionais, os doutores angolanos têm que ser oriundos do Brasil ou estagiários. É assim que, no ISPTEC, os documentos reitores são cópias fidedignas dos documentos vigentes nas instituições do Brasil, sem ter em conta a sua contextualização. Quando tal descoberta veio à superfície, por obra da então Secretária Geral que, corajosamente, acusou-o de plagiador, esta também foi compulsivamente afastada da Instituição, por alegada reforma.

CHIVANGA versus ISABEL DOS SANTOS

O descontrolo sobre a autoridade foi-se escapando do Director Geral quando inadvertidamente, este, estendeu o tapete vermelho ao seu maquiavélico caodjutor às portas do então Presidente do Conselho de Administração da Sonangol e foi-lhe atribuída a posição de Vogal, um cargo que exige mais de vinte anos de 'casa'. Num evento, a ingenuidade do Director Geral, apresentou o seu carrasco como Director Geral e cedendo-lhe as honras, o candidato à director Geral, descontrolado, ousou afirmar: "O Baltazar é inteligente, nem parece ser angolano". A partir dessa data, esfumou-se a autoridadea do Director Geral Baltazar Miguel que inclusive não teve coragem de evitar que a instituição sacrificasse os seus cofres custeando mais de vinte mil dólares por mês para o alojar, desde o ano 2012, até à actualidade, com um salário líquido superior a dois milhões de Kwanzas, quando a instituição até carece de dinheiro para comprar papel higiénico.

 

Quando já se lhe tinham prometido ascender ao cargo de Administrador pelo então PCA Lemos, tendo em vista a anunciada reestruturação da Sonangol, Chivanga começou a vulgarizar, inclusive, o Administrador da Sonangol Fernando Roberto que tutelava o ISPTEC. Ele era a lei, chegando mesmo a propor um Estatuto de Carreira Docente no qual um docente poderia baixar de categoria se não tivesse produção científica; esvaziou o Director científico de todas as suas atribuições, havendo mesmo docentes que nem o conhecem, sequer.

 

O sonho de voos altos de Chivanga foi surpreendido com o comunicado da exclusão de Lemos como PCA da Sonangol. Neste dia, Chivanga Barros teve que ser atendido clinicamente com balões de soro por uma desidratação diarreica e endereçou dois e-mails exigindo ao Director Geral em funções, para que buscasse outro titular ao cargo de Director Acadêmico. Inocentes, tanto docentes como não docentes, festejaram por um curto período de tempo até que o 'Tudólogo' apercebeu-se que a Administradora Eunice de Carvalho que tutelaria o ISPTEC tinha um passado no Brasil. Para 'azar' de Balatazar Miguel que já tinha manifestado o seu desconforto com essa sombra brasileira, agora tem que aprender a conviver do cinismo e sem poder moral para a aceitação da demissão, convertendo-se num refém.

CURSOS SEM PROFESSORES

Por capricho de uma só pessoa que considera todos os angolanos incapazes, os estudantes do ISPTEC vivem num clima de incerteza, com falta de professores, atropelos aos mais elementares princípios universitários que se consubstanciam em: abandono dos professores expatriados, os cursos de Engenharia Informática, Produção Industrial, Eléctrica e Química carecem de docentes, entrada de novos professores à margem das regras instituídas, docentes intimidados por um sistema de avaliação humilhante, equipamentos de laboratório em risco de degradação e falta de tudo. Constatamos que, por exemplo, o quarto ano do curso de Química Chivanga Barros entende que os docentes devem vir do brasil e, neste semestre ele é o único docente; o quinto ano realiza os Trabalhos de Conclusão de Curso com orientadores (ausentes) do Brasil, embora tenham angolanos indicados de forma decorativa e é Chivanga que os orienta a todos, sem o envolvimento da direcção ou Conselho Científico como acontece noutras universidades. Todos os trabalhos de conclusão de curso de química são projectos feitos no Brasil, para a execução destas paranoias, tem-se como Coordenador de curso um funcionário dispensado pela petrolífera Total que exerce de coordenador do Curso de Química mesmo não sendo Engenheiro Químico.

 

Fomos ao encalço destas informações pelo grito dos estudantes de Química que apelaram por um SOS, dizendo "Temos bons professores, mas não têm coragem de falar, veja que até os professores cubanos que já são velhos, mas dão-lhes trabalhos que não serve". "O Director Geral já nem aparece, estamos abandonados" "que saiam os dois e mandem outros, senão estamos fritos".


No último semestre, a instituição perdeu muitos estudantes que transferiram-se para outras universidades, por diversas arbitrariedades que o Director Acadêmico inventa no decurso dos semestres, começando pelas constantes alterações do sistema de avaliação que não respeita o direito dos estudantes e é ditado sem o conhecimento dos professores, nem aprovado em órgãos colegiais, durante o ano lectivo. O Regulamento Acadêmico, segundo um membro da Associação de estudantes já tivera sido denunciado ao Ministério do Ensino Superior pelas alterações sem aviso prévio, mas nem por isso cessaram de fazê-lo. Muitos estudantes foram atraídos pelo programa de bolsas internas que lamentavelmente, depois de estarem a frequentar o 2º ano, com aproveitamento, mudaram de requisitos, informando que só beneficiariam das bolsas os que tivessem média 14, obrigando muitos a abandonarem por dificuldades financeiras para custear as propinas que são as mais altas em Angola. "Todos os semestres o Director Acadêmico quer aplicar uma inovação brasileira, sem analisar o contexto, por exemplo, no último semestre fomos informados que não faria exame de recurso quem tivesse ausência no exame ordinário, mas então, o que é significa recurso?" "Depois informaram-nos que a mesma pessoa decidiu que "só faz exame quem tivesse média superior a seis valores". "Será que no Brasil é mesmo assim?", perguntam-se muitos.


Os professores que são mais comedidos, são mais difíceis de 'arrancar' informação, mesmo isoladamente, mas retemos o seguinte lamento: "só me recordo que o Director Acadêmico já nos 'aconselhou' a colocar limão nas axilas para não cheirar catinga, em plena reunião e manda-nos sempre mensagens de e-mail para simular simpatia". Alguns temem pela decadência de uma excelência que se apregoava e acreditavam, outros preocupados apenas com a manutenção do emprego, embora murmerem a falta de perfil de alguns 'colaboradores' em áreas nevrálgicas da instituição, como a Secretaria Acadêmica, onde 90% são estudantes em outras universidades e outros com relações íntimas com estudantes dentro da instituição.


A pergunta fica: quem resgatará os estudantes deste ambiente de terror acadêmico?

Por Manuel Fernando