Luanda - O preço médio de um dólar norte-americano nas ruas de Luanda voltou a subir, para 580 kwanzas (3,10 euros), apesar da recente injeção recorde de divisas na banca comercial, feita pelo Banco Nacional de Angola (BNA).

Fonte: Lusa

Há alguns meses que o preço no mercado informal permanece estável entre os 570 (valor da última semana) e os 600 kwanzas, apesar de algumas pontuais flutuações semanais, conforme rondas regulares junto das ‘kinguilas’ de Luanda, como são conhecidas estas mulheres que se dedicam ao negócio informal de compra e venda de divisas na rua.

A Lusa encontrou hoje quem vendesse a nota de dólar, no bairro do São Paulo, a 590 kwanzas, enquanto as ‘kinguilas’ do bairro dos Mártires de Kifangondo cobravam 585 kwanzas. Já no bairro do Maculusso, igualmente no centro de Luanda, era hoje possível encontrar quem vendia a nota de dólar a 590 kwanzas, enquanto na Mutamba descia para 580 kwanzas.

 

Quem vende não apresenta qualquer explicação para estas oscilações, além de assumirem que se mantém a forte procura de dólares, por entre os habituais receios da polícia, já que se trata de um negócio ilegal.

 

São preços especulativos – mais de três vezes acima a taxa de câmbio oficial -, que, em muitos casos, como para os trabalhadores expatriados, é a única forma de ter acesso a divisas no atual contexto de crise económica, financeira e cambial, decorrente da quebra nas receitas petrolíferas.

 

Contudo, a Lusa noticiou na segunda-feira que a injeção de divisas pelo BNA na banca comercial cresceu dez vezes no espaço de uma semana, para 689,7 milhões de euros, máximos de 2016, cobrindo a importação de alimentos e salários de expatriados.

 

A informação consta do relatório semanal do BNA sobre a evolução dos mercados monetário e cambial, no período entre 08 e 12 de agosto, contrastando com os 68 milhões de euros (ME) da primeira semana do mês e com os 231,1 ME do final de julho, mantendo-se as vendas apenas em moeda europeia.

 

O Governo português reconheceu em julho que apenas em salários de trabalhadores nacionais em Angola estão retidos, por falta de divisas para concretizar essas transferências, cerca de 160 milhões de euros. Desde setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou-se em mais de 40%, face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas para um dólar, à taxa oficial, muito longe dos valores do mercado paralelo.

 

Um documento do Governo angolano prevê que a desvalorização da moeda nacional chega até aos 215,5 kwanzas por cada dólar norte-americano até final do ano. O BNA recomendou em maio um “maior controlo e responsabilização dos agentes promotores do mercado informal de moeda estrangeira” por parte da polícia.

 

A instituição revelou já em julho que está a trabalhar com os bancos comerciais numa “melhor programação na venda de divisas” para “repor de forma gradual, programada, organizada e prudente” as necessidades de todos os setores da economia.

 

O Presidente angolano exigiu ao BNA, no mês passado, que encontre soluções para resolver as dificuldades dos clientes e empresas no acesso a divisas, reconhecendo que no momento atual quem tem dinheiro prefere mantê-lo fora do país.

 

José Eduardo dos Santos explicou que a venda de divisas aos bancos por parte das empresas petrolíferas estrangeiras que operam no país, para obterem moeda nacional para o pagamento das despesas em Angola, são na ordem dos 300 milhões de dólares por mês e não cobrem atualmente as necessidades, como no passado.

 

O chefe de Estado disse que o Governo já recomendou ao BNA que “trate desta matéria com urgência”, em articulação com os bancos comerciais, “para melhor proteger os interesses” de Angola.