Luanda - E assim se viveu a terça- feira de todas as ansiedades, com o véu finalmente destapado a respeito de como seria que o MPLA avançará para os desafios eleitorais de 2017 ! Pronto, já se sabe: a máquina partidária trabalhará com José Eduardo dos Santos na liderança, João Lourenço Vice-Presidente e António Paulo Kassoma como Secretário- Geral.

Fonte: Opais

Depois da maratónica jornada – maratónica não tanto pelo tempo de espera dos resultados, que às 15 horas de ontem estavam a ser divulgados oficialmente, mas pelo nível de curiosidade que estava instalado – já só faltará mesmo definir a dupla para o voto daqui a um ano, esta sim, uma enorme e delicada incógnita que vai ser necessário gerir até ao momento em que deixará de o ser, em obediência a timings que o MPLA resolverá só, e só mesmo, de acordo com a sua estratégia.

 

Com as alterações na cúpula do MPLA, estão lançados os dados para o festival de especulações políticas sempre tão ao gosto dos analistas, os que verdadeiramente se interessam e estudam Angola, e os outros, aqueles que há muito se desentenderam com a contenção verbal e já só conta, para o que vão dizer às televisões e rádios ou escrever nos jornais, a vaidadezinha bacoca de parecer que são profundos conhecedores dos meandros da política em Angola.

 

É em Portugal que têm o palco de eleição, como se sabe… Por cá, o certo é que aconteceram mudanças numa reunião à porta fechada e que foram publicamente comunicadas, no local próprio e sem espaço para alimentar suposições. É assim que está, é assim que está e ponto final! Vai desde já migrar o foco da política doméstica para as movimentações em sede do xadrez governativo, onde é inevitável que se produzam entradas e saídas, quanto mais não seja a substituição de João Lourenço no cargo de ministro da Defesa, uma vez que a força do cargo obrigalo- á (é exigência estatutária) a trabalhar para o partido a tempo inteiro.

 

Mas quem tem presente os ecos do congresso, sobretudo o rol de autocríticas do Presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos, chegará facilmente à conclusão de que mais ajustes estarão a caminho e não apenas o inevitável preencher de vacaturas surgidas em função da reunião de ontem do CC. A paisagem pré-eleitoral é, de todo em todo, distinta de uma conjuntura sem eleições no horizonte temporal imediato.

 

Poder-se-ia supor que aquelas observações do líder do MPLA poderiam não fazer estragos tão cedo se feitas no início de uma legislatura, quiçá a meio também, mas tendo acontecido no momento em que aconteceram, a sua incidência sobre a equipa que governa, qual efeito de osmose, torna-se um imponderável. Em política, a mulher de César é e tem de parecê-lo! Aquilo que o Presidente disse que estava mal, por incompetência dos executantes, por falta de rigor e disciplina, ou por quaisquer outras razões ponderadamente imputáveis, tem de corresponder a atitudes que a sociedade, a massa militante, os eleitores, interpretem como incentivo a um esforço visível de correcção.

 

A não ser assim, o fosso da desconfiança e do desafecto alarga-se e, nas urnas, as consequências podem ser amargas. De resto, José Eduardo dos Santos adiantou-se genialmente aos seus pares – como, de resto, o faz com grande mestria, sempre – ao advogar que já só não basta ter as pessoas, os apoiantes, os amigos, mobilizados em torno do líder, mas que é ainda mais importante tê-los em redor de um programa bom para que ele seja executado com eficácia.

 

Uma profundíssima mudança de paradigma que aproxima mais a acção política daquilo que ela verdadeiramente tem de ser. Como nas grandes democracias, de resto, onde o povo aprende a votar em ideias, em planos que mudam a vida colectiva para melhor, e não tanto unanimismos